Imagens do passado de BH têm muito a revelar; livro mostra contradições em cinejornais

Paulo Henrique Silva (*) / Enviado Especial
phenrique@hojeemdia.com.br
18/06/2018 às 06:00.
Atualizado em 10/11/2021 às 00:47
 (Beto Staino/CineOP/Divulgação)

(Beto Staino/CineOP/Divulgação)

OURO PRETO – Na metade do século passado, Belo Horizonte vivia uma grande crise hídrica, em que faltava água em vários pontos da capital. O déficit era superior a 20 milhões de litros por dia e uma imagem muito comum na época era a de moradores formando filas, com balde à mão, diante de um caminhão-pipa.

Quando o prefeito Américo Giannetti assumiu, em 1951, criou um plano de urbanização, incluindo a reestruturação da rede sanitária da cidade. No cinejornal “Belo Horizonte Vence a Batalha da Água”, produzido pela própria prefeitura, um problema de vários anos parecia ter chegado ao seu desfecho.

“O discurso era de que a crise hídrica estava solucionada, assim como estávamos protegidos contra enchentes e catástrofes. Algo que, hoje, a gente sabe muito bem, não foi resolvido à época”, destaca Siomara Faria, coordenadora do Museu da Imagem e do Som (MIS), onde estão depositadas centenas desses cinejornais.

Perspectiva

A contradição entre o discurso dos governantes e a realidade histórica é o ponto de partida do livro “História em Movimento: Os Cinejornais em Minas Gerais”, lançado durante a Mostra de Cinema de Ouro Preto, cuja programação se encerra hoje na cidade histórica.

“Revistamos a história dos cinejornais a partir de uma perspectiva crítica. O que fazemos é, em certa medida, confrontar o que está nas imagens e no discurso narrativo, entendendo que elas foram usadas como propaganda, para difundir um projeto de cidade que, muitas vezes, fracassou”, observa Siomara.

Documentos importantes de um período em que a TV ainda engatinhava, os cinejornais eram como uma espécie de “Jornal Nacional” para a população, um dos poucos meios de acesso à informação. “Apesar de produzidos pelo Estado e pela prefeitura, eles não tratavam apenas de política”.

O livro foi organizado por Isabel Cristina Felipe Berigo, técnica de patrimônio e conservadora do MIS, e contou com o auxílio de profissionais do Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte e do Arquivo Público Mineiro, que reúnem as imagens produzidas no âmbito da esfera pública no Estado.

“O trabalho de pesquisa é inerente ao trabalho de conservação, difundindo este acervo seja por meio de publicações, mostras ou seminários. O livro faz parte de um intuito maior de difusão e divulgação dos acervos”, coloca Siomara, à frente da coordenação do MIS há dois anos.

(*) Repórter viajou a Ouro Preto a convite da organização da CineOP

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