Grupos secretos na web ajudam a tirar dúvidas e a empoderar as mulheres

Thais Oliveira
taoliveira@hojeemdia.com.br
06/05/2016 às 18:51.
Atualizado em 16/11/2021 às 03:18
 (Cristiano Machado)

(Cristiano Machado)

Certo dia, a arquiteta Bebel Soares não soube o que fazer diante de uma birra de seu filho Felipe, então com dois anos de idade. Ela acabou escrevendo um post no Facebook sobre o ocorrido e recebeu uma enxurrada de comentários de outras mulheres que já haviam passado pela mesma situação. Nascia aí o Padecendo no Paraíso, um dos grupos secretos de mães que vêm se proliferando na web. São espaços virtuais nos quais apenas mulheres que geraram filhos são bem-vindas. Por lá, os assuntos variam, mas todos, de alguma forma, circundam o universo da maternidade. Além de trocar experiências e conselhos, alguns oferecem serviços, promovem trocas de objetos usados e programam encontros temáticos.

O Padecendo no Paraíso cresceu muito desde que foi criado, em 2011. Promove eventos, workshops e debates, tem site oficial e está em quase todas as redes sociais. Embrião do projeto, o grupo secreto no Facebook continua existindo, com cerca de 6.200 mães e uma fila de espera com outras 1.800 pretendentes. “Buscamos promover o empoderamento, a sororidade e a união entre as mulheres. Falamos sobre tudo, desde vacinas e cólicas dos bebês à violência contra mulher e a importância da autoestima”, explica Bebel. 

Na última quarta-feira, por exemplo, o grupo promoveu a terceira edição do evento “Embelezando no Paraíso”. As mães que participaram receberam tratamento de beleza, desfilaram num tapete vermelho e foram clicadas por fotógrafo profissional, tudo com muita descontração e brindes de espumante. O Padê, como é chamado pelas integrantes, também tem sua própria charanga no Carnaval, faz sessões fechadas de cinema, programa viagens e festas no Dia das Crianças, e por aí vai.Bruna Tassis/Reprodução Facebook / N/ACHARANGA – Quando o Carnaval se aproxima, as padecentes realizam encontros para ensaiar a batucada; o bloquinho do grupo é um dos mais animados da folia na capital

O grupo secreto recebe, no mínimo, 100 novos posts por dia, fora os inúmeros comentários na página. Por meio deles, Bebel diz que perdeu a conta de quantas mães foram ajudadas, incluindo ela própria. “Chorei com um post (nesta semana), pois a pessoa teve a liberdade de contar o que estava passando. Passei a ter mais empatia, a me colocar no lugar do outro”.

Regras

Para participar, é preciso ser indicada por outra “padecente” (como as participantes são conhecidas) ou participar de eventos do projeto, além de fazer o cartão “padê”, que dá acesso ao Clube do Desconto do grupo. Passado pelo crivo, ao entrar, a mãe deve tomar nota de uma série de regras a serem respeitadas. 

Servidora Pública administra grupo no Facebook com mais de 1.000 mães 

A servidora pública Ana Flávia Quites Ponciano não poderia imaginar que uma conversa no Facebook resultaria num grupo secreto composto, atualmente, por mais de 1.000 mães. Há cerca de 5 anos, quando seu filho Arthur nasceu, ela vivia “trocando figurinhas” com a amiga Gisele Castro pelas redes sociais. As duas começaram a participar de grupos sobre maternidade na web e, a partir disso, acabaram criando um espaço próprio, o Mães de Primeira Viagem. “O objetivo é trocar experiências e dar apoio a outras mães. Este apoio vai desde dicas e conversas a respeito da amamentação à retomada (ou não) do trabalho”, exemplifica Ana Flávia.

Assim como o Padecendo no Paraíso, só são aceitas mulheres indicadas por outras participantes e que já engravidaram. Mesmo assim, depois de indicado, o perfil é analisado por uma das oito moderadoras do grupo, afim de certificar de que é verdadeiro.

A maioria das participantes são brasileiras, mas a servidora conta que há também, por exemplo, americanas e italianas. “O que é conversado no grupo, fica lá dentro. É como uma irmandade. Se precisar de algo, você vai achar apoio. A solidariedade lá é real”, destaca a servidora.

