Matéria sobre relacionamento aberto gera polêmica e é censurada no Facebook

Cinthya Oliveira
cioliveira@hojeemdia.com.br
04/04/2016 às 18:35.
Atualizado em 16/11/2021 às 02:47
 ( Wesley Rodrigues)

( Wesley Rodrigues)

Mesmo não sendo novidade dentro e fora das telas, o poliamor segue gerando polêmica. Prova recente disso foram os desdobramentos da matéria publicada pelo Hoje em Dia no último domingo. A crítica dos internautas à opção do amor a três – ou mais – levou o Facebook a retirar o conteúdo intitulado “Três é (bom) demais” do ar por um dia.

A exclusão da postagem na rede social levanta um debate: por que uma forma de amor fora do que é considerado padrão incomoda tanto? “Não se pode esquecer que existe uma estrutura que a sociedade levou milhares de anos para construir, que é a família, feita por um homem e uma mulher. Além disso, a constituição brasileira é monogâmica”, responde a sexóloga Sônia Eustáquia. “Mas não podemos nos esquecer de que há muita hipocrisia, pois boa parte da sociedade vive no contexto de poliamor sem que outras pessoas saibam”. 

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Mesmo que muitos não concordem, a relação a três é uma realidade e uniões vêm sendo oficializadas em cartórios, formalizando novos formatos de família. No Rio de Janeiro, por exemplo, a união entre três mulheres foi oficializada em 2015, e entre um homem e duas mulheres, na semana passada.

Família
A família formada por Paulo, Ana e Júlia é exemplo de poliamor. Quando se apaixonou por Ana, Paulo se viu em um conflito interno. Ficaria com a mulher por quem estava encantado naquele momento ou seguiria apenas com a esposa, Júlia, com quem dividia uma relação de 14 anos?
A angústia foi levada para a esposa e, após muita reflexão, o casal percebeu que seria possível todos viverem na mesma casa, construindo uma nova família. 

“Nos primeiros meses, minha cabeça ficava girando. Eu e Júlia sabemos que vamos envelhecer juntos e isso não por causa das finanças ou por nossos filhos. É porque nos amamos”, conta Paulo.

 Ana se mudou para o lar do casal e passou a dividir a rotina doméstica – da arrumação ao cuidado com os dois filhos de Paulo e Júlia, um de 8 anos e outro de 3. “O pequeno nem se lembra de como era a vida sem a Ana. E a pessoa com quem ele é mais apegado, depois da mãe, é ela. Os dois garotos a adoram”, diz Paulo, explicando que os meninos encaram superbem a formação familiar que foge do padrão. 

Ana, Júlia e Paulo são nomes fictícios, porque os pais de Júlia ainda não sabem da vida a três, que já dura dois anos e meio. “Não gostaria de ter de esconder a nossa relação, pois não estamos fazendo nada de errado. Mas os pais da Júlia devem saber a partir de nós”, diz Paulo, que faz planos de ter um filho com Ana. 

Poliamor já foi tema de vários documentários 

Também foi mote de tirinha e seriado

O poliamor sempre esteve presente na produção artística. Um exemplo é a tirinha Aline, criada em 1993 pelo cartunista Adão Iturrusgarai, quando quis brincar com a ideia de um triângulo amoroso a partir de “Jules e Jim” (1962), clássico de François Truffaut. A personagem feminina, que possui dois namorados, ganhou muitos fãs e acabou inspirando um seriado na Rede Globo, exibido em 2011 como “Aline”.

As tirinhas de Adão nunca foram tiradas das redes sociais por abordarem um triângulo amoroso. “Já tive algumas denúncias de internautas no Facebook, mas na maioria das vezes fui ‘absolvido’. As denúncias eram por ‘conter nudez’. O engraçado é que o meu traço pode ser tudo, menos erótico”, diz o cartunista, que atualmente mora na Argentina. 

“À medida que fui produzindo as tiras, Aline começou a ganhar mais força do que Otto e Pedro. E não foi intencional, parecia que ela tinha vida própria”, afirma o artista sobre sua criação. 

A temática do poliamor é tão forte que vários documentários para o cinema e a TV foram produzidos a partir do tema. Como o filme “Poliamor” (2010), de José Agripino, que pode ser conferido na internet, ou a série “Amores Livres”, exibida ano passado no GNT e que contou com a direção de João Jardim (de “Lixo Extraordinário”).

 São produções que mostram como as relações poliafetivas podem ser parecidas com as monogâmicas, com trato de fidelidade e divisão das tarefas domésticas entre todos os envolvidos. O importante aqui é que haja honestidade entre os parceiros, caso alguém sinta necessidade de viver o amor com outras pessoas. 

Muitas esposas
Impossível falar em poliafetividade sem lembrar de um dos artistas mais conhecidos do Brasil. Mr. Catra não faz questão nenhuma de esconder que se relaciona com três mulheres (que vivem em harmonia, garante sempre à imprensa). 

Ele é pai de 36 filhos, sendo quatro deles adotivos. A religião do funkeiro permite a poligamia, pois Catra é seguidor do judaísmo salomônico – uma referência ao Rei Salomão, que teve muitas esposas. 

Histórias parecidas se repetem em alguns lugares no mundo. Como Kody Brown, que tem quatro mulheres e teve a vida exposta no programa “4 Mulheres e 1 Marido”, exibido no canal pago Discovery Home and Health.

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