Manoel de Barros, nosso São Francisco de Assis Poeta

Wilmar Silva de Andrade e Bianka de Andrade Silva - Especial para o Hoje em Dia
14/11/2014 às 09:32.
Atualizado em 18/11/2021 às 05:00
 (Reprodução)

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Manoel de Barros está entre nós para sempre. Sua poesia tem a língua natural da natureza. Sua poesia é uma prova de que a vida existe quando a poesia existe. Sua poesia é uma língua que explode através das palavras criando uma espécie de metamorfose entre os seres e os falares.

Autor de livros que se tornaram clássicos da literatura brasileira, Manoel de Barros enfrentou o silêncio diante de sua poesia por décadas. Publicando de forma independente, apenas com quase 80 anos, o poeta se torna um nome conhecido no Brasil.

No momento em que acontecia no Brasil o modernismo, o concretismo e a poesia marginal, Manoel de Barros amargou o anonimato enquanto abria espaço para uma linguagem que apresenta um Brasil profundo, além dos simulacros da cidade, trazendo para o campo das letras a língua brasileira em estado natural.

Manoel de Barros não faz apenas poesia ao fazer poesia, ele utiliza a literatura como uma arqueologia para se pensar em antropologia dos sentidos. Evidente a rota que Manoel de Barros expande além dos limites de poéticas urbanas para contestar o lugar e o não lugar da arte brasileira. Mas quem realmente está disposto a entender que a poesia de Manoel de Barros, ao trabalhar com elementos da natureza e da humanidade mais nuclear, ilumina o espaço esquecido dos abandonados?

Ninguém no Brasil, além de Manoel de Barros, arriscou tanto ao explorar uma poética antenada com o povo e sua miséria, talvez Darcy Ribeiro poderia entender melhor o pensamento criativo de Manoel de Barros como um trabalho de inserção de tudo e de todos que existem e vivem sem voz, um alarido que passa a ser possível através da voz de “Poemas Concebidos Sem Pecado”, sua estreia aos 21 anos em 1937.

Mais uma vez, como sói ocorrer com nossos poetas, o reconhecimento chegou tarde para Manoel de Barros, apenas no final dos anos oitenta, com quase 80 anos, o autor de “O Livro das Ignorãnças” se torna um nome conhecido no Brasil.

Nesta primavera, o poeta do clássico “Livro sobre Nada” seguiu para o infinito com quase cem anos dedicados a uma poesia radicalmente natural, tão natural que parece falar a língua que é a nossa língua e escrever a poesia que é a nossa poesia.

Mas são poucos os que conseguem reconhecer a própria imagem no espelho e são poucos os que encontrarão, na crítica veemente feita nos versos de Manoel de Barros à artificialidade da cultura urbana, um caminho de retorno à natureza genuinamente humana.

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