Aberto, o "baú de Elisa" revela retratos da família Lispector

Elemara Duarte - Do Hoje em Dia
06/08/2012 às 10:55.
Atualizado em 22/11/2021 às 00:12
 (Editora UFMG/Divulgação)

(Editora UFMG/Divulgação)

Livro inédito do clã dos Lispector, "Retratos Antigos" (Editora UFMG), organizado pela professora da USP, Nádia Battella Gotlib, chega às livrarias. O sobrenome, muita gente já sabe, por si só é sinônimo de peso literário abalizado por Clarice Lispector. Porém, a publicação em questão, foi escrita pela irmã mais velha da autora: Elisa Lispector.

"Retratos Antigos" revela a genealogia da família por meio da descrição de fotos, desde a migração para o Brasil. A "agradável surpresa", diz a organizadora, foi descoberta durante pesquisa nos pertences de Elisa, que morreu em 1989.

Nádia passou vários anos tentando examinar o espólio de Elisa, que estava guardado com a irmã dela, Tania Kaufmann. Com a morte de Tania, o "baú de Elisa" passou para as mãos de Márcia, filha de Tania, e, em seguida, para Nicole, filha de Márcia. A curiosidade de Nicole diante do álbum de família foi a inspiração para que Elisa escrevesse "Retratos".

Com os registros que encontrou, Nádia pôde incluir a reprodução dos mesmos na fotobiografia de Clarice Lispector (2008). "Desde que li o texto de "Retratos Antigos" achei que mereceria ser publicado pela riqueza de informações que traz sobre a história das meninas, com dados sobre a família Krimgold, pelo lado materno, e Lispector, pelo lado paterno. E pelo modo como a autora narra essa história, com profundo respeito pela tradição da cultura judaica", diz Nádia.

Ela não conheceu Elisa e, em suas pesquisas, não encontrou comentários dela sobre a narrativa que fez.

Os relatos bem escritos, segundo Nádia, mereciam "existir" como publicação. Nele, Elisa fez a ambientação das primeiras décadas do século passado.

As histórias em "Retratos de Família" foram recolhidas de relatos de antepassados e outras vividas por Elisa. "Ela conta seu espanto quando desembarcou e perguntou que língua as pessoas falavam por aqui. Ela chegou ao Brasil no início de 1922, aos 10 anos". A vida da família na Ucrânia seguia um rumo da tranquilidade até que a revolução a obriga a migrar para o Brasil, e esses aspectos obviamente refletiram de forma mais explícita na literatura de Elisa, do que de Clarice.

"Na literatura de Elisa esse passado trágico, de fome, discriminação, violência e perseguições aos judeus, aparece em vários de seus textos. Na literatura de Clarice, embora haja dados referentes a seu passado, o pendor para o imaginário domina o texto". Além das fotos, há registros recentes, dos anos 1940 aos anos 1980.

Pouca gente sabe que Clarice Lispector, a caçulinha da família, tivesse uma irmã também escritora, muito menos que tivesse dez livros publicados. Algumas justificativas tentam explicar o abismo de popularidade entre as "manas" escritoras. "No entanto, apesar de ter talento como escritora, não tinha a mesma densidade dramática nem a capacidade altamente inovadora da irmã. E ficou na sombra", justifica Nádia Gotlib.

O talento genético da criação literária pode ter começado com a mãe das Lispector, que também escrevia. "Clarice soube disso décadas depois, por intermédio de uma tia. E Tania, a irmã do meio, além de livros técnicos, escreveu também um de contos, "O Instante da Descoberta", publicado em 2003, aos 88 anos".

Elisa, que não teve filhos, mostra dedicação com a mãe e as irmãs desde a adolescência. Ela cuidou da mãe, que ficou doente depois de sofrer um trauma durante um ataque bolchevique. Já no Rio, após a morte do pai, em 1940, morou com Tania e Clarice. "Mas, ainda que se dedicando com amor à família, é difícil admitir que Elisa não tenha ficado magoada por não ter tido o mesmo sucesso que a irmã", observa Nádia. Será?

Paulo Valente, o filho, faz primeira investida na literatura infantil

Inspirado na peça musical "Carnaval dos Animais", do francês Camille Saint-Saens, "O Leão de Tanto Urrar Desanimou" (Editora Rocco) foi escrito por Paulo Valente, filho de Clarice Lispector.

A publicação é uma fábula e aborda questões sobre política e democracia, contando a história de um leão quer se aposentar. A solução para substituí-lo: eleições. "Democracia sempre, sem dúvida, e sem adjetivos!", defende o autor, em entrevista, por e-mail, ao Hoje em Dia.

Com "O Leão de Tanto Urrar Desanimou", Valente tem sua primeira investida na área da literatura infantil. Anteriormente, suas publicações eram na área de economia e finanças, com a qual trabalha.

Afinal, quem na vida real encarnaria o papel do leão entediado? "Na América Latina temos vários exemplos, no presente e no passado, mas ninguém em especial. Em outros continentes também", observa Valente.

Em tempos badalados de eleições, os ensinamentos do livro vêm a calhar. "Os leitores vão perceber a ambição de cada animal em chegar ao poder, e também as vaidades. É bom refletir sobre isso, e a criança sabe bem o que é o desejo pelo poder".

Paulo tem dois filhos e diz que eles gostam muito de ler. A filha já publica seus textos num blog. Clarice ainda teve outro filho, Pedro, mais velho que Paulo, também vivo.

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