Multifacetado, Guilherme Castro tem trajetória dedicada ao rock em BH

Jéssica Malta
jcouto@hojeemdia.com.br
14/05/2018 às 18:21.
Atualizado em 03/11/2021 às 02:49
 (Isabel Castro/Divulgação)

(Isabel Castro/Divulgação)

“Quando entra um filho na jogada, a vida dá uma mudada geral”, confessa o músico Guilherme Castro, que lançou no último mês o disco “Fábula Rasa”, o segundo solo de sua carreira. Produzido ao longo de três anos, o álbum traz um mergulho na nova jornada do artista. “Ele tem essa alusão à tábula rasa, que é uma folha em branco, onde vamos construindo a nossa história. É um trabalho mais leve, que trata dessa coisa de se lançar numa aventura sem volta. Toda vez que a gente faz um disco é isso, lançamos no mar e deixamos ele ir”, afirma.

Mas a metáfora a uma página vazia, usada pelo músico, só serve para caracterizar “Fábula Rasa”, já que o currículo do multifacetado mineiro – que também é produtor, arranjador, pesquisador e professor – é repleto de experiências preenchidas em nome da boa música.

Retornando duas décadas, encontramos seu ponto de partida na cena mineira, a banda Somba. “Ela começou quando o Avelar (parceiro de grupo) e eu éramos da mesma turma de composição da Escola de Música da UFMG, e frequentávamos muito os shows do Cartoon e do Cálix. Nos identificávamos com a proposta deles e quisemos trazer as mesmas influências, mas com um toque de brasilidade mais acentuado”, lembra Castro. A banda, que já lançou quatro discos, cumpriu o que prometia em discos como “Abbey Roça” (2000) e “Clube da Esquina dos Aflitos” (2003).

A admiração inicial pelos colegas logo se transformaria em um frutífero projeto, já que no ano seguinte, em 1999, os caminhos do Somba acabaram se cruzando aos de suas influências locais. “Na época, eu trabalhava também como técnico de som e notei que o público das bandas tinha muita coisa em comum. Em uma conversa, acabamos decidindo fazer um show juntos”, lembra.

O encontro dos grupos rendeu shows em parceria, onde as bandas subiam ao palco em apresentações separadas. Mas, para surpresa dos músicos, a atração final, que reunia todos em uma espécie de jam session, agradou muito o público.

Foi desse formato que surgiu a Orquestra Mineira de Rock, hoje um símbolo da cena belo-horizontina. “Acho que ela é um caso raro, até mesmo para as bandas, porque não é comum encontrar situações de três grupos tocando juntos como uma orquestra e aquilo encontrar recepção do público”, diz o músico.

Hoje, diante de um momento de baixa mercadológica do estilo, ele avalia que o rock se mantém vivo, mas diante de desafios. “É um cenário bem complicado, em geral. Ele não está mais no mainstream porque se embrenhou muito para o lado do produto e perdeu a capacidade de gerar ruídos, virando meio que uma ordem, um propositor de ordem”, observa. Particularizando a capital mineira, existem ainda outros desafios. “Tem a questão de o público ter se acostumado muito com o trabalho de bandas covers. Elas têm seu valor por manter a memória, mas ao mesmo tempo, isso propõe uma carga maior de entretenimento do que uma proposição artística de tentar questionar alguma coisa”.

Além disso

Castro também coloca em diálogo o meio acadêmico e a vida prática. “Para mim é perfeitamente possível falar de música popular, de rock, gravação, dentro da academia. Faz bem tanto para ela quanto para o mercado”, pontua o artista. Assim, suas pesquisas conectam-se em suas produções musicais: além dos discos do Somba, seu primeiro álbum solo, “Gastrophonic”, foi um desdobramento de sua tese de doutorado. Intitulada “A Performance do Som”, o trabalho foi premiado pela Funarte.

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