Mineira Mariângela Haddad usa e abusa da delicadeza

Vanessa Perroni
vperroni@hojeemdia.com.br
15/04/2017 às 15:05.
Atualizado em 15/11/2021 às 14:08

Um tema que pode parecer difícil de tratar junto ao público infantojuvenil é abordado de forma afetiva e delicada pela ilustradora mineira Mariângela Haddad no livro-imagem “Minha Vó Sem Meu Vô” (Miguilim). O título da publicação, que ganhou o último Prêmio Jabuti, sugere que a autora fala sobre perda. Sem utilizar uma única palavra, Mariângela consegue de forma fluida sugerir uma história completa. O leitor observa a forma singular com a qual um casal de idosos lida com o esquecimento. Enquanto o avô faz suas peripécias, a avó de maneira amorosa cria bilhetinhos que ilustram a função de cada objeto. A narrativa possui uma continuidade visual e a cada virar de página é muito clara a intenção da autora, que instiga a imaginação do leitor. A dor da perda não é ignorada. Ela mostra o sofrimento da avó, mas também mostra como podemos ressignificar esse sentimento. Um material que pode ser trabalhado com crianças pequenas, que ainda não dominam o código verbal, até o público infantojuvenil. O livro pode auxiliar os leitores a falarem de suas de suas próprias perdas. As imagens não apresentam de imediato o que a criança vai identificar. Mas convida a refletir e construir sua própria história. O livro-imagem tem o poder de despertar o que não está óbvio, e Mariângela faz isso em uma publicação regada de sentimentos. Outras publicaçõesA ilustradora Mariângela Haddad é também autora dos recém-lançados “Dó de Peito, Rodopio” (Autêntica) e “O Mar de Fiote” (Miguilim).  Na primeira publicação, ela conta a história de Una e sua irmã Duna. Quando nasceu, ao invés de chorar, Una soltou uma nota dó, o dó de peito deixando o pai maravilhado. Ele logo decide o destino da filha. “Vai ser cantora!”. Como nada de especial ocorreu no nascimento de Duna, ela apenas auxilia a irmã em suas aulas de musicalização. Mas no dia da apresentação, algo inusitado acontece, deixando todos em rodopio. Com uma narrativa instigante, a autora mostra que cada um nasce para aquilo que há dentro de si, e não o que escolheram por e para nós. Já em “O Mar de Fiote”, um universo de aventuras e descobertas se revela para um menino de nove anos ao invadir acidentalmente o quintal do vizinho.  De pouca fala e sem jeito para expressar seus sentimentos, o encontro com o que existe do outro lado da cerca de sua casa desperta seu olhar para a vastidão do mundo e do oceano. Tudo isso no terreiro que ele sempre temeu por causa de um “cachorrosauro”. Assim, encantado com tudo que viveu, o menino rompe o silêncio para contar a mãe e as irmãs suas descobertas.

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