Importantes filmes sobre a difícil vida de operários são reunidos em DVD

Paulo Henrique Silva - Hoje em Dia
10/11/2014 às 08:05.
Atualizado em 18/11/2021 às 04:57
 (IMS/DIVULGAÇÃO)

(IMS/DIVULGAÇÃO)

Dois importantes documentários que abordam o movimento operário no Brasil, resultantes de um mesmo projeto concebido corajosamente na época da ditadura militar, no final dos anos 70, provocam hoje um impacto muito diferente em relação à época em que foram lançados.   Reunidos em DVD pelo selo do Instituto Moreira Salles, “Libertários” e “Chapeleiros”, assinados por dois diretores de fotografia (Lauro Escorel e Adrian Cooper, respectivamente), foram produzidos dentro da Universidade de Campinas (Unicamp), mas têm propostas narrativas muito distintas.   O de Escorel é um documentário de pesquisa, com narração em off do ator Othon Bastos que, com a premissa de registrar o início da industrialização de São Paulo, na verdade enfoca a luta dos operários por melhores condições, liderada por anarquistas do início do século passado.    Exibido ainda nos tempos da censura, o filme virou uma espécie de bandeira da resistência e foi muito disputado entre os cineclubes espalhados pelo país, servindo para reforçar a militância. Seu formato clássico, porém, calcado em imagens de arquivo, acabou deixando a obra um pouco datada.   OBSERVACIONAL   Já “Chapeleiros” não teve o mesmo tipo de recepção calorosa, justamente por não seguir a cartilha do documentário político da época, que acentuava suas posições a favor do povo. Inglês com pouco tempo de Brasil (veio em 1975), Cooper recorre ao seu olhar vinculado às artes plásticas, sua primeira escola.   Opção que o leva a explorar mais o conflito dos corpos com aquelas máquinas barulhentas e impessoais. Não há qualquer diálogo ou narração. O filme se basta em sua observação sobre o cotidiano de uma fábrica de chapéus no interior de São Paulo. Hoje é a via mais celebrada pelos documentaristas.   É por isso que suas imagens ainda são tão fortes, vencendo o tempo para trabalhar um questão atemporal em torno da luta de classes. O corpo quase nu e suado dos operários ao lidarem com o vapor constante das máquinas é muito eloquente sobre uma relação, no mínimo, angustiante entre patrões e empregados.   Os donos nunca aparecem – ausência simbólica desse regime de exploração, estampada numa placa que avisa os funcionários para só saírem de seus postos quando soar o sinal. Há cenas fortes, como aquelas em que eles descansam nas próprias máquinas ou quando esquentam suas marmitas nelas.

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