Filme dirigido por Richard LinKlater aborda drama familiar com certo frescor

Paulo Henrique Silva - Hoje em Dia
13/11/2014 às 08:23.
Atualizado em 18/11/2021 às 04:59
 (UNIVERSAL/DIVULGAÇÃO)

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Em seus melhores momentos, o diretor Richard Linklater se apropriou das convenções sociais, especialmente em relação às situações amorosas, para injetar uma certa dose de frescor na maneira de observá-las.   Uma das principais estreias nos cinemas, “Boyhood – Da Infância à Juventude”, seu mais recente filme, chama a atenção não apenas por acompanhar, de forma real, os 12 anos da vida de um garoto (Ellar Coltrane) e sua família.   Num projeto ousado por ser uma ficção (expedientes semelhantes já foram feitos em documentários), Linklater aborda, na verdade, algo muito simples: a vida de uma mãe divorciada numa das regiões mais conservadoras dos EUA.   A partir de uma narrativa naturalista, com pouquíssimas reviravoltas, o filme se concentra na dificuldade da mãe (Patricia Arquette) em se restabelecer após o divórcio e os problemas de relação dos filhos com os padrastos.   Lembra muito aqueles dramas familiares das décadas de 70 e 80, especialmente “Alice Não Mora Mais Aqui” (1974), de Martin Scorsese, e “Quando se Perde a Ilusão” (1984), de Michael Apted, que registram temas semelhantes.   O parentesco com “Alice” está no fato de também cair na estrada, como uma fuga, confrontando-se com os valores morais dos locais por onde passa. “Boyhood” é um road-movie em que a família nunca consegue se distanciar do passado.   IMATURIDADE   Esse pretérito está representado pela figura do pai biológico de Mason (Coltrane), vivido por Ethan Hawke. É pelos olhos do garoto que a narrativa avança. E por isso surge a impressão de estagnação e tentativa de se reconciliar com o passado.   E é, de fato, o que a trama nos entrega: por mais que fujam, cada vez mais ele se torna interessante, fazendo-nos indagar se as razões de separação foram justas ou precipitadas, fruto da imaturidade dos cônjuges. Está aí o frescor do filme.   A princípio, podemos achar que Linklater está caminhando contra o direito da mulher em se desfazer de uma relação malfadada. Na verdade, o realizador quer focar sobre erros que se eternizam, reforçado pelo andar lento da história.   Mason cresce, vai para a faculdade e vira homem, mas aquele incômodo parece nos acompanhar. Ele nunca é explícito, porque “Boyhood” evita ao máximo responsabilizar alguém. Não há nenhum grande fato que leve a isso.   Sempre que o carro parece desgovernar, Linklater pisa no freio. Podemos até dizer que não há sequelas permanentes nos filhos. É mais real, principalmente ao buscar ser cronologicamente correto, usando os mesmos atores em idades diferentes.   No final das contas, os personagens carregam as dores e as alegrias de suas escolhas, vivenciando cada momento. Isso fica claro quando o diretor faz questão de caracterizá-los com referências à cultura da época, tanto nos diálogos como na trilha.

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