A união costuma ser tão gostosa que Ana Flávia confessa ansiar em aceitar novas participantes. “O envolvimento é muito interessante. Fico até ansiosa para uma amiga minha, que não tem filho, engravidar, só para entrar no grupo”, diz, entre risos.

“Com o grupo, aprendi a lidar com diferentes visões. Tinha um ideal de criação dos filhos antes e, hoje, vivencio as experiências de outras mães e, às vezes, até mudo meu posicionamento”, Ana Flávia Quites, criadora do grupo secreto Mães de Primeira Viagem

Apesar do clima amistoso, às vezes, surge uns embates. Em vista disso, para manter a “boa convivência”, as fundadoras estabeleceram algumas regras. Uma delas é ter bom senso na hora de discutir assuntos polêmicos como o tipo de parto e a questão da amamentação exclusiva. “Pode falar, mas, se o comentário for ofensivo, a participante leva um ‘puxão de orelha’ e, dependendo, pode até ser excluída”, destaca. Promoção pessoal, como vendas de produtos, também não é permitida. Para isso, foi criado um grupo próprio só para compras e trocas. De acordo com Ana Flávia, não há o intuito de promover ações paralelas ao grupo. “Já fizemos alguns encontros, piqueniques. O grupo cresceu muito no susto; era para ser uma coisa pequena. É para ser somente um apoio, como uma conversa com a vizinha”. 

 Wesley Rodrigues / N/A
VIDA DE MÃE – Enquanto brinca com os filhos, Alice e Arthur, Ana Flávia interage no grupo Mães de Primeira Viagem 

Outras iniciativas

No Facebook, é possível encontrar ainda grupos como o Mães 2V, que é fechado e existe apenas para promover o empréstimo de quaisquer produtos úteis às “mommys”. Já o grupo Mães Pequeninhos e o For Mãe são secretos e abordam assuntos gerais ligados à maternidade. 

Blogueira alerta para os perigos de entrar em grupos virtuais

A blogueira do Mamães Vaidosas, Edi Fortes, há cerca de 6 anos arrebanha milhares de seguidoras. A maioria, claro, é de mães ávidas por informações para a criação dos filhos. Contudo, foi há apenas 6 meses que ela resolveu fundar o grupo Mães Que Sabem. O espaço é fechado e funciona dentro do Facebook. Logo de cara, tem uma mensagem que adverte: “espaço criado com intuito de interação e relacionamento entre mamães. Sendo assim, solicito a gentileza de não o usarem como ferramenta para divulgação de blogs, sorteios ou afins (sic)”.

Hoje, são mais de 1.600 mães participantes, fora as cerca de 500 solicitações ainda não avaliadas por Edi. Mesmo fazendo uma peneira para ver quem pode ou não entrar, a blogueira afirma já ter excluído do grupo centenas de mulheres. “Tem mãe que não tem educação, fala ‘abobrinha’, usa palavras de baixo calão. Nestes casos, deleto o post e bloqueio o perfil do usuário. Infelizmente, há quem entre para sacanear as outras mulheres”, diz.

Apesar dos contras, Edi afiança que o trabalho tem sido satisfatório, pois muitas mães já foram ajudadas por meio do espaço. Um caso, contudo, ficou gravado na memória. “Teve uma mulher que estava prestes a abandonar o filho e um familiar dela pediu ajuda para mim. Incluí a moça no grupo e conseguimos reverter a situação. Foi emocionante. Não tem dinheiro no mundo que pague isso que conseguimos fazer”, relata. 

Alerta

Mas Edi alerta que, nem sempre os grupos são confiáveis. Segundo ela, é prudente que as mães busquem mais informações sobre aquele espaço. “Já teve muitos casos de pervertidos, do Brasil e de fora, que tentaram entrar no grupo. Eles podem entrar para ver foto de mãe amamentando, por exemplo. Costumo fazer uma varredura mesmo para não ter esse risco”. Flávio Tavares / N/AINTERAÇÃO – Responsável pelo grupo Mães Que Sabem, Edi Fortes se diverte com os filhos, Eduardo e Emmie

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