Glauco Mattoso lança primeiro romance em sonetos

Elemara Duarte - Do Hoje em Dia
11/08/2012 às 08:12.
Atualizado em 22/11/2021 às 00:22
 (Claudio Cammarota Aguida Amaral)

(Claudio Cammarota Aguida Amaral)

Glauco Mattoso lança “Raymundo Curupyra, o Caypora” (Tordesilhas), o primeiro romance brasileiro todo em sonetos. Ao ler esta introdução muita gente pode deduzir que o livro deu um trabalho danado para ser escrito. E deu mesmo. Os 200 sonetos – com toda a rima, métrica, inspiração e sabor necessários – foram escritos em dois intensos e “febris” meses. Ufa! Vai encarar? “Sou um cozinheiro. Agora, tem que ver se as pessoas gostam do meu tempero. Tem gente que acha muito apimentado. Mas não me importo com isso”, esclarece o poeta, pelo telefone, de São Paulo, cidade onde vive.

Poeta “marginal”, sonetista de primeira e gay assumido, o artista levou dois intensos e “febris” meses para escrever o romance, onde trata de temas como a vida urbana, as drogas, os amores e desamores, incluindo também visões literárias sobrenaturais. Raymundo, o personagem, é um azarado que vive se metendo em enormes furadas. Ao seu lado, está Craque, que tenta diminuir o peso dos problemas. Além disso, Raymundo usa um poeta cego como escravo sexual. A propósito: “Glauco” é derivação de glaucoma, nome que o poeta adota por conta da doença congênita que carrega. “Fiquei cego depois dos 40 anos”.

Raymundo é um “marginal urbano”, nome comum no país. Já “Caypora” vem do mito indígena protetor das árvores e dos animais, que costuma punir os agressores da natureza e o caçador que mate por prazer. Seus pés são voltados para trás, o que serve para despistar os caçadores, deixando-os sempre a seguir rastros falsos. A fixação do poeta pelos pés aparece aqui. Ele que em 1986 lançou “O Manual do Podólatra Amador”, um romance autobiográfico.

MESMICE

“Não é das leituras mais fáceis para o público de ficção”, admite Glauco. Para o autor, de 61 anos e mais de 5.500 sonetos já escritos, a narrativa do livro é um furo no bloqueio da mesmice. “Se eu me considero um cara diferente, tenho que furar o bloqueio”. Sua opção pelos sonetos não é apenas para brincar com a forma. “Gostava de respeitar o soneto clássico”. Porém, debandar para o estilo do soneto clássico ou modernista não era a praia de Glauco. “Era muito underground para me aventurar nisso”.

Hoje, para ler, Glauco usa um programa de computador com nome de certo modo até poético: “Dos Vox”. Ou recorre a seu companheiro de há 10 anos, Akira, que lê para ele.

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