Jodorowsky traça autobiografia surrealista em ‘Poesia Sem Fim’

Lucas Buzatti
18/07/2017 às 17:26.
Atualizado em 15/11/2021 às 09:37
 (Divulgação)

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O que há de mais surreal senão a própria existência? Pelos caminhos da realidade, Alejandro Jodorowsky brinca com o absurdo e celebra o onírico em sua trajetória. Afinal, o mágico também pode ser verídico. E assim, com maestria, o multiartista chileno imprime assinatura surrealista e latino-americana ao contar, em capítulos, a sua história. 

Tem sido assim desde “A Dança da Realidade” (2013), que marcou o retorno de Jodorowsky ao cinema após 23 anos e iniciou uma série de cinco longas autobiográficos que ele pretende lançar. O segundo deles, “Poesia Sem Fim”, que entra em cartaz nesta quinta-feira (20), no Cine Belas Artes, recorta o encontro do então adolescente com a poesia e sua posterior decisão de viver de arte, mesmo a contragosto do pai. 

Ao topar um bêbado na rua, o jovem Alejandro (Jeremias Herskovits) escuta uma enigmática frase que se repete por todo o filme. “Não se preocupe. Uma virgem nua iluminará seu caminho com uma borboleta que queima”, preconiza o louco, enquanto o próprio Jodorowsky (que por vezes aparece como uma espécie de autoconsciência) ajuda seu eu adolescente a absorver a sentença delirante. A partir dali, ele vê na poesia a tal “virgem nua” e passa a confiar em seu potencial artístico. 

A desaprovação do pai (Jaime, interpretado pelo filho do cineasta, Brontis) é um ponto central da trama, que se desenrola de forma emocionante na sequência final. Não só na tela, diga-se, já que o cineasta declarou que só conseguiu perdoar os desmandos do pai depois de lançar este longa, aos 88 anos.

A sensibilidade exacerbada, alvo da ira paterna (“Maricón!”, grita o progenitor), é exatamente o que liga o personagem, já maduro, a seus pares da arte. O artista (agora vivido pelo outro filho, Adan) conecta-se a inspiradores parceiros, da poetisa punk Stella Díaz (vivida por Pamela Flores, que também interpreta a mãe do protagonista, Sara) ao poeta e crítico Enrique Lihn (Leandro Taub). 

Numa fantasiosa casa de artistas, Alejandro (“Poeta!”, saúdam os colegas) descobre um lar profícuo, mas temporário, já que seus planos mudam quando o direitista Carlos Ibáñez retoma o poder no Chile. Imerso num carnaval de rua, ao som da cumbia, Alejandro confronta seus demônios e decide ir para a França alçar outros voos – que devem ser contados no próximo filme. 

Recheado de elementos devaneantes que entortam a linearidade, “Poesia Sem Fim” é mais que um filme surrealista. Trata-se de uma obra poética que dialoga com qualquer um que já se libertou de amarras sociais para perseguir ideologias e objetivos pessoais. Por fim, fica a valiosa dica de Jodorowsky: para alcançar o “impossível”, basta “vender o Diabo para a alma”. 

Serviço: Pré-estreia de “Poesia Sem Fim”. Quinta-feira (20), às 19h e às 21h30, no Cine Belas Artes (rua Gonçalves Dias, 1.581– Lourdes). Ingressos: R$ 18 (inteira) e R$ 9 (meia).

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