Muito além dos tons de cinza; autoras brasileiras aprovam força da literatura erótica

Jéssica Malta
jcouto@hojeemdia.com.br
19/02/2018 às 07:33.
Atualizado em 03/11/2021 às 01:26
 (Divulgação / Ed. Intrinseca)

(Divulgação / Ed. Intrinseca)

Não dá para negar que o sucesso estrondoso da franquia “Cinquenta Tons de Cinza”, da britânica E.L James – que apenas nos cinemas ultrapassou a arrecadação de 1 bilhão de dólares depois da estreia do último filme da trilogia, no dia 9 deste mês– foi responsável por “tirar do armário” a literatura erótica no mundo e destacar a força do gênero. Mas não é preciso atravessar o oceano para encontrar autoras que evidenciam o sucesso deste tipo de romance.

Um exemplo do êxito desse mercado é a escritora carioca Nana Pauvolih – pseudônimo escolhido para assinar suas obras. Ela, que escreve desde os 11 anos –hoje tem 43– decidiu mostrar pela primeira vez, suas obras na internet em 2012. “Eu não sabia se alguém ia gostar do que eu escrevia. Pesquisei sites que onde eu pudesse colocar capítulos das minhas produções e ter a opinião do público”, lembra Pauvolih. Na época, ela ainda trabalhava como professora de história, uma das motivações para o uso do pseudônimo. “Coloquei o primeiro capítulo de ‘A Coleira’ em um site, e no dia seguinte tinham seis pessoas comentando e pedindo mais. Fiquei animada e continuei. Quando terminei o livro, tinham 2 mil pessoas me acompanhando”, conta.

A escolha pela literatura erótica foi natural. “Sempre gostei de romance e de suspense. Como eu tinha muitos livros em casa, eu lia muito. Uma vez, ainda adolescente, peguei para ler o livro ‘Veneno’, de Cassandra Rios. Foi meu primeiro contato com o romance erótico. Achei muito legal e pensei: um dia vou escrever isso”, lembra Pauvolih. “Continuei escrevendo romances e aos poucos fui apimentando as minhas histórias e comecei a pensar: por que o romance não tem isso? Por que na hora do sexo eles fecham a porta do quarto?”, questiona.

Não é preciso dizer que ela optou por deixar a porta aberta em suas produções. A decisão lhe rendeu muito mais que os iniciais 2 mil leitores. Hoje, a autora que começou publicando de forma independente tem contrato também com as editoras Rocco e Planet, já acumula 98 mil e-books vendidos, 95 mil exemplares físicos e um total de 25 milhões de páginas visualizadas na Amazon – onde vende e publica suas obras, 18 livros até agora.

Refúgio

Antes dona de casa, a paranaense Katherine Laccom’t é outro exemplo da força da literatura erótica brasileira. Autora de 10 livros, ela já acumula mais de 100 mil exemplares vendidos. “Comecei a escrever em uma época difícil para mim. Naquele momento eu precisava de um refúgio e o encontrei na escrita”, diz ela, lembrando a data exata do início: 1º de janeiro de 2015.

Foi justamente em busca desse abrigo que a autora optou pelo pseudônimo de Katherine Laccom’t. “Criei o mundo da Katherine, mas não imaginava que o pseudônimo se tornaria o meu mundo”, afirma.

A empreitada no erotismo seguiu o gosto da autora. “As histórias são mais intensas, mais quentes, a dinâmica é mais interessante”, pontua ela. Mas nem tudo foi tão fácil. Ela lembra que no início, sua mãe não gostou muito da ideia. “Ela quase me deserdou” (risos). “Mas com o tempo ela viu que a filha era uma escritora que valia a pena. Preconceito e críticas existem em todos os meios, nesse não seria diferente. Mas a gente junta tudo, monta um rolo compressor e passa por cima. Hoje, tenho o prazer de dizer que sou uma mulher negra que escreve romance erótico e está se dando bem”, celebra.

Sem idealização

A trajetória da jornalista e pesquisadora Seane Melo começou em 2015, quando decidiu postar seus contos na plataforma de publicação Medium. “Já tive um blog, mas a coisa começou a andar um pouco melhor quando passei a postar no site. Comecei a ter um feedback das pessoas e não chegava só em que era meu amigo”, explica Melo, que hoje já acumula três mil seguidores, 54 contos eróticos e mais de 108 mil visualizações.

Sem pseudônimo ou idealizações, Melo relata situações e inseguranças comuns às mulheres em suas histórias. A autora conta que se inspira em sua vivência e na troca de experiência em conversas com as amigas e outras mulheres. “Comecei a desenvolver uma personagem que chama Vanessa, estou até preparando um livro que talvez seja publicado esse ano”, adianta. “Minha ideia é fazer um erotismo que tenha a visão da mulher. A intenção é que ela não seja a mulher fatal ou a que topa tudo. Ela está sempre com uma preocupação na cabeça. Gosto de estar muito próxima da realidade”, explica.Editoria de Arte

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