Nélida Piñon se debruça sobre a cultura ibero-americana em 'Filhos da América'

Cinthya Oliveira
cioliveira@hojeemdia.com.br
21/11/2016 às 17:55.
Atualizado em 15/11/2021 às 21:45

Carioca criada em Vila Isabel e filha de galegos, Nélida Piñon viveu desde o berço em meio a duas ricas culturas. Não à toa, na infância já se apaixonou pela história e cultura dos povos ibero-americanos, que acabaram se tornando seu foco de atenção ao longo dos 79 anos de vida. 

A vivência e os pensamentos da escritora sobre a cultura latina estão presentes em “Filhos da América” (Record), livro de 28 ensaios em que ela aborda assuntos diversos, como sua trajetória, as matrizes do imaginário ibero-americano, e grandes escritores, como Machado de Assis, Júlio Cortázar, Rachel de Queiroz e Heródoto.

Segundo a autora, é um livro que foi construído há pouco tempo, a partir de muitas reflexões. “Sou muito antenada com meu ofício e as questões culturais que envolvem meu país e as Américas. Desde muito cedo, fui apaixonada pelo mundo ibero-americano, de modo que me dediquei a ler sobre as civilizações autóctones (pré-colombianas)”, explica Nélida Piñon.

“Gosto de observar como ainda somos filhos daquele pensamento (pré-colombiano). Especialmente no Peru, é perceptível quanto essa grande cultura foi mutilada e deixou sequelas terríveis no povo. Tenho a sensação que até hoje os remanescentes dos Incas são seres sofridos, como se esperassem a reconstrução do império demolido”, completa.

Em vários dos ensaios, Nélida mostra como esse passado permanece nas sociedades por meio do imaginário dos povos. “Não há sobras em nós, tudo está ativado no inconsciente”, diz Nélida, que se afirma escritora 24 horas por dia, por entender que seu ofício vai muito além do sentar em frente a um computador. “Sou a escritora que não sabe mais separar a linguagem e os sentimentos. Aprendi a amar o mundo e o alheio através da escrita, da palavra”. 

Feminismo

Autora de 20 obras, primeira mulher a assumir a presidência da Academia Brasileira de Letras e dona de importantes prêmios internacionais, Nélida é um símbolo importante na história das conquistas das mulheres brasileiras. E a autora se mostra admirada com o fortalecimento que o feminismo tomou nos últimos anos, especialmente após o surgimento da palavra “empoderamento”. 

“As palavras surgem por uma necessidade e o conceito de empoderamento surgiu para estimular a mulher que se empodere, não somente da sua vida particular como também de sua vida coletiva”, diz.

Nélida conta que num passado não muito distante viu muitas mulheres satisfeitas com as conquistas, sem entenderem quanto mais havia para ser buscado. “Lhe faltavam noções históricas sobre as conquistas, a visão do que passaram as mulheres de épocas pretéritas. Eram mulheres cegas para a realidade social. Muito contentes sem se dar conta de que a conquista viera de longe e que essa conquista é defeituosa, pois muitas mulheres ainda são assassinadas e espancadas”. 

As conquistas devem acontecer, inclusive, no mundo da literatura. Na ABL, por exemplo, há 35 homens e apenas cinco mulheres. “Em todo evento, se vê nas fotos, há cinco homens e uma mulher. Isso porque a mulher ainda não tem o mesmo peso estético, o reconhecimento”. 

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