FIQ dá início à sua 9ª edição e levanta temas como a questão de gênero e diversidade

Paulo Henrique Silva - Hoje em Dia
11/11/2015 às 07:11.
Atualizado em 17/11/2021 às 02:25
 (FIQ)

(FIQ)

Pode ser a heroína mais forte do universo. Ou uma vilã pronta para destruir o planeta. A verdade é que os invejados superpoderes ajudam pouco na hora de enfrentar um inimigo comum: a sexualização das personagens do mundo dos quadrinhos, que, entre uma ação e outra, precisam ter requisitos como pernas, seios e bumbum bem torneados.

Com a crescente participação de mulheres num setor que era meio um Clube do Bolinha, esse cenário dá sinais de mudanças, como aponta o Festival Internacional dos Quadrinhos, que dá início nesta quarta (11), na Serraria Souza Pinto, à sua nona edição, chamando a atenção para elas. A começar pela coordenação: Ana Koehler é a primeira mulher a compor (no caso, junto a Daniel Werneck) a curadoria de um dos mais importantes festivais do gênero (a coordenação geral é de Afonso Andrade).

“Já há uns anos o festival vem se abrindo à participação feminina. A internet ajudou a dar uma visibilidade maior às autoras, espaço que foi sendo ocupado tanto no Brasil quanto lá fora. O FIQ está sintonizado com esse momento”, registra Ana, que trabalha desde os 16 anos como ilustradora, destacando-se no campo científico.
 
Menos ação

Não é um choque muito grande, mas o traço feminino proporciona uma experiência diferente, segundo a curadora gaúcha. “Está na escolha das temáticas, que são menos ligadas à aventura e ao bangue-bangue, para enveredar por assuntos históricos, familiares, íntimos e autobiográficos. Há aventura também, mas mostrada de um jeito diferente”, avalia.

Um alívio para o público feminino é perceber, nesses desenhos, que uma personagem não precisa ter dotes físicos para ser protagonista de quadrinhos de ação. A exposição “Heroica” trabalha essa questão a partir da reinterpretação de cinco combatentes do universo da DC Comics e da Marvel: Mística, Feiticeira Escarlate, Psylocke, Elektra e Hera Venenosa.

“Com tantos casos de personagens conhecidas dos quadrinhos se reinventando, achamos que seria um momento perfeito para trabalhar a questão da representação feminina. Normalmente, desenhos exploram a sensualidade na estética, quase como um padrão universal”, observa Ariane Rauber, que concebeu a exposição ao lado de Cris Peter.
 
Feminalidade

As reinterpretações ficaram a cargo de Estúdio Seasons, Mariana Cagnin, Priscilla Tramontano, Pri Wi e Laura Athayde. “Quando pedimos para as artistas repensarem as personagens do ponto de vista de uma mulher, a sexualidade deixou de ser o primeiro plano e deu espaço para outros componentes de personalidade”, destaca.

Ariane deu total liberdade na criação. A ideia era que as artistas pudessem repensar personalidade, estética, raça, background e vestimenta, deixando ao menos uma característica que fosse possível identificar a personagem escolhida. “Queríamos que criassem levando em consideração suas crenças de feminilidade e do que significa ser heroína”, explica.

Esse novo perfil ajuda, ainda, a ampliar o público feminino, também em menor número se comparado ao masculino. “A maior parte das meninas deixou de ler porque não encontrava uma linguagem que dialogasse com elas. Mas, hoje, segundo uma pesquisa feita informalmente via Facebook, há 46% de leitoras nos Estados Unidos”, comemora Ana Koehler.

 

9º Festival Internacional de Quadrinhos – De 11 a 15/11, quarta a domingo, das 9 às 22h, na Serraria Souza Pinto. Entrada gratuita

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