Jussara Calmon: a musa da pornochanchada que fisgou Robert De Niro

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
04/08/2017 às 18:52.
Atualizado em 15/11/2021 às 09:55
 (CURTA CIRCUITO/DIVULGAÇÃO)

(CURTA CIRCUITO/DIVULGAÇÃO)

Fugindo do pai alcoólatra e do tio pedófilo, Jussara Calmon saiu de Colatina, no Espírito Santo, e foi parar numa espécie de bordel em Nanuque, no norte de Minas Gerais, onde teve sua virgindade leiloada, aos 14 anos, para um coronel da região. Antes, já tinha trabalhado num matadouro e pedido esmola nas ruas. Estas são algumas das muitas histórias de vida da atriz que se transformou em um dos corpos mais desejados no cinema do início dos anos 80 após participar de sucessos de bilheteria como “Coisas Eróticas”, “Rio Babilônia” e “Longa Noite de Prazer” – longa-metragem que será exibido hoje, às 20h, no Cine Humberto Mauro, dentro do projeto “Curta Circuito”, com entrada franca. Prestes a completar 60 anos, a musa da pornochanchada brasileira estará na sessão para comentar o filme de Afrânio Vital e também falar de vários episódios de uma trajetória que misturou doses de drama e certo humor, como a imagem de um Robert De Niro saindo de toalha do armário de seu quarto de hotel. Grande amor“Era para estar hoje me prostituindo, na Cracolândia. Mas estou aqui”, salienta Jussara, recém-chegada da Noruega, onde foi, enfim, “desfrutar o amor de sua vida”. Quando o dono do bordel de Nanuque vendeu a virgindade dela, a garota capixaba também estava à espera, ingenuamente, dessa história romântica. “Era novinha, só queria encontrar meu grande amor. Tinha flertado com ele naquela tarde e o dono da boate havia me dito para eu esperar no quarto, de banho tomado. Aí resolvi botar talco e fiquei toda branca. Quando o coronel chegou, ele levou um susto, talvez por lembrá-lo que ele estava na cama com uma menor de idade”, lembra. Mais uma vez com os pés na estrada, ela foi em direção ao Rio de Janeiro ao lado de uma amiga, à espera de realizar o seu sonho de virar artista. Flerte que teve início ainda criança, quando foi criada num circo, vendo a mãe trapezista pendurada numa barra. Sua chegada à Cidade Maravilhosa coincidiu com o auge da pornochanchada. Sexo explícitoSeu primeiro filme foi justamente “Coisas Eróticas”, lançado em 1982 e famoso por se tornar a primeira produção nacional com sexo explícito. “Fiz as cenas e não me arrependo. Não fico remoendo o que aconteceu. Não verdade, não fiz tudo, pois o ator ficou apaixonado por uma menininha, que fazia a minha filha na história. Ele dizia que só conseguia com ela”, registra. Anos depois, Calmon conta que, recebeu proposta para participar de um filme da chancela pornô “Brasileirinhas”, que elencou várias atrizes conhecidas, como Gretchen, Rita Cadillac e Leila Lopes. “Ofereceram muito dinheiro, mas não quis. Fiz ‘Coisas Eróticas’ porque surgiu naquele momento. Acabou ali”, assinala. N/A / N/A Na plateia para ver hoje o filme “Longa Noite de Prazer”, estará o marido da atriz, o norueguês Gudmund Fjortoft Filme de Afrânio Vital é um ‘erótico com conteúdo’ Um convidado especial na sessão de hoje de “Longa Noite de Prazer” será o marido de Jussara Calmon, Gudmund Fjortoft, que verá, pela primeira vez, um dos filmes da esposa. “Já falei para ele não se assustar, pois tem muita putaria”, diz. Mas garante que o amor atual tem ciência de seu currículo. “Claro que ele sabe o que eu fiz. Na Noruega, fizeram uma reportagem comigo sobre o livro que lancei”. Lançado em 2012, o livro “Jussara Calmon, Muito Prazer” foi escrito por Fábio Fabrício Fabretti e revela vários detalhes da carreira da atriz. Entre eles, o episódio com Robert De Niro, que veio ao Brasil para divulgar um filme. Após vê-la num baile de Carnaval, no Rio, o Camaleão americano não parou um dia sequer de procurá-la. “Assessores dele deixaram mais de 100 recados em minha secretária eletrônica, mas não queria encontrá-lo. Naquela época ainda não tinham essas meninas novas quererem se relacionar com nome famoso. Mas o (sambista e ator) Haroldo Costa , que era meu amigo, insistiu para eu ir. Ficamos duas noites juntos e depois ele foi embora”, lembra. 

“O engraçado do encontro com De Niro foi que, ao chegar ao quarto dele, um assessor abriu a porta e ele saiu do armário, envolvido numa toalha”, recorda a atriz de 59 anos

 No livro, Jussara dedica um carinho especial a Afrânio Vital, diretor de “Longa Noite de Prazer”. Dos bastidores, ela lembra que o cineasta a fez ler Augusto dos Anjos, poeta simbolista que ela desconhecia na época. “Aprendi a ler com o Afrânio, que é uma pessoa culta. O filme, apesar de ser uma pornochanchada, é um reflexo disso. É um erótico com conteúdo”. Na trama, dois amigos, um branco, o outro negro, vivem de pequenos furtos e acabam encontrando duas mulheres que irão modificar suas vidas.

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