Família tradicional mineira e religião como impedimentos para as conquistas LGBT

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
17/08/2016 às 10:02.
Atualizado em 15/11/2021 às 20:24
 (Edson inácio/divulgação)

(Edson inácio/divulgação)

Para um espetáculo que critica a família tradicional e a religião, “Nossa Senhora (do Horto)” pode até ser comparado a uma procissão, já que a ideia é percorrer a extensão da rua Conselheiro Rocha, entre a Praça Dona Dolores e a Rua Oligisto, no bairro da Zona Leste de BH. “Ocupar uma rua é muito rico, pois há uma vida pré-existente e um movimento natural”, afirma o ator David Maurity.

A questão LGBT entra em cena a partir da discussão sobre o que hoje atravanca as conquistas, sem aprovação de projetos de lei e ainda com registros de ataques homofóbicos. “O que nos barra, principalmente em Minas, são essas duas instituições: a família e a religião. As cinco mulheres do espetáculo são uma síntese desse conservadorismo”, adianta.

David alerta que não é necessário levantar ostensivamente a bandeira LGBT em produções artísticas. O caminho indireto também é uma solução eficaz. “Nossos corpos já são políticos. Parte do elenco é gay. O coletivo, por si só, é uma bandeira. O que fazemos é uma crítica social, mas de maneira enviesada”. 

No Espaço 171, uma vez por semana profissionais do cinema e interessados discutem formas de abordar o tema LGBT em seus projetos, principalmente para o cinema. Eles criaram o Neca, primeiro núcleo de pesquisa do Brasil voltado para essa área. O caso de “Simplesmente Marta” é um pouco diferente.

“O espetáculo faz parte de um projeto que o Cleo (Magalhães) começou há dez anos em Barbacena. É um solo, em que a personagem feminina é uma apresentadora em fim de carreira. O que está em discussão é não ser binário, homem ou mulher, podendo ser várias energias”, explica o diretor Henrique Limadre.

O cenário assume a forma de um cabaré, local onde, no passado, todos aqueles que se sentiam “estranhos” no mundo podiam frequentar. Tudo é transmitido ao vivo, como num programa televisivo. O humor está presente, mas de forma nervosa. “O que nos preocupa é a motivação do riso”, frisa Henrique.

Concerto inédito apresenta músicas de temática LGBT

Cantor e idealizador de “Concerto Cancioneiro Queer”, Marcelo Kuna observa que o espetáculo tem um caráter pioneiro, já que Belo Horizonte nunca recebeu uma apresentação que mistura o erudito e o popular cujo repertório fosse voltado para a temática LGBT.

O processo de pesquisa de Marcelo mostrou que essas músicas vêm de épocas muito anteriores à denominação de “transviado”, citando, principalmente, as modinhas de Lino José Nunes, que datam de 1830 e que traziam personagens travestidos.

Há também canções do compositor russo radicado na Inglaterra Mischa Spoliansky, que criou obras consideradas como os primeiros hinos LGBT de que se tem notícia.

“Je ne t’aime pas”, da peça musical Marie Galante (1934), é outro destaque. Ela é de autoria do compositor alemão radicado nos Estados Unidos Kurt Weill, um dos primeiros compositores contemporâneos a abordar temática amorosa lésbica.

A ideia de Marcelo com o concerto é circular por enredos amorosos e de descoberta homossexual e transgênero.

Serviço: “Simplesmente Marta” – Sextas e sábados às 20h; domingos às 19h. No Espaço 171 ( Rua Capitão Bragança, 35). Ingressos: R$ 20 e R$ 10 (meia). “Nossa Senhora (do Horto)” – De 18 a 21 de agosto, quinta a domingo, às 20h. Dias 20 e 21 de agosto, sábado e domingo, às 20h. Início na Praça Dona Dolores, no Horto. “Concerto Cancioneiro Queer” – Dias 25 e 26 de agosto. Sala Juvenal Dias do Palácio das Artes (Av. Afonso Pena, 1537

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