Guanduo: dupla de violonistas aposta em repertório inédito

Patrícia Cassese - Hoje em Dia
06/10/2015 às 08:10.
Atualizado em 17/11/2021 às 01:57
 (Élcio Paraíso/divulgação)

(Élcio Paraíso/divulgação)

Os rapazes da foto acima são jovens. Muito jovens, na verdade: Eduardo Pinheiro, o da esquerda, tem 25. Juliano Câmara, 26 (pelo menos até o próximo sábado, 10). Mas o mais bacana é que, a despeito da pouca idade, os dois já contabilizam mais de duas décadas de uma amizade que se espraiou também pela vida profissional, com direito a prêmios e elogios. Nesta terça (6), às 20h30, por exemplo, eles sobem ao palco da Fundação de Educação Artística, no bojo do Prêmio BDMG de Música Instrumental arrebanhado por um dos projetos aos quais se dedicam, o Guanduo.

Detalhe: o duo entrou em cena apenas no ano passado. E não, que ninguém procure explicações para o nome. “Não significa nada, escolhemos pela sonoridade”, explica o simpático Juliano, em meio a um dos ensaios para a noite desta terça, na qual convidam três nomes: o baterista bamba Marcio Bahia e os violonistas Lucas Telles (7 cordas) e Aulus Rodrigues (6 cordas).

“Inventos”

O repertório dá primazia ao recém-lançado CD “Inventos”, de inéditas. Mas sim, como o disco foi gravado por um duo de violões, a entrada de Marcio Bahia nesta história (no show) reconfigura tudo.

Antes de seguir em frente, vale um repasse da história dos dois. Eduardo nasceu em BH, mas foi para Tiradentes com quatro anos – quando conheceu Juliano, que nasceu lá. Os dois descobriram a paixão pelo violão ainda na pré-adolescência – embora Juliano sempre tenha tido a influência do pai, o músico Joaquim Santos.

Mas se a cidade histórica deu o pontapé para a amizade, a vida tratou de separar os dois – ao menos geograficamente. Juliano foi morar no Maranhão e, mais tarde, no Rio de Janeiro. Eduardo voltou para BH. As férias em Tiradentes, porém, tratavam de reabastecer os laços profissionais que resultaram também no projeto Violões de Tiradentes, que, surgido em 2009, segue rendendo frutos.

O violão é o foco do duo, que se inspira em formações similares, como Duo Assad, Brasil Guitar Duo ou o Siqueira Lima. "A gente sempre ouviu muito esses caras, e a ideia era buscar esse tipo de sonoridade que mistura popular e erudito - e sempre buscando repertório autoral. O disco ("Inventos") tem só duas músicas que não são nossas, uma do meu pai, e uma do Ian Guest, que é uma grande referência para a gente".

No restante do repertório, duas composições são compartilhadas pelos dois: "Infância" e "Suíte Compartilhada". As demais, foram compostas ora por um, ora por outro. "Não pensamos em um conceito (para montar o repertório), mas as composições acabam tendo a nossa identidade, por tocarmos junto e termos trajetórias similares: começamos estudando clássico e migramos para o popular, com direito a todo aquele processo, de tirar arranjo de ouvido etc". Juliano lembra que os dois trouxeram, para suas composições, muitas referências. Eduardo, por exemplo, compôs "Miltoniana", inspirado em Milton Nascimento, que também é uma influência para Juliano. Ele, por sua vez, compôs uma música inspirado em Erie Satie.

"Você perguntou sobre conceito, na verdade, isso acaba sendo uma espécie de fio condutor. O disco se chama 'Inventos', a gente se posiciona como inventor de sons, e o inventor é sempre um experimentador, alguém que busca coisas novas. As referências estão ali, mas a gente tenta criar coisas novas, mesmo sabendo que tudo o que está usando está aí, no Brasil, na música universal. .

No repertório da apresentação, o Guanduo interpreta duas músicas autorais vencedoras do prêmio, Orixá da sobrevivência e Suíte compartilhada, que integram o repertório do disco. Eduardo Pinheiro e Juliano Câmara também apresentam o melhor arranjo da 15ª edição da premiação, Lamento sertanejo, de Gilberto Gil e Dominguinhos. Criado em 1999, o Prêmio BDMG Instrumental já consagrou 56 músicos mineiros, de nascimento ou residentes no estado. A premiação destaca os quatro melhores compositores e arranjadores do cenário atual da música instrumental em Minas Gerais.

Conheça mais sobre o Guanduo

Eduardo Pinheiro e Juliano Câmara são coordenadores, arranjadores e intérpretes do projeto Violões de Tiradentes. Na carreira solo do belo-horizontino Eduardo, constam premiações no Jovem Músico e Jovem Instrumentista BDMG, e seleção para a edição 2015 do programa Segunda Musical da Assembleia Legislativa de Minas Gerais. Bacharel em violão pela Escola de Música da UFMG, Eduardo fez aulas com Fernando Araújo, Ian Guest, Lucas Telles e Marcello Gonçalves, além de masterclasses com Marc Teicholz, Johan Fostier, Álvaro Perri, Uakti, Hamilton de Holanda, entre outros.

 

Juliano é bacharel em violão pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Unirio), sob orientação de Maria Haro e Nicolas de Souza Barros. O violonista teve aulas com Maurício Carrilho, Rogério Caetano, Caio Márcio e Pedro Araújo. Atualmente, estuda com Marcello Gonçalves e cursa mestrado em práticas interpretativas na UFRJ. Juliano também integra o Ayran Nicodemo Trio e foi segundo colocado na categoria de violão popular no concurso do Conservatório Villa-Lobos, em São Paulo, e recebeu menção honrosa no 8º concurso da Av-Rio.
 

Guanduo – Nesta terça, às 20h30, na FEA (rua Gonçalves Dias, 320, Funcionários). Entrada franca.

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