Fazendo jus à tradição, bares permanecem como ponto de encontro na capital

César Augusto Alves
cpaulo@hojeemdia.com.br
05/08/2016 às 19:31.
Atualizado em 15/11/2021 às 20:11
 (Valeria Marques)

(Valeria Marques)

A cada estação, BH ganha um novo bar da moda, com filas enormes e listas de espera. No entanto, ainda há muita tradição e lugares que existem há décadas, com clientes fiéis e funcionários que se tornaram verdadeiros patrimônios de cada estabelecimento. E por isso se tornaram pontos de encontro da boemia mineira.

Famoso por um único prato, o Kaol, o Café Palhares (rua dos Tupinambás, 638) espelha bem esse reduto. De portas abertas desde 1938 (tão abertas que por muito tempo levou a fama de não ter portas), o bar está na segunda administração desde a abertura.

Apesar da fama do prato, o Palhares, assim chamado por seus frequentadores, se tornou um grande ponto de encontro justamente por manter a tradição. Ao longo das oito décadas de existência, o local se apresenta com estrutura simples e com o sorriso sempre sincero de Edson Soares, o Edinho, que lá trabalha há meio século. 

“Manter a simplicidade é o segredo do Palhares. Acho que todo mundo vem aqui pela comida boa, pelas pessoas, e principalmente pela tradição”, diz.

Na década de 70, o Palhares ficou famoso por atrair os apaixonados por futebol. “Aqui tinha um placar de todos os jogos. O pessoal vinha muito por isso, e também porque vendíamos ingressos do Mineirão”, relembra Edson.

Hoje, mantém clientela fixa e fiel. “A maioria dos clientes é fixa. Passou de pai pra filho, de avô pra neto. Tem gente que até muda de Belo Horizonte, mas sempre que vem à cidade passa por aqui pra matar a saudade”, conta. 

Tradicional cantina da cidade, o La Greppia (rua da Bahia, 1196) funciona 24 horas, todos dias da semana

Hora de renovar
O Tip Top (rua Rio de Janeiro, 1770) também resiste ao tempo e hoje trabalha para manter o público fiel e renovar a clientela ao mesmo tempo. Fundado em 1929, o bar serve culinária alemã e a tradicional comida mineira.

O local segue hoje sob a administração das empresárias Cleusa Silva e Ludimila Carneiro. “É a terceira administração de mulheres, até nisso a gente mantém a tradição. O Tip Top foi administrado só por mulheres”, orgulha-se Cleusa. 

A fidelidade dos frequentadores se dá, principalmente, pelo bom relacionamento com os clientes. “Há muitos grupos que frequentam, temos o Clube do Whisky. A comida é boa. Mas o principal são os garçons. Estão lá a vida toda, conhecem os clientes pelo nome. Ele perpetuou pela boa prestação de serviços, o que vem da primeira dona, a Dona Paula. Mantemos essa tradição”, conta a proprietária. O Tip Top foi fundado por uma família que veio da Tchecoslováquia.

“Fazemos um trabalho de fidelizar os garçons. Com isso a gente fideliza os clientes. Nossos clientes hoje são muito tradicionais. São mais de 100 fieis. Hoje reconheço que precisamos evoluir no público, precisamos vender mais para ampliar o espaço, aplicar as reformas que queremos. Nossa busca é renovar, fazer campanhas que atraiam pessoas mais jovens também, agregando à tradição que temos”, revela Cleusa. 

Na Afonso Pena, estabelecimentos resistem ao tempo
Eternizado na música, em livros e na memória da cidade, o Café Nice (av. Afonso Pena, 727) permanece como parada obrigatória no centro da cidade. Por estar localizado em plena Praça Sete, os funcionários não fazem ideia de quantos clientes passam por lá diariamente. O pedido é quase sempre o mesmo: um cafezinho com pão de queijo. Um delicioso pretexto para manter a tradição. Wesley Rodrigues 

Longa data – “A Lina já é patrimônio do Café Nice”, brinca um cliente com a balconista

“Meu pai tomava café aqui, fiz muitos amigos aqui. É um museu vivo da cidade”, conta o economista Antônio Galvão, que começou a frequentar o Nice ainda na década de 70, quando se mudou com a família para a capital. Lina, balconista na casa há 20 anos, é prova viva da tradição do Café Nice. Com sorriso no rosto, se mostra amiga de todo cliente que entra ali. “Só tem gente boa aqui. São todos meus amigos, tenho intimidade. Café com carinho e amor é só aqui no Nice”, brinca, mas falando muito sério, a balconista. 

Rodeada de quadros na parede com publicações na imprensa sobre o local e de fotos com personalidades, como o ex-presidente Juscelino Kubitschek, os funcionários do Nice já se acostumaram com a fama e com a loucura da rotina do Café Nice. “Aqui entra gente demais, não dá pra contabilizar”, conta Lina.

Romance nas alturas
Ali perto, o Top Bar (rua dos Tamoios, 200) está na ativa desde a década de 60. Famoso por atrair casais em busca de um momento reservado, com direito a uma vista panorâmica da cidade, ele localiza-se no 24º andar de um edifício. 

“É um local pitoresco, com decoração antiga e mesas para casal. A vista é deslumbrante. De lá se consegue ver a Igreja São José, o Edifício JK e vários pontos da cidade. A visita vale pelo inusitado”, conta a historiadora Isaura Vaz. 

O Top Bar oferece um ambiente aconchegante e mesas com bancos altos, o que garante a privacidade dos casais que namoram e apreciam a vista noturna da cidade. 

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