Ode a Carlos Drummond de Andrade, poeta de Minas e do mundo

Raphael Vidigal - Do Hoje em Dia
31/10/2012 às 10:23.
Atualizado em 21/11/2021 às 17:44
 (Casa Rui Barbosa/Divulgação)

(Casa Rui Barbosa/Divulgação)

Uma rosa aberta em plena guerra. Feia, no entanto ainda flor. No meio do caminho uma pedra. E o claro enigma no qual investiu-se o poeta. Mineiro de Itabira, Carlos Drummond de Andrade é comemorado nesta quarta-feira (31), data de seu aniversário, com exibição de filmes a partir das 18 horas na Livraria Mineiriana e sarau com a presença de escritores convidados a partir das 19 horas, com curadoria da poeta Thais Guimarães.

O evento criado no ano passado, com o nome de "Dia D", pretende propagar os lírios e versos do poeta. Na parte da manhã, às 9 horas, a festa aconteceu no Museu das Minas e do Metal, onde também houve exibição de filmes e leitura de poesias daquele considerado por especialistas "o maior de todos os poetas brasileiros", dando continuidade ao festejo já iniciado no final de semana, com espetáculo teatral apresentado no Centro Cultural JK e narração de histórias para o público infantil feita pela atriz Beatriz Myrrha, também no Museu das Minas e do Metal.

Libertador

O escritor e professor de literatura Mário Alex, responsável pela programação do SESC, define a importância do homenageado: "É o poeta mais completo e libertador da nossa literatura. Ao contrário do João Cabral de Melo Neto, dono de uma obra excepcional, mas fechada, Drummond nos permitiu a poesia livre, ao versar sobre memória, guerra, cidade, erotismo, amor", e completa a respeito da última temática: "As pessoas em geral tem a impressão que o poeta a mais escrever sobre amor é o Vinicius de Moraes, talvez pela incursão no mundo musical, que espalha com facilidade essas informações, mas se pegarmos a obra do Carlos Drummond de Andrade vamos perceber que ninguém escreveu tanto sobre as relações afetuosas como ele", afirma.

Popular
 
"Além de tudo, Drummond é essencialmente popular, dono de versos conhecidos por qualquer criança, enquanto o João Cabral de Melo Neto, sem nenhum demérito, é hermético", afere. E aliança este argumento à recepção às festividades propostas: "O público já abraçou, todos estão entusiasmados e esperando um número considerável de pessoas interessadas em apreciar este belíssimo trabalho", confirma.

Mário Alex faz questão de ressaltar não só a diversidade de assuntos abordados pelo escritor, como também o amplo cartaz literário espalhado por ele em vida: "Não bastasse a amplitude de sua poesia, Drummond transitou com desenvoltura pelos campos da prosa, destacando-se como cronista e no conto", declara-se.

O evento também ocorre no Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília, e outros.

Além de Drummond, Clarice Lispector será homenageada

Beatriz Moon, designer e produtora cultural responsável pela programação do evento na livraria Mineiriana tece elogios aos convidados da récita: "Escolhemos um timaço de escritores que conviveram com Drummond, principalmente no final da vida, como o Carlos Herculano Lopes, que deverá ler ‘O Caso do Vestido’, Ricardo Aleixo, Antônio Barreto, e muitos outros", afirma.

Sobre a perspectiva da continuidade do "Dia D", Beatriz garante almejar voos altos: "Sem dúvida, veio para ficar, o público comprou a causa de forma espontânea, e, além disso, já temos confirmada para dezembro uma homenagem à Clarice Lispector, com a participação do performer e poeta Marcelo Kraiser, apresentando o vídeo 'Para teus olhos'", adianta.

Adentrando especificamente a obra de Drummond, Beatriz atesta o rigor estético do poeta: "Há um peso de imagem permanente nas palavras utilizadas. Em razão desta visualidade é que os poemas repercutem nas artes plásticas e no cinema", diz.

Influências

A influência na obra de escritores é também apontada pelo professor Mário Alex como referência: "O próprio Ferreira Gullar disse em entrevista que compreendeu o ofício lendo Drummond".

Ele estende o convite para que iniciativas como esta se espalhem por outras cabeças pensantes: "Autores como Cecília Meireles, Manuel Bandeira, Graciliano Ramos, Affonso Ávila, Ana Cristina Cesar, Cacaso, Mário de Andrade, têm tudo para ser lembrados em movimentos similares". Também afirma a pouca tradição brasileira nesses caminhos: "Infelizmente no nosso país isso ocorre de maneira muito restrita, não é como na Europa, onde a adoração aos escritores é comum" ratifica.

Em relação ao verso preferido da obra de Carlos Drummond de Andrade, Mário hesita, para então decidir-se: "Fico com este que me veio agora à cabeça, do poema ‘Memória’, que diz ‘mas as coisas findas, muito mais que lindas, estas ficarão’, exatamente como Drummond", conclui.


http://177.71.188.173/clientes/hojeemdia/web/index.php

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por