Os retoques de Drummond para a poesia mais que perfeita

Leida Reis - Do Hoje em Dia
26/08/2012 às 12:10.
Atualizado em 22/11/2021 às 00:45
 (Arquivo Hoje em Dia)

(Arquivo Hoje em Dia)

  Quando publicou “Alguma Poesia”, em 1930, Carlos Drummond de Andrade não imaginava que o personagem Brederodes morreria logo. Na segunda edição da obra, o poema “Quadrilha” substitui o verso “Lili casou com Brederodes” por “Lili casou com J. Pinto Fernandes”.   O poeta retocou seus escritos até encostar na exatidão das palavras. Nem tudo, no primeiro momento, soava a ele perfeito como “João amava Teresa que amava Raimundo que amava Maria”.    Drummond é um clássico. Assim, era justo que ganhasse uma edição crítica que permitisse à sua voz ecoar firme e minuciosa no momento em que os 110 anos de seu nascimento são rememorados.    Um recado claro e sem enigmas é passado: a evolução nos seus poemas mostra que, se nos primeiros livros as correções feitas pelo próprio autor eram mais comuns, nos derradeiros, a maturidade permitia escrever de pronto. Ou quase.    Dez livros   Os dez primeiros livros do mestre itabirano são estudados na obra “Carlos Drummond de Andrade – Poesia 1930-62 – edição crítica”, assinada pelo também poeta e pesquisador da Casa Rui Barbosa Júlio Castañon Guimarães e sai pela Cosac Naify. Em pouco mais de mil páginas, o leitor encontra todos os poemas do período, com notas de rodapé que relatam as alterações feitas a cada edição.    Temos aí um Drummond buscando a perfeição. Nas palavras de Castañon, ele queria que seu texto ficasse mais “bem acabado” em função de suas concepções. Outras modificações ocorreram como correção de deslizes e de problemas tipográficos. O verso é ajustado para chegar limpo e ritmado ao leitor, de forma que sua leitura não incomode; ao contrário, cante, conte e encante.    Poesia foge dos livros e vai parar nos jornais   Os periódicos eram o espaço ideal para as primeiras publicações dos poetas. Assim, experimentavam a recepção de suas criações e divulgavam seus nomes no meio literário. Como lembra John Gledson, o título do poema “Nota Social” de Carlos Drummond de Andrade “sugere uma notícia de jornal como as do ‘Diário de Minas’, na chegada de algum escritor célebre à cidade provinciana”.    O poema “A Rua Diferente” de “Alguma Poesia”, foi publicado na coluna “Sociedade”, também do “Diário de Minas”, em 24 de outubro de 1928. “Soneto da Perdida Esperança”, de Brejo das Almas, saiu na seção Notas Sociais do “Minas Gerais” de 17 de novembro de 1931. No poema “Carta de Stalingrado”, Drummond diz: “A poesia fugiu dos livros, agora está nos jornais”.    Então, o poeta fazia mudanças nos recortes de jornal que guardava em seu arquivo, rasurando trechos e substituindo-os. 

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