Na contramão do estilo normcore, entram em cena os pelos (des)coloridos

Vanessa Perroni - Hoje em Dia
24/08/2015 às 07:20.
Atualizado em 17/11/2021 às 01:28

Que as barbas estão em alta, meio mundo já percebeu – e está aí a tendência lumbersexual que não nos deixa mentir. A novidade – já perceptível nas ruas da capital mineira –são os homens que resolveram acrescentar um toque bem particular a essa moda: o colorido.

A moda teve o start nos Estados Unidos, no fim do ano passado, mas não pegou propriamente todos os representantes do chamado “sexo forte” de surpresa por aqui. E um bom exemplo é Efe Godoy. Mineiro de Sete Lagoas, o vocalista da banda Absinto Muito, de 26 anos, já havia sim, experimentava cores diferentes em seu visual.

No início deste ano, por exemplo, descoloriu barba e cabelo. Com layout repaginado e platinado – outra tendência –, ele já está pensando na próxima cor. “Pintei para o Carnaval e não mudei mais. Agora, penso em metade branco e metade preto”, brinca.

UM ATO POLÍTICO

Godoy dá de ombros aos olhares desconfiados. Na verdade, se não os recebe, sente falta. Mas frisa que manter o visual “diferente” tem dois lados. “Muitas pessoas me param para falar que é legal. Mas tem quem critique e fale que pessoas que pintam barba e cabelo são gays. Pura homofobia”, lamenta. Para o músico tudo é experimentação. “É como se fosse um caderno de desenho para você preencