Chefs estrangeiros trazem para a capital mineira as delícias da terra natal

Cinthya Oliveira
cioliveira@hojeemdia.com.br
27/05/2016 às 16:19.
Atualizado em 16/11/2021 às 03:37
 (Cristiano Machado)

(Cristiano Machado)

Cidade com bares e restaurantes que servem uma riquíssima gastronomia, Belo Horizonte tem se revelado um bom lar para chefs estrangeiros. Aqui eles encontram um público exigente, acostumado a degustar sabores marcantes, mas que se torna fiel ao encontrar uma comida de alta qualidade. 

O italiano Simone Biondi é um chef que soube conquistar os belo-horizontinos. À frente do Est! Est! Est!, aconchegante espaço no bairro Funcionários, ele mostrou que é possível oferecer um serviço de alta gastronomia com preço acessível.

Nesse restaurante, não só o chef é italiano, como boa parte dos produtos usados na feitura dos pratos. Queijos, farinha, massas, vinhos, embutidos, azeites e outros são importados.

“Isso não quer dizer que os produtos brasileiros não sejam bons, mas nossa intenção é chegar mais próximo possível do que é feito na Itália”, diz Biondi, que foi criado em meio ao restaurante dos pais, localizado na cidade litorânea San Benedetto (região central da Itália). 

Assim como boa parte dos estrangeiros que vivem em Belo Horizonte, Simone se mudou para cá por causa de uma paixão. Em Barcelona, onde morou por sete anos, conheceu uma mineira.

“No primeiro ano na cidade, fiz curso no Senac para aprender a gastronomia mineira. Depois, me convidaram para ser chef no Est! Est! Est!, que tem uma proposta bem próxima ao que eu acredito, de trabalhar a cultura italiana, de ter entradas e pratos principais, uma filosofia de slow food”, diz Biondi, que está à frente da cozinha do restaurante desde a fundação, em dezembro, de 2012, e hoje é sócio do espaço.

Natureza

Claro que tem momentos em que a saudade bate forte e Biondi fica com uma vontade louca de voltar para casa. “Mas a situação econômica na Itália está muito crítica, não vale a pena voltar”, opina.

Belo Horizonte não tem mar, como em San Benedetto ou Barcelona, mas tem belezas que encantam o italiano. “A grande vantagem é que há muita natureza no entorno da cidade. Meu sogro tem uma casa em um condomínio e consigo aproveitar bem essa natureza”. 

Biondi tem um plano, a médio prazo, de abrir um empório com massas e pães produzidos no restaurante. Também sonha com uma filial do Est! Est! Est! em uma cidade litorânea brasileira.

Confira aqui uma receita diferente do chef Simone Biondi para o Timballo, um tradicional prato italiano, com ingredientes simples, como macarrão, molho bechamel e queijo parmesão 

Refugiado apresenta gastronomia síria em feiras e jantares 

Fouad Khalil era um chef bem colocado no mercado gastronômico na Síria. Vivia bem em Alepo, a segunda maior cidade do país, antes com cerca de 5 milhões de habitantes, e uma das cidades mais antigas do mundo. 

Com a chegada da guerra, sua vida foi transformada. Junto com sua esposa, com quem é casado há 13 anos, e seus três filhos, se viu obrigado a fugir do país em que nasceu para se tornar um refugiado.

Contando com a ajuda de uma ONG, foi trazido para Minas Gerais e conseguiu se estabelecer em Betim, na Região Metropolitana de BH. Agora, ele vive um momento de reconstrução da vida, conquistando espaço como chef especializado em comida síria. 

Encontrou a dificuldade de lidar com outra língua e de encontrar trabalhos na área de gastronomia, mas viu seu trabalho ser requisitado em eventos, como a Feira Experimente (realizada em Nova Lima pelas cervejarias artesanais), jantares e festas particulares.

“Antes da guerra, eu tinha uma vida ótima e muito confortável. A guerra me afetou em tudo, mudou minha vida para sempre. Perdi tudo que tinha e estou recomeçando”, afirma o chef de 35 anos. 

 Natalia Alvarenga/divulgação 

FOUAD KHALIL – Quibe recheado é uma das especialidades do chef que viu sua vida transformada pela guerra na Síria

 
Bom e ruim

Questionado sobre os pontos positivos de Minas Gerais, Fouad diz que o acolhimento dado pelas pessoas é a melhor coisa que encontrou aqui. Mas já se deparou com problemas compartilhados por boa parte dos brasileiros. 

“Os pontos negativos são a falta de trabalho na minha área e a falta de acesso à saúde de qualidade. Seria ótimo se Belo Horizonte tivesse um programa específico para acolher e ajudar famílias refugiadas como a minha”, desabafa Fouad. 

Quibe

O chef tem apresentado pratos que os brasileiros apreciam muito, como quibe recheado de carne e sanduíche de pão sírio recheado com frango. “São pratos deliciosos e que trazem uma característica simples, importante e tipicamente árabe: uma mistura rica de temperos”, diz.

O argentino Pizza Sur é um exemplo de sucesso

Um chef estrangeiro que os belo-horizontinos já conhecem bem é Gustavo Román, o homem que trouxe a pizza retangular para a capital mineira e fez de seu Pizza Sur um grande sucesso – tanto que hoje são três endereços na cidade.

Gustavo veio para o Brasil há 16 anos e se mudou para Belo Horizonte há 12, trazendo para cá uma receita de família de massa de pizza. “A minha massa é diferente, uma receita caseira e familiar. Você não vai aprendê-la em uma escola de gastronomia”, afirma o argentino de 48 anos.

Conforme os mineiros foram se adaptando à sua pizza diferente, Román foi introduzindo comida argentina no seu cardápio, se tornando também uma referência na cidade por conta das empanadas. “Outros tentaram vender empanadas, mas não conseguiram sucesso. Parece que é algo fácil de fazer, mas não é. Na gastronomia, nada é fácil”.

Aberto

Román se incomoda com o conservadorismo que ainda existe na sociedade mineira, mas já se sente bem adaptado a Belo Horizonte. Mas sente que, aos poucos, o mineiro vem se abrindo mais para a novidade, especialmente na gastronomia. “Quando cheguei na cidade, eram poucos restaurantes internacionais aqui. Agora o mineiro aprendeu a fugir um pouco do feijão tropeiro”.

 

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