Mostra no CCBB faz homenagem ao pintor Mondrian

Thais Oliveira
taoliveira@hojeemdia.com.br
19/07/2016 às 19:05.
Atualizado em 16/11/2021 às 04:22
 (Gemeentemuseum Den Haag)

(Gemeentemuseum Den Haag)

Apesar de ser precursor do neoplasticismo, o que lhe garantiu importância inquestionável para a arte abstrata, Piet Mondrian (1872-1944) não é um nome tão presente no imaginário popular brasileiro. A criação “Composição com grande plano vermelho, amarelo, preto, cinza e azul” (1921), de certo, é bem mais pop que o próprio criador. As figuras geométricas de autoria do artista marcam presença na moda há quase cem anos ao servir de inspiração para uma série de produtos. 

A partir desta quarta (20), contudo, outras facetas do pintor poderão ser conferidas de perto em Belo Horizonte. Trinta trabalhos do holandês figuram na mostra “Mondrian e o Movimento De Stijl”, cartaz no CCBB-BH até 26/9. Ao todo, cerca de 100 obras, sendo essa seleção a mais completa já feita na América Latina sobre Mondrian e o movimento De Stijl (O Estilo).

Na paleta do artista modernista, cores primárias tinham prioridade. O verde não era bem quisto; nem mesmo as plantas podiam aparecer com tal tonalidade. Flores entravam no ateliê somente se fossem de plástico e, claro, após as folhas e caules serem devidamente pintados de branco. Traços retos sempre. Diagonais, nem pensar. Mondrian defendia a limpeza nas obras. Por isso, reduzia os elementos, numa busca pela pureza da pintura.

Essência
A proposta foi seguida à risca, culminando numa arte radicalmente abstrata. “A vida inteira, Mondrian estava em busca da essência e isso era uma influência da religião”, explica o curador da mostra Pieter Tjabbes, ao contar que o pintor cresceu num lar protestante. 

Mais tarde, o artista holandês transferiu essa visão religiosa para a teosofia – um substrato de todas as religiões. “Essa pan religião cria o pensamento de que o universo tem uma força e você tem que entrar nessa força e isso só pode ser alcançado quando a pessoa vai em busca da essência. Quando Mondrian chega ao neoplasticismo, sem dúvida, é um ato religioso, pois ele ainda estava muito alimentado por essa filosofia”, considera Tjabbes. O já citado quadro, caracterizado pelos quadrados coloridos, é o ícone perfeito desse fundamento.

Instalação e sala para crianças

Nem sempre Mondrian fazia de suas telas um abstrato completo. Desenhada de forma linear, a exposição aponta o caminho que o visitante deve percorrer. Por isso, os primeiros contatos que o público terá é com o início da carreira do pintor, a partir de 1895.
“Quem vier aqui vai dizer: ‘putz’, entrei na exposição errada. Mondrian é linha reta e quadrados coloridos”, brinca Tjabbes. O curador explica, porém, que, em apenas uma década o pintor chega às suas conhecidas formas. 

Ainda assim, mesmo nesta época mais “naturalista”, na qual o artista retrata paisagens, é notável a ausência do plano em perspectiva. “Ele sempre teve a tendência de trabalhar na superfície. Até onde poderia se ter uma vista, ele fecha a imagem. Não há possibilidade de o olhar ir para longe. Se não tivesse essa janela (da casa), poderia ser um abstrato”, exemplifica o curador, ao mostrar o quadro “Celeiro em Nistelrode (1904).

Para crianças, uma sala com documentários, jogos e brincadeiras foi preparada. Outra atração é uma instalação com fundo inspirado no trabalho de Mondrian. Nela, os visitantes poderão tirar fotos e ainda sair “flutuando” nas imagens. 

A mostra traz ainda o “Quarto de Meninos” (1919), de Piet Klaarhamer (mobília) e Vilmos Huzár (esquema de cores), maquetes, fotografias, fac-símiles e publicações de época

As famosas cadeiras de Rietveld convidam o público a selfies

A exposição tem início ainda no hall de entrada do CCBB. Em tempos de selfie, uma gigantesca cadeira (foto abaixo), reprodução da famosa criação de Gerrit Rietveld, convida o visitante a se sentar e fotografar à vontade. Tjabbes explica que este é um dos artifícios usados para agradar ao público brasileiro. 

“É mais fácil atingir o público brasileiro (com interações)”, diz. “É uma das missões do CCBB atingir cada vez mais camadas da população que ainda não têm acesso (à arte)”, completa o curador.

Rietveld é um dos artistas que integraram o manifesto De Stijl, lançado em 1917 por Mondrian e por Theo Van Doesburg (1883-1931). A iniciativa primava pelo plasticismo e o neoplasticismo (este último por influência de Mondrian). Além de pintores, artistas de outras áreas aderiram à ação, a exemplo do próprio Van Doesburg (arquiteto) e de Rietveld (arquiteto e designer).

Conheça um pouco mais sobre a exposição:

As ideias e os trabalhos dos artistas do movimento eram postas numa revista homônima, que, na época, obteve muita repercussão. Por causa da publicação, Mondrian ficou marcado também por fazer textos requintados. Em 1925, contudo, o holandês abandonou o manifesto, após discordar da teoria de pintura “Elementarismo”, criada por Van Doesburg, a qual permitia o uso de traços diagonais para proporcionar um maior dinamismo às obras.
Na exposição, as cadeiras de madeira de Rietveld também ganharam um ambiente no terceiro andar do CCBB, onde é possível ver as várias criações do artista para o objeto. Tjabbes, que diz ter uma delas em casa, confessa: “confortável não é, mas Rietveld tinha uma boa resposta para isso. Ele dizia que sentar é um verbo, uma atividade”. 

As obras preferidas do curador, entretanto, são do designer e fotógrafo Piet Zwart (1885-1977). “Ele usava as letras como forma escultural (nos trabalhos gráficos)”, destaca Tjabbes.

A maior parte do acervo é original e proveniente do Museu Municipal de Haia (Gemeentemuseum, Den Haag), da Holanda, que possui mais obras de Mondrian no mundo. 

Cafeteria homenageia artista com canecas e bolos

Influenciado pela nova exposição do CCBB-BH, o Sou Café, localizado no pátio do centro cultural, investiu em duas novidades. Alusivos aos famosos quadrados coloridos de Mondrian, o café irá oferecer ao público bolos e canecas personalizadas. 

O proprietário do local, Roberto Noronha, explica que a iniciativa é fruto de uma visão integrada do espaço. “Estamos atentos a toda movimentação cultural do nosso entorno, não apenas em relação às exposições, mas, também, à programação de teatro e férias”, exemplifica.

Para obter uma caneca, a partir de amanhã, é necessário consumir o café mineiro legítimo do estabelecimento e completar com mais R$ 15. Já os bolos, serão vendidos a partir do fim de semana. “Sou apaixonado por essas cores vivas que Mondrian trazia. Também gostei da ideia de poder fazer selfie na cadeira (de Rietveld), pois deixa o espaço mais democrático e acessível a todos”, considera Noronha.

Serviço:
Exposição “Mondrian e o Movimento De Stijl”. Visitas gratuitas a partir desta quarta-feira (20) a 26/9, de quarta a segunda, das 9 às 21 h, no CCBB (Praça da Liberdade, 450).

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