Grace Passô traz o premiado espetáculo 'Vaga Carne' a BH

Vanessa Perroni
vperroni@hojeemdia.com.br
05/04/2017 às 11:28.
Atualizado em 15/11/2021 às 14:01

A palavra é a principal via de acesso da atriz, diretora e dramaturga mineira Grace Passô ao público na peça “Vaga Carne”. Fruto de um texto escrito há três anos pela artista, que por ele recebeu um prêmio Shell, o espetáculo aborda o risco de interpretações equivocadas quando se lida com imagens preconcebidas. A montagem estreia hoje em Belo Horizonte, após rodar por outras capitais.

No palco, Grace propõe um jogo entre palavra e movimento. O personagem principal é uma voz que tenta desesperadamente nomear e criar significados para tudo que ela habita no mundo. 

Um dos corpos que a voz ocupa é o da atriz em cena, até então inerte. “A voz tenta dar nomes para a imagem desse corpo. Nesse caminho, ela erra e acerta, assim como é a nossa vida, nossa sociedade; uma tentativa de superar o estereótipo”, diz Grace.

Ao tomar o corpo, a voz se vê imersa em uma história de contradições. Questões como “o que passa pela sua cabeça?” e “quais os seus desejos, suas angústias, e o que elas representam?” movem o espetáculo, que estabelece uma relação direta com o público.

Tudo é dito para a plateia. “A peça faz perguntas, levanta questionamentos, mas que não serão concluídos em cena. São jogados para quem assiste”, comenta.

Urgências
O que Grace investiga é o que resulta no estereótipo. O ato de olhar, julgar e responder de imediato ao que não se conhece. 

“O teatro é uma experiência coletiva. Nessa peça não há conclusão. São sondagens que jogo para o público. Um texto que causa estranhamentos e deve ter desdobramento em outros trabalhos, inclusive um livro ainda este ano”

 Uma vez que ocupa o corpo da atriz, a voz levanta questões de identidade, racismo, homofobia, machismo e a forma como o ser humano enxerga o outro. Tudo isso sem tornar pontos como esses temas dentro do espetáculo ou mesmo mencioná-los – apenas os sonda em uma “tempestade poética”, como nomeia. 

“É um trabalho que fala de um sintoma do nosso tempo, vozes plurais e o desejo de transformar esses discursos em ação”, compara.

Nesse meio, o corpo vivencia a urgência de discurso, a procura de identidades e o pertencimento. 

Parcerias
Para separar voz e corpo, Grace cria uma desconexão entre gesto e fala em cena. Isso é resultado do encontro dela com artistas de diferentes cantos do país, como Nadja Naira (iluminadora e atriz curitibana), Kenia Dias (professora e bailarina residente em São Paulo) e Ricardo Alves Jr. (cineasta e diretor de teatro de Belo Horizonte), que assinam a criação do solo ao lado de Grace, além de Nina Bittencourt, socióloga e produtora do trabalho. 

O sucesso da temporada em outros estados parece se repetir na capital mineira. Os ingressos esgotaram em pouco tempo e, por isso, foram abertas duas sessões extras. “É muito bom estrear em casa. É essencial, na verdade, afinal de contas meu repertório de linguagem enquanto artista foi feito com trabalhos daqui”, destaca Grace, uma das fundadoras do grupo Espanca!.

Serviço:

Peça “Vaga Carne”, no Sesc Palladium (rua Rio de Janeiro, 1.046). De hoje a sábado, às 21h (duas sessões extras: 7/4, às 19h, e 8/4, às 18h). R$ 20 e R$ 10 (meia)

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