Logo na introdução do livro, o organizador reconhece: a aproximação entre o rock e literatura em uma coletânea de contos poderia, sim, levar alguns céticos a erguer as sobrancelhas. Mas quando os contos em questão levam assinaturas insuspeitas, dissipam-se as dúvidas e o convite à leitura é prontamente aceito. "Rock Book" (Prumo), que será lançado nesta segunda-feira (22) na capital mineira, traz a assinatura do paulistano Ivan Hegen como o "culpado" por reunir essa galera de responsa.

Na quarta capa, eles estão ali, listados: Glauco Mattoso, Cadão Volpato, André Sant’Anna, Nelson de Oliveira, Carol Zoccoli & Claudio Bizzotto, Alex Antunes, Danislau, Toni Monti, Xico Sá, Márcia Denser, Luiz Roberto Guedes, Andréa Catrópa, Abilio Godoy, Carol Bensimon, Antonio Vicente Pietroforte, Mario Bortolotto, Sergio Fantini, Andréa Del Fuego e Fernando Bonassi, além do próprio Hegen.

Cumpre dizer que o organizador tratou de chegar à capital mineira na madrugada da última sexta-feira, com a ideia fixa de conhecer a cena belo-horizontina. "A última vez que vim (a BH), era muito jovem (atualmente, tem 32 anos), não tinha idade para conhecer a boemia. Hoje mesmo (sexta) já vou sair, estou pegando dicas boas dos lugares", contou.

Gênese

O livro começou a ser esboçado quando Ivan percebeu que havia muitos escritores, "inclusive vários consagrados, premiados", que cultivavam uma afinidade com o rock. "Já vinha pensando também que rock não é entretenimento, é arte. Dai fui juntando as coisas na minha cabeça, essa influência do rock na escrita de vários autores, e resolvi fazer a coletânea para torná-la mais evidente a outras pessoas".

Um trabalho que, diga-se de passagem, revelou-se uma tarefa hercúlea. "Foi a primeira vez que organizei uma coletânea, e posso te falar que dá tanto trabalho quando escrever do próprio punho. Mas acho que o livro permite que as pessoas tenham uma visão bacana dessa ligação".

Surpresa

Os autores convidados assentiram rapidamente ao convite. "A resposta foi bastante positiva, eles abraçaram a proposta. Logo que joguei a ideia, muita gente falou: pô tava mesmo faltando (um livro assim). Fiquei bem satisfeito, senti que essa proposta não fazia sentido só para mim", relembra Ivan. E a resposta superou a expectativa do moço. "A Carol Bensimon, uma autora nova, mas já aclamada pela revista Granta, por exemplo. Já havia lido um livro dela, mas me surpreendeu", confessa.

O mineiro Danislau é um dos convidados

No resumo da ópera, Ivan Hegen usa a palavra "surpreendente" para definir sua reação ao conferir o material que conseguiu reunir para o livro que autografa logo mais à noite. "Foi interessante ver que as saídas encontradas pelos autores convidados (para unir rock e literatura) foram muito diferentes.

O Danislau, por exemplo, tem um conto ("O Besouro da Parada de Itaobim") com uma linguagem meio de Guimarães Rosa. Ele tem banda (a Porcas Borboletas), é todo roqueiro, todo poeta.... A banda tem umas letras cheias de ironias, e, aqui, ele usa uma linguagem bem rebuscada".

Na verdade, Danislau tem intimidade com a escrita. Em 2005, lançou o livro de poemas "O Herói Hesitante", e em 2008, obteve o mestrado em Teoria Literária pela Universidade Federal de Uberlândia. Não bastasse, mantem semanalmente uma coluna sobre música no Jornal Correio, de Uberlândia.

Tony Monti, que assina o conto "O Silêncio", foi outra surpresa. "Esse conto me pegou", reconhece. Monti, vale lembrar, já foi guitarrista da O Buraco da Bala.


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