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Em Ouro Preto, o que não é história é literatura. O 8º Fórum das Letras prossegue até domingo (25), dividindo espaço entre escritores e editores. O tema deste ano foca na feitura do livro, mas não exclui a discussão da arte literária. A abertura, na noite de quinta-feira (22), deixou o cine Vila Rica maravilhado com a erudição e a simplicidade de Nélida Piñon, que foi presidente da Academia Brasileira de Letras e é embaixadora iberoamericana da cultura.
"Fala-se na demolição do livro, é o discurso da barbárie. Os bárbaros destruíram tudo por onde passaram, mas não destruíram o espírito. O livro é a alma da gente". Assim definiiu a autora, que autografou "O Livro das Horas", seu mais recente romance, e deu lições de amor à amizade e à literatura.
As iluminuras e os livros de oração serviram de inspiração para a obra de Nélida Piñon. Ela passeia pela cabeça das pessoas que se propõem a conversar com Deus, mas acabam divagando sobre seus problemas, sonhos e desejos. A escritora que só acredita na história coletiva define o pensamento como ato heroico e, ao mesmo tempo, de fracasso. "Pela distância entre o pensar e o real", justifica.
A parte divertida da conferência, mediada pela curadora do Fórum, Guiomar de Grammont, ficou com as histórias sobre o cachorro da autora, Gravetinho, tratado como companheiro. "Ele é educado para ser mal educado" e tem até perfil no Twitter.
Nélida também narrou sua amizade com Clarice Lispector, que leu seus originais e depois virou companhia para os cinemas e passeios no Rio. "Não tenho medo da amizade, tenho jovens amigos. Acho interessante estar apta a fomentar o terreno dos afetos".
O 8º Fórum das Letras de Ouro Preto prossegue até domingo e tem versão para as crianças e adolescentes no Fórum das Letrinhas. Entre os debates de hoje, "Como publicar o primeiro livro?", com Ana Maria Santeiro, Luísa Geisler, Luze Valente e Olaro Romano de Sant'Anna, e também "A produção de biografias e ensaios como desafio historiográfico", com Lucas Figueiredo, Paulo Markun e Jorge Ferreira.