Luna Lunera comemora uma década da estreia de seu espetáculo 'Aqueles Dois'

Jéssica Malta
Hoje em Dia - Belo Horizonte
17/11/2017 às 17:53.
Atualizado em 02/11/2021 às 23:45
 (Alan Soares/Divulgação)

(Alan Soares/Divulgação)

A amizade, a solidão da vida nos grandes centros, a perda de entes queridos e especialmente, os laços afetivos construídos e compartilhados por Raul e Saul, dois homens que trabalham em uma repartição. Tudo isto é pano de fundo para o espetáculo “Aqueles Dois”, da Cia Luna Lunera, que ganha temporada comemorativa, após os 10 anos da sua primeira apresentação, a partir desta quinta-feira, no Sesiminas.

No espetáculo, uma adaptação do conto homônimo de Caio Fernando Abreu, os dois homens vivem sob os olhares acusadores dos colegas de trabalho, que, ao interpretarem a relação entre eles como um vínculo homoafetivo, agem de forma intolerante.

Para o diretor do espetáculo, Zé Walter Albinati, o caráter aberto da obra, que não define especificamente a relação entre os dois homens, é um ponto de atração narrativa. “O texto deixa brechas para se pensar que existia uma relação afetiva muito forte. Mas são os funcionários da repartição que acabam fazendo um prejulgamento e, a partir disso, agem contra o que eles supõem ser uma relação homossexual”, destaca.

Para ele, a pertinência do espetáculo também se justifica pela narrativa dos personagens. “A história de Raul e Saul está impregnada de uma aposta no encontro, na possibilidade de criar laços que podem ser sustentados apesar do ambiente hostil. Vivemos em um momento carente de afeto, talvez justamente por isso a obra seja tão pertinente”, destaca.

Albinati ressalta também que as possibilidades de leitura e a evidência do julgamento dos “colegas” de trabalho são uma importante provocação para os dias atuais. Mas, curiosamente, apesar da urgência temática, a montagem foi contestada quando estreou em 2007. “Chegamos a ser questionados por algumas pessoas por falar sobre homofobia em um momento que algumas conquistas tinham se dado. Mas mesmo naquele período, ela era muito presente na cultura nacional”, lembra.

Cláudio Dias, ator e também diretor da peça, sublinha que a discussão ganhou uma relevância ainda maior nos últimos anos. “Começamos a retroceder. O preconceito tem se aflorado na sociedade e no próprio Congresso, que é um dos mais retrógrados de todos os tempos”, afirma. “Talvez esses temas estivessem adormecidos ou calados, mas retornaram com esse tipo de gente e política. A internet também impulsiona esses preconceitos e violências. Vozes que não tinham espaço encontram na rede esse lugar de fala”, completa.

Peça é primeira produção com direção colaborativa da Lunera

Apesar do reconhecido sucesso conquistado pela adaptação do conto “Aqueles Dois”, o diretor Zé Walter Albinati conta que o espetáculo não surgiu com grandes pretensões – embora as tenha alcançado, vencendo prêmios como melhor espetáculo e melhor direção no 13º Prêmio Sesc-Sated/MG, em 2008 e o 5º Prêmio Usiminas- Sinparc, no mesmo ano; além do Prêmio Shell de iluminação, em 2009 e em 2015, o prêmio de espetáculo revelação no FESTLIP – Festival de Teatro da Língua Portuguesa.

“A nossa ambição era fazer um treinamento interno. Mas quando nos demos conta, fomos escolhidos pelo texto do Caio. As investigações foram muito saborosas, existiam várias oportunidades de explorar essa obra, que é breve”, lembra Albinati.

Construído de forma colaborativa, a montagem é apontada pelo autor Cláudio Dias como emblemática na trajetória da Cia. Luna Lunera. “Conseguimos aprofundar um projeto que tínhamos desde o início, que é a colaboração. O espetáculo é o marco desse formato em que os atores também são criadores. Ele também ressalta o encontro com o público. “O ‘Aqueles Dois’ marca também a nossa vontade de comunicar com a platéia”, destaca.

Direção Colaborativa

Construído à cinco mãos – quatro atores que sobem ao palco e também assumem a direção – o espetáculo surgiu, inicialmente, de oficinas ministradas entre os membros da Companhia.

Dias explica que durante o processo inicial, cada ator teve uma semana para apresentar um processo de direção para a história original. “Nossa ideia inicial era escolher um deles, mas percebemos que as propostas complementavam e não se recusavam. A partir desse material e do conto, fomos construindo a dramaturgia”, lembra. “O espetáculo tem muita informação criada ao longo do processo, que vai além do conto original”.

Serviço: “Aqueles Dois”, de 23 de novembro a 3 de dezembro no Teatro Sesiminas (Rua Padre Marinho, 60, Santa Efigênia), de quinta a sábado às 20h, aos domingos às 19h. R$ 30 (inteira)

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