Filme de Stephan Streker cria estereótipos ao falar do papel da mulher

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
21/06/2017 às 17:59.
Atualizado em 15/11/2021 às 09:11

A cena é curiosa: um típico casamento paquistanês é feito por skype, com a noiva na França e o futuro marido no país de origem, cercado por familiares. Ambos nunca se viram. O matrimônio é arranjado pelos pais, contrariando a vontade da garota, Zahira, que faz de tudo para escapar da sina.

A tecnologia não é sinônimo de progresso, não tirando uma vírgula sequer de uma secular tradição. É o que podemos extrair de “A Garota Acidental”, filme que estreia hoje nos cinemas. Mas o que chama a atenção não é apenas a situação inferior a que algumas culturas ainda submetem a mulher.

Ao filme do belga Stephan Streker cabe outra leitura: por que se permite que, em países ocidentais, culturas estrangeiras tenham certas liberdades? A pergunta, que pode soar xenófoba, transita pela narrativa em várias cenas, especialmente quando franceses têm a chance de mudar o rumo das coisas.

Embora seja baseado em caso real, a abordagem de Streker é bastante simplista na maneira como exibe franceses como pessoas instruídas e bem-intencionadas e os estrangeiros como espécie de vilões que usufruem dos benefícios de uma país desenvolvido, mas que não abrem mão de suas leis sociais.
Registro que se torna nítido quando o irmão de Zahira é visto numa boate com outro rapaz. Essa sequência parece banal, mas martelará a cabeça do espectador até o final: seria ele homossexual? A trama não dá respostas claras, mas a reação dele nos faz crer que a problemática tem uma bandeira, um país.

Não deixa de ser um desserviço num mundo cada vez mais belicoso, especialmente porque o tema da igualdade de direitos da mulher – apesar de nunca ser demais sublinhar – já ganhou abordagens mais relevantes, como no iraniano “Leila” e no israelense “Kadosh”.

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por