Jornalista Ana Maria Bahiana passa em revista fatos marcantes do emblemático ano de 1964

Hoje em Dia
01/04/2014 às 07:25.
Atualizado em 18/11/2021 às 01:52
 (Divulgação)

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Pedro Artur - Hoje em Dia

Se 1968 foi o ano que não acabou, 1964 durou 21 anos para o Brasil, com o golpe civil-militar. Há também a Guerra Fria, pós revolução em Cuba, e a intensificação da Guerra do Vietnã, e uma juventude que usou a música para extravasar os sentimentos de rebeldia, com Beatles, Bob Dylan e Rolling Stones, lá fora, e, aqui, Chico, Caetano e Gil, entre tantos. Além disso, a forte presença do pastor negro Martin Luther King que, em outubro daquele ano, receberia o prêmio Nobel da Paz pelo combate à desigualdade racial pela não violência, após o discurso “Eu tenho um sonho...” proferido um ano antes.

Tudo isso e muito mais está no “Almanaque 1964” (Companhia das Letras), novo livro da jornalista Ana Maria Bahiana, que está sendo lançado país afora. Para dar vida à obra, Ana fez praticamente uma “imersão”, com pesquisa detalhada por jornais da época.

Mas o interessante é notar que os formadores de opinião, em 1964, ainda tinham a cabeça “presa” a coisas de 15, 20 anos atrás. Por isso, nem perceberam as mudanças que estavam sendo feitas por uma nova geração e, assim, ridicularizaram os Beatles, em sua ida aos Estados Unidos. E um repórter do Los Angeles Time afirmava com ares de verdade absoluta: Cassius Clay, depois Muhammad Ali, venceria apenas Sonny Liston em leitura de dicionários. Falha geral. Para Ana Maria Bahiana, o “novo” intimida. “O novo sempre assusta, e tudo era novo demais em meados dos anos de 1960. As cabeças que controlavam a mídia, os editores, os formadores de opinião, eram da geração da Segunda Guerra Mundial ou mesmo de antes. A virada do século 20 devia ser aterrorizante para eles”, ressalta.

‘Estamos muito diferentes’

Em uma solicitada comparação sobre aquele emblemático ano e os dias atuais, a jornalista cultural Ana Maria Bahiana, autora do “Almanaque 1964”, prefere descartar conexões. “Estamos (o Brasil, o mundo, a sociedade como um todo) diferentes. Muito diferentes. Realidades e desafios são completamente outros”, explica, sem entrar em detalhes.

A jornalista refuta, ainda, comparações com o também sensacional “Almanaque 1970”, de sua autoria, que chegou ao mercado anos atrás.

“Só na medida em que ambos são almanaques. A estrutura e organização do material, o design, mesmo o escopo do período são completamente diferentes”, frisa, para na sequência emendar: “Mas pode ser bem interessante ler um e depois ler o outro”, diz a jornalista, que, já há algum tempo, reside em Los Angeles, onde atua como crítica de cinema. Seu nome também já assinou artigos em publicações como a “Rolling Stone” ou os jornais “Folha de S. Paulo” e “Jornal do Brasil”.

Golpe

No trabalho, percebe-se a forte influência da Guerra Fria nos momentos que antecederam o golpe de 1964.

“Isso é, absolutamente, um fator definidor do golpe”, esclarece a escritora que acompanhou com indisfarçável satisfação, à distância, o fracasso da reedição da Marcha com Deus pela Liberdade, realizada semanas atrás em algumas capitais do país. “Acho que o país cresceu e amadureceu, e compreendeu o valor da liberdade. Espero que continue assim”, frisa. Por último: na orelha do livro, Ana optou por colocar uma foto sua datada de ... 1964. claro!  

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