Mercado de animação: bancando com o próprio bolso

Paulo Henrique Silva - Hoje em Dia
20/07/2014 às 08:08.
Atualizado em 18/11/2021 às 03:26
 (Wesley Rodrigues)

(Wesley Rodrigues)

Do ponto de vista da produção e do conhecimento artístico, Minas Gerais está muito bem servido. Já em relação ao mercado, a animação “não participa coisica de nada”, na avaliação da especialista Cristiane Fariah.

“Falta um pensamento empreendedor”, assinala Cristiane, que, além de fazer parte da representação local da Associação Brasileira de Cinema de Animação (ABCA), produziu, no ano passado, um mapeamento do setor em Minas Gerais.

Ela lamenta a ausência de projetos de cunho mais comercial, como séries de TV, hoje um dos nichos em franco crescimento no país. “Não temos produtoras com esse intuito. Por isso, muitos vão trabalhar em produtoras de fora”.

Apolíticos

A sua pesquisa detectou que boa parte dos filmes são pagos do próprio bolso do realizador. 65% dos pesquisados responderam ser a fonte de financiamento. Outros 24% disseram que usam recursos oriundos de leis de incentivo.

Outro aspecto agravante: 60% registraram que a animação não é a sua principal fonte de renda, deixando claro o caráter ainda amador da animação em Minas. “Essa história de comer quieto não está funcionando. É preciso correr atrás”.

Em sua gestão na ABCA mineira, de 2009 a 2013, Cristiane tentou movimentar a classe politicamente, sem sucesso. “O brasileiro já é apolítico, o mineiro então... Infelizmente, os realizadores não querem ir além do pensamento do artista”.

Underground

Klecius Rodrigues é um desses animadores que nunca usaram recursos de lei de incentivo. Residente em Montes Claros, ele confessa ter preguiça em lidar com a burocracia. “Meus filmes são underground, totalmente autorais”, ressalta.

Autodidata, Rodrigues produz desde 2001. Vivendo principalmente de música e esculturas, ele afirma que a animação está em “segundo plano”. Todo o trabalho é feito em seu computador pessoal. “A tecnologia facilitou as coisas”, justifica.

Tania Anaya foi buscar ajuda no exterior, numa produtora alemã que ajuda a diretora a captar recursos. Ela é dirigida por Peter Ketnath, ator de “Cinema, Aspirina e Urubus” (2004) que também participa do longa “Nimuendadú”.

Previsto para 2016, o filme é uma ficção sobre Curt Nimuendajú, etnólogo nascido na Alemanha que passou a primeira metade do século 20 viajando pelo interior do Brasil, convivendo com dezenas de povos indígenas.

‘Uma História de Amor e Fúria’ foi feito em dez anos

A pré-produção de “Nimuendadú” foi viabilizada pelo prêmio do “Filme em Minas”, alvo de crítica dos animadores por não fazer as mesmas exigências de um filme em live action (com atores reais).

“Falta entender o processo de realização de uma animação. Um filme live action pode ser entregue em dois anos, mas uma animação dificilmente consegue”, lamenta Tania Anaya.

Ela cita vários trabalhos que levaram mais de cinco anos entre a pré-produção e o lançamento, como o ganhador do Festival de Annecy, “Uma História de Amor e Fúria”, que consumiu dez anos.

Tempo longo

Leonardo Cata Preta observa que, em uma obra com a técnica de stop-motion, são realizados apenas quatro segundos de animação em um dia. “Necessitamos de um tempo longo”.

O diretor assinala ainda que a diferenciação só acontece numa etapa onde não deveria ter: em sua definição como gênero. “Na verdade, é uma técnica que serve tanta à ficção como o documentário”.

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