Após tratamento contra o câncer, Cíntia Moscovich lança livro de contos

Cinthya Oliveira - Do Hoje em Dia
01/01/2013 às 10:43.
Atualizado em 21/11/2021 às 20:12
 (Cleber Passus/Divulgação)

(Cleber Passus/Divulgação)

Em 2008, Cíntia Moscovich já tinha escrito 30% de um livro que receberia recursos da Petrobras, via Lei Rouanet. Teria desenvolvido o restante não fosse o diagnóstico de um grave câncer nas amídalas. Após quatro anos de tratamento, a escritora gaúcha terminou seus contos e finalmente lança, pela Editora Record, “Essa Coisa Brilhante que É a Chuva”.

“Passei quatro anos envolvida com a doença. Não só por estar envolvida com o tratamento, mas o próprio câncer provoca uma estafa mental”, diz a autora, de 54 anos. “As pessoas dizem que você nunca volta a ser o mesmo depois do câncer. Isso não é força de expressão, é a verdade. Hoje me emociono com coisas simples, como passar manteiga no pão”.

Toda essa simplicidade das minúcias do cotidiano é levada pela autora aos contos. Seus personagens são pessoas de classe média que vivenciam as pequenas angústias inerentes ao ser humano. Nada de violência, traições, miséria, conflitos morais ou aventuras que povoam as principais obras da literatura. Apenas a sensibilidade de homens e mulheres que lidam a todo momento com suas rotinas, frustrações e alegrias.

“Desde o início, quis um enxugamento neste livro. Uma coisa menos causa e lógica. Uma escrita mais objetiva, essencial, sem excessos”, afirma a fã confessa de Clarice Lispector. “Queria falar sobre uma classe média, daquela em que nada sobra, mas também nada falta. Ao pegar essa gente mediana, consigo representar toda a sociedade”.

Situação limite

Cíntia não sabe dizer o quanto da experiência do tratamento contra o câncer foi determinante para a escrita de “Essa Coisa Brilhante que É a Chuva”. Mas admite que a narrativa referente à personagem Neide, do conto “Aos Sessenta e Quatro”, é inspirado em sua vida. A autora descreve, nessa história, detalhes de uma consulta médica em que a mulher recebe a notícia da gravidade de sua doença. “São personagens que passam por situações limite. Mas queria trabalhar isso com humor, brincar com os absurdos da vida”.

Mas a trama de Neide é um caso à parte. Cíntia não quis focar sua escrita na luta contra a doença. Mesmo que tenha surgido a oportunidade. “Minha terapeuta me deu um caderninho e pediu para fazer anotações sobre tudo, para escrever no futuro um livro que pudesse ajudar as outras pessoas. Um dia escrevi: ‘estou triste por que as outras pessoas têm cabelo e eu não’. Tempos depois, quando li essa frase, sofri tudo novamente. Larguei o caderno de lado. Não preciso me lembrar”.

Curada, a escritora agora prepara um romance. Prefere não adiantar muita coisa – apenas que o desenvolvimento da trama demanda uma pesquisa histórica. “Não conto porque não quero ser escrava da palavra”.

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