"As Travessuras de Juca e Chico" ganha nova versão

Clarissa Carvalhaes - Do Hoje em Dia
26/07/2012 às 11:22.
Atualizado em 21/11/2021 às 23:52
 (Reprodução)

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Apresentar os primeiros rebeldes da literatura, ser precursor das histórias em quadrinhos e dono de um final nada politicamente correto. Tudo isso faz de "As Travessuras de Juca e Chico" (1865), do poeta, pintor e caricaturista alemão Wilhelm Busch (1832-1908), um clássico mundial, que acaba de ser relançado no Brasil.

A obra inspiraria, anos mais tarde, o alemão Rudolph Dirks (1877-1968) a criar "Os sobrinhos do Capitão" (em 1897) e o caricaturista Angeli, as tirinhas "Os Skrotinhos" (1987). "As Travessuras..." já foi publicado em mais de 200 idiomas. A primeira versão em português, de 1915, foi traduzida por ninguém menos que Olavo Bilac. Foi dele, aliás, a ideia de batizar os dois pestinhas alemães de Juca e Chico (no original, são Max e Moritz).

Passados 97 anos, o texto ganha nova edição com tradução de Cláudia Cavalcanti e, embora conte com as tirinhas originais de Busch (de 1865), recebe uma considerável repaginada. Na verdade, é uma nova forma de contar a mesma história.

"É uma obra de extrema relevância, que teve o poder de, pela primeira vez, criar a possibilidade do livro de imagem. Em ‘As Travessuras...’, o texto e os desenhos podem facilmente caminhar separados porque, ainda que se complementem, são independentes. O leitor pode apenas seguir a história pelos quadrinhos e entenderá toda a narrativa", comenta a escritora e ilustradora Ângela Lago.

No entanto, no livro, a desassociação de texto e imagens não é a única inovação de Wilhelm Busch. Ele também criou uma narrativa moralista e pedagógica, na qual a duplinha que aterroriza um povoado com as impagáveis travessuras é punida de forma extremamente severa.

"A gente se diverte com o malfeito desses meninos. Ao mesmo tempo é um livro que mostra a diversão perversa de duas crianças sem o menor limite. Na primeira tradução em português, o livro recebeu de Olavo Bilac rimas e ritmos extremamente saborosos. É uma toada popular feita para a criança que felizmente foi resgatada", afirma Ângela.

Para Myriam Ávila, autora do livro "Rima e Solução: A Poesia Nonsense de Lewis Carroll e Edward Lear", a obra de Wilhelm Busch não foi criada para atingir o público infantil.

"É um livro de humor que, de certa maneira, prepara os alemães para o que viria anos mais tarde – as duas grandes guerras mundiais. Banaliza o sofrimento e a própria morte, mostrando a insensibilidade. Ao mesmo tempo, foi base para uma série de personagens em quadrinhos", avalia a escritora.

Myriam afirma ser inegável a importância histórica da obra. "Não sei se um livro como esse hoje seria visto ou comprado pelas pessoas exatamente porque não tem nada de politicamente correto", diz.

Vale ressaltar que para muitos especialistas "Juca e Chico" é uma crítica mordaz à burguesia da época (e de sempre), com farpas lançadas para todos os lados.

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