Vanessa da Mata se apresenta hoje em BH: 'Música transforma como uma oração'

Ouça entrevista com a artista, que falou sobre carreira, público, trajetória e espiritualidade

César Augusto Alves
cpaulo@hojeemdia.com.br
19/04/2016 às 18:01.
Atualizado em 16/11/2021 às 03:01
 (Divulgação)

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Singela e forte. Racional e romântica. Grandes palcos e pequenas vaidades. A grandeza de Vanessa da Mata se mostra justamente em sua simplicidade. Em entrevista ao Hoje em Dia, revela-se em contrapontos ao expor fragilidades e sua relação com o divino e a natureza.A cantora – e compositora dos próprios hits – falou também de sua relação com o público, a carreira e o cenário político brasileiro.

O novo projeto, “Delicadeza”, chega hoje a Belo Horizonte em uma apresentação intimista, onde Vanessa se sente em casa com a plateia e apenas dois músicos no palco, Danilo Andrade (piano) e Mauricio Pacheco (violão e guitarra).

Ouça a entrevista na íntegra com a cantora

Na gravação, é possível perceber a simplicidade e a delicadeza de Vanessa ao tocar em assuntos como religião, política, e o modo como se relaciona com sua prestigiada carreira. 

Trechos

O fato de fazer sucesso com hits e lotar shows em algum momento mudou o rumo de sua carreira do ponto de vista artístico? Esse show é um resgate disso?

Não posso desprezar o que eu ganhei, porque foi um presente. É muito difícil ser a compositora dos próprios hits. Eu caí no gosto público com afeto e simbologia feminina. Eu tenho um relacionamento com as minhas músicas muito sério. “Bolsa de Grife”, por exemplo (que critica o consumismo). Falo: “Filha da mãe! Estava falando pra você!”. (risos). As minhas músicas saem de um momento de criação de muita dor, por mais que pareçam superficiais. Não canto mais “Absurdo”, porque começo a cantar e choro. Eu não gostaria de ser uma cantora de músicas que falassem a mesma coisa. A mesma situação de amor, nenhuma crítica. Eu detestaria ser uma artista não-artista. O que eu tento é abordar assuntos que estão no ar, e que vão fazer um diálogo mental acontecer.

É necessário os irmãos continuarem irmãos, e os amigos continuarem amigos, em vez de lidar com a política como se o cara fosse o amante do parlamentar

Você chegou a cantar para públicos de até 150 mil pessoas. Qual é a sensação de estar nestes palcos? Isso deve mexer muito com o artista.

(Silêncio). É muito maluco. Eu me protejo muito, eu curto aquele momento, e quando eu saio de lá eu entro no meu cotidiano (risos). Na realidade, vou ter que trabalhar do mesmo jeito, correr atrás, fazer um disco melhor. Então aquela vaidade não vai me adiantar de nada! (risos) É uma celebração, eu brindo com meus amigos. Adoro olhar as pessoas dançando na plateia, me faz muito feliz. Me identifico completamente. Quando percebo que dá certo é incrível. E quando parece que não dá, também é um ótimo teste. Porque, de repente, eu viro a chave de alguma coisa, e a estrutura muda.

O que é mais diferente entre a Vanessa do cotidiano, que está em casa, para a que sobe ao palco iluminada por milhares de pessoas?

Os meus amigos mesmo falam “Você não é a pessoa que sai do palco!” (risos). São coisas muito diferentes. Ali eu estou encantada por um encantamento. Uma pessoa pagar pra te ver cantar é muito lúdico. Eu acho que a música, assim como a oração, como um bom pensamento, são coisas que transformam. A gente vai para um lugar melhor. A música tem esse poder.

Você já falou muito sobre fé, suas simpatias. A religiosidade ainda é forte em você?

Eu não tinha nada disso, sabia? Era extremamente racional. Tinha um lado romântico, acho que a religião é romântica. Como falar de coisas que não existem? Só na inocência. E a inocência tem energias puras. Acho que eu tinha na essência um romantismo religioso, espiritualista. Eu tenho valores muito fortes. Eu não trato as pessoas mal. Eu tenho um amor pelo cosmos, pela natureza, pelo todo, pelas criaturas pequenininhas. Eu falo com abelha! Se a abelha cai na piscina eu tiro ela.

Tenho uma compreensão espiritual maior do que as pessoas que entendem o homem como simbologia de Deus. O ser humano é sujo, destrói tudo. É o ego.

A pessoa que vê pensa que você é louca...

(risos) Exatamente! Mas não acho que o ser humano é o centro do universo. Entendo a enorme cadeia alimentar que existe. Tenho uma compreensão espiritual maior do que as pessoas que entendem o homem como simbologia de Deus. O ser humano é sujo, destrói tudo. É o ego. Esse é o perigo das religiões todas, essa intolerância. O sujeito entrou numa vaidade que já não é mais religião, não é mais o gostar do outro, não é mais a generosidade. É “eu sou o fodão, e meu amiguinho de outra religião está com o demônio”. Eu acho as religiões que estão juntas da natureza tão mais legais, porque elas não têm essa coisa do ser humano grandão e incrível. Se você não respeita a natureza, isso vai ser tirado de você. É óbvio.

Para finalizar, qual mensagem de delicadeza e de paz você deixa para as pessoas neste momento intenso em que vive o Brasil?

Diálogo é feito quando as pessoas sabem falar. Quando as pessoas estão atormentadas, agem como um bicho. Se você fala algo diferente de mim, eu vou te atacar, porque não sei falar sobre. “Sou como um bebê, uma criança cheia de revolta que quer resolver no braço”. O que está acontecendo é muito isso. A gente se sente roubado, enganado, desmotivado, sujo, sendo dirigido por pessoas que fazem leis para bandidos, de todos os lugares, de todos os partidos. Para promover, defender e continuar com ganhos que não são do povo. Eu acho que estamos num momento muito instintivo, sem diálogo. É necessário os irmãos continuarem irmãos, e os amigos continuarem amigos, em vez de lidar com a política como se o cara fosse o amante do parlamentar, da presidente. É preciso ler sobre, entender, e deixar de ser levado pelos outros.

Vanessa da Mata – Show “Delicadeza”. Hoje, às 21h, no Minascentro (av. Augusto de Lima, 785). R$ 220 e R$ 110 (meia)

  

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