Ganhador do Festival de Berlim e um dos nove filmes pré-selecionados para o Oscar de melhor produção estrangeira em 2018, o húngaro “Corpo e Alma” é uma simples história de amor que, paradoxalmente, não tem nada de simples. Essa contradição é o que sustenta a narrativa do longa, com estreia hoje nos cinemas do país. Mária e Endre se gostam no momento em que se conhecem, mas não conseguem expressar seus sentimentos porque há uma série de obstáculos inerentes aos tempos atuais.

Praticamente todas as tentativas mais diretas de aproximação dão errado. O único instante em que eles obtêm algum êxito é no mundo dos sonhos, quando se encontram na forma de dois cervos enamorados num terreno coberto de neve.O filme envereda por este campo onírico como uma maneira de evocar um lado primitivo, fundamental, que parece ter sido esquecido num dado momento da evolução humana.

Ambos estão machucados mental e fisicamente. Ela vai constantemente a um psicólogo de sua época de criança, mostrando dificuldades de encarar a vida adulta. Já ele está imobilizado de outra forma, após perder o movimento de um de seus braços. O retrato dessa dor se reforça no contraste entre o belo campo exibido no sonho e o matadouro onde a dupla trabalha, símbolo de uma realidade enlouquecedora. A todos que entram na empresa, Endre avisa sobre o que os aguarda.

O branco das roupas dos funcionários encontra paralelo na neve presente nos sonhos. Já a carne é representativa dos dois “animais”, cheios de vida no universo paralelo e mortos no lado de lá. Entre idas e vidas temporais e amorosas, há uma cena que sintetiza a mensagem do filme, sobre superação dos traumas. No momento em que transam. Mária segura Endre no lado do membro imóvel, enquanto ele a sustenta do outro lado, aonde o braço dela está machucado.

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