Grupo Primeiro Ato chama para dançar nas praças de BH

Elemara Duarte - Hoje em Dia
27/01/2016 às 07:05.
Atualizado em 16/11/2021 às 01:11
 (Lucas Prates)

(Lucas Prates)

O Primeiro Ato abre “Passagem” e lhe convida para dançar no meio da rua. O grupo de dança apresentará o novo espetáculo na Funarte e nas praças Sete e da Estação entre esta quarta (27) e sexta-feira (29). No sábado, os artistas estarão em Ouro Branco.

O espetáculo surgiu “para amenizar um pouco o furor das ruas e dos corações”, justifica a diretora artística do grupo, Suely Machado. Então, se estiver por lá, leitor, tire os fones de ouvido, guarde o celular por alguns instantes e levante a cabeça para ver o que a arte vai lhe oferecer.

A ideia veio do coreógrafo e bailarino do grupo, Alex Dias. “Ele ia da Funarte até a Barroca a pé. Trocava pouco o olhar com as pessoas. Elas estavam de olho no celular ou para o rumo no qual estavam caminhando. Mas que qualidade tinha este caminhar?”, questiona Suely.

Não é difícil. E a primeira atitude precisa ser tomada. Você já notou a delicadeza das mãos da moça ao seu lado ou quão longos são os cílios no belo olhar do rapaz que aguarda o sinal de trânsito abrir? Um sorriso, mesmo que discreto, a eles. Por que, não?
 
Convite necessário
 

Os nove bailarinos em cena vão lhe convidar a observar. “Um simples olhar: ali tem uma pessoa como você com sensações, tristezas e alegrias”, destaca Suely. Neste século, ela acrescenta, caminhamos “focados no destino”. “E sempre com um objetivo muito claro e com a sensação de estar atrasado”.

“A tecnologia é bem-vinda, mas temos que agir criticamente. Senão, passamos a seguir tendências e não ter estilo”, complementa.

Mas e o agora? O já? “A vida é passagem. Que a gente possa fazê-la com qualidade. Que a gente possa fazer do caminhar uma maneira de se instruir, se informar e conhecer a si mesmos”, deseja a diretora artística.

Nessa terça (26), na sede do Primeiro Ato, na Cidade Jardim, os bailarinos abriram os últimos ensaios. Ao som de “As Quatro Estações”, de Vivaldi, eles passeavam pelo tablado como desconhecidos e cumpriam a “corte” da fraternidade. Um olhar, uma aproximação e em vez de chamar para uma prosa, eles se convidavam para dançar – o que não deixa de ser uma rica interlocução.
 
Que vontade de entrar ali e dançar também, sem regras mesmo. Parece possível a qualquer um. Imagine que delícia isso? Você encontra alguém na rua e a chama para dançar.

Depois que Fred Astaire cantou e dançou sob a chuva, tudo é possível. O Primeiro Ato fará algo parecido, com a dança contemporânea que consagra o grupo desde 1982. Parafraseando o hit “frenético” dos anos 70: “Dance bem. Dance mal”. Dance – e conviva – sem parar!
 

 

PUPILO E MESTRA - Carlos Antônio e Marcela Rosa no ritmo do coleguismo


Ex-aluno e professora dividem a cena e as experiências em “Passagem”

Por trás dos corpos bem definidos e do fôlego quase inesgotável de dois bailarinos do Primeiro Ato escondem-se 27 anos de diferença. Mas durante a apresentação de “Passagem”, quem conseguiria deduzir este longo espaço de tempo entre ambos? Difícil. É que os talentos da experiente bailarina Marcela Rosa, de 48 anos, e do bailarino Carlos Antônio, de 21, parece que falam mais alto.

“Existem alguns momentos de conflito de gerações, mas também tem o acréscimo de experiências e a união, que são muito saudáveis. É uma filosofia da Suely (Machado). Unir diferenças de gerações e de jeitos de ser. Afinal, a gente tem coisas a acrescentar para eles. Alguns jovens ouvem bastante, outros, menos. Este (Carlos), especialmente, ouve muito e pergunta muito. Isso nos alimenta”, diz Marcela.
 
“Mas você tem idade para ser mãe dele!”, aponta outro colega. “É isso! Tenho um filho de 19 anos em casa”, diz, sorrindo. Por sua vez, Marcela diz que os bailarinos mais jovens acrescentam aos mais experientes com a energia e, claro, a juventude. “É o olhar aguçado, curioso, que a gente não pode perder”.
 
Marcela começou no grupo aos 18 anos como aluna de dança moderna. Em 1988, entrou para o profissional. “E ele nem sonhava em nascer”, brincou o mesmo colega. “Mas, às vezes, a gente esquece destas diferenças. Nos misturamos tanto e é tão bonito, que a gente não sabe mais ver as diferenças. Em um momento eu tenho 7 anos, em outro, ele tem 200. A dança muda o significado desta idade cronológica”.
 
Carlos Antônio brinca que começou a dançar “desde que nasceu”. “Não sei bem a idade certa, mas em capoeira, comecei aos 5 anos”. No Primeiro Ato, ele está desde os 16 anos. Ou seja, o jovem bailarino certamente é um integrante da geração tecnológica apontada pela peça que estreia nesta quarta-feira (27).
 
“Eu vejo esta necessidade de interagir como um desafio”, admite. Carlos diz que foi alertado e começou a sentir falta de olhar para o lado, por meio do processo de criação na peça. “É um trabalho que demanda tempo e uma entrega. Mas a tecnologia tira um pouco disso”. Marcela concorda que a dança precisa de tempo. “É o dia após dia. Não é automático. E nunca um movimento é igual ao outro”.
 
E o que o Carlos aprendeu com a Marcela? “É a minha mestra. Minha primeira professora de contemporânea (dança). Confesso que fugi um pouco dela...” Mas por quê? “É exatamente por isso: a minha geração tem uma necessidade imediata de conseguir um resultado e na dança isso não existe, o que nos frustra e nos deixa desanimados”.

Mas assim que Carlos Antônio enxergou a necessidade e a importância de aplicar esta perseverança na arte, ele abriu mão de tanta urgência. “Agora, colegas!”, sacramenta Marcela.

Além de Marcela e Carlos, a peça traz os "intérpretes e co-criadores": Ana Virgínia Guimarães, Danny Maia, Lucas Resende, Marcella Gozzi, Pablo Ramon e Vanessa Liga.

SERVIÇO

Nesta quarta (27), na Funarte (rua Januária, 68), às 17h; nesta quinta (28), na Praça Sete; na sexta, na Praça da Estação; e, no sábado, em Ouro Branco. Nos demais locais, os bailarinos vão interagir por meio de uma contradança contemporânea a partir das 18h.


Acompanhe o ensaio... "Do you wanna dance"?
 

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