Luiz Fernando Guimarães vive oito personagens em 'O Impecável'

Estadão Conteúdo
09/08/2016 às 08:51.
Atualizado em 15/11/2021 às 20:15
 (Guga Melgar/Divulgação)

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O que Luiz Fernando Guimarães tem em comum com Buster Keaton (1895-1966)? Além de provocarem gargalhadas, ambos são conhecidos por manter uma expressão impassível. Mas, se o americano foi um rei da comédia silenciosa, Luiz ("Com ‘z’ e sem acento", como gosta de frisar) Fernando brilha por meio da palavra. "Talvez por isso que Jerry Lewis me inspira mais", observa. "Mas gostaria de fazer algo mudo." Quieto ou falando, o fato é que ele vem conquistando o público de diversas cidades brasileiras com o espetáculo O Impecável, série de monólogos que chega a São Paulo na sexta-feira (12) no Teatro Gazeta.

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O título traz uma deliciosa dupla interpretação - tanto se refere a algo perfeito, completo, como também faz lembrar de algo puro, sem pecados. É nesse jogo de aparências que Luiz Fernando vive oito personagens que se encontram em um salão de beleza, o Impecável Beauty, em uma tarde de sábado em Copacabana. Pessoas com histórias nada convencionais. "Humor tem a ver com pontuação", conta ele, que não chega com uma fórmula fechada, mesmo depois de inúmeras apresentações por outras metrópoles, o que ajudaria a dar um formato mais sólido ao espetáculo. "Logo no primeiro monólogo, entro muito solto no palco. Antes de começar, dou uma espiada atrás da cortina como se estivesse procurando por alguém. Na verdade, o que penso nessa hora é: ‘O que vai acontecer hoje?’. Depois de descobrir, já sei como levar o espetáculo."

Luiz Fernando leva a sério a arte de fazer rir. Não vê como um tratado científico, mas gosta de fazer uma distinção entre comediante e humorista. O primeiro interpreta uma piada - como fazia, por exemplo, Golias. Já o humorista é aquele que conta a piada, como Costinha, Chico Anysio, Tom Cavalcante. "Quando eu estava com o Asdrúbal Trouxe o Trombone (grupo de teatro dos anos 1970, famoso por desconstruir a dramaturgia tradicional), fazíamos um humor mais físico, daí minha preferência pelo cinema mudo."

Em O Impecável, Luiz Fernando Guimarães vive oito personagens, desde Eleonora, a perdulária dona do estabelecimento e ex-miss, à manicure Chanderley, que complementa o orçamento com ‘serviços extras’ na madrugada, todos identificados com um salão de beleza. "Esse talvez seja o espaço que melhor representa o mundo, pois se fala sobre tudo. Também ali diz respeito a qualquer pessoa, pois as pessoas cortam cabelo, fazem a unha, ou seja, personagens de fácil identificação", afirma o ator. "Ali também é uma espécie de porta do inferno, onde alguns dos pecados mortais são constantemente cometidos, como a vaidade e a cobiça."

E é por meio de seu talento artístico que o ator faz a transição das oito figuras em cena. A mudança acontece aos poucos, de forma sutil. "Vou mudando a voz, o ritmo do personagem falar. Não preciso fazer uma troca de roupa, pois o público percebe exatamente. E os personagens também não aparecem seguindo uma ordem rígida: um entra e outro sai nem sempre nos mesmos momentos, além de voltar a alguns", conta ele, que também não conta com o auxílio de qualquer caracterização de figurino ou maquiagem. Adepto de um teatro sem enfeites, o diretor Marcus Alvisi concentrou as mudanças no trabalho de corpo e voz do ator. "O público vai acompanhar a transformação. É como se, ao olhar para um relógio, não vissem só as horas, mas também o mecanismo por trás dos ponteiros. Não iludimos ninguém com artifícios, apenas com a interpretação do Luiz Fernando", comenta Alvisi.

Apesar de improvisar nas intenções, Luiz Fernando gosta de trabalhar com um texto preciso. Filho de mãe poeta e pai radialista, ele sempre se preocupou com detalhes, especialmente as vírgulas, que segue rigidamente. "Sou muito estudioso, reflito bastante sobre as oportunidades oferecidas pelas falas, busco encontrar aqueles detalhes mais escondidos, mas de grande potencial. Ensaio durante vários dias, porque é pela repetição que atinjo a naturalidade."
Solidão. Para viver oito personagens tão distintos em cena, Luiz Fernando se preparou por dois meses em ensaios com duração de três horas, quatro vezes na semana. Além disso, o ator também fez preparação vocal e corporal. O início do trabalho aconteceu em seu sítio, no interior do Rio de Janeiro. "Apesar de ser um monólogo, eu precisei, na verdade, criar um elenco para ele. É por isso que não me dirijo diretamente ao público, mas estabeleço uma comunicação entre os personagens da história. É como se eu interagisse com um elenco que não está presente, sou só eu mesmo."

O Impecável não nasceu como um conjunto de monólogos interligados. "Desafiei Charles Möeller e Claudio Botelho, com quem trabalhei em Como Vencer na Vida Sem Fazer Força, que escrevessem algo que não fosse um musical", conta Luiz Fernando. Proposta aceita, os textos acabaram, na verdade, inspirando primeiro a criação do seriado Acredita na Peruca, exibido pelo canal Multishow. Mas, disposto a voltar ao teatro, especialmente em São Paulo - onde não vinha desde 2003, quando interpretou O Caso da Rua ao Lado -, o ator conseguiu que as histórias fossem formatadas para o palco, mobiliado apenas com uma bancada e uma cadeira com secador de cabelo.

"Luiz é um ator que funciona muito bem em um monólogo inusitado, ou seja, com vários personagens", atesta Botelho. "E queríamos falar sobre os pecados capitais porque hoje as pessoas estão obcecadas pelo politicamente correto. Se ser politicamente incorreto é o novo pecado do mundo atual, é preciso rir de nós mesmos", completa Möeller.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
http://www.estadao.com.br

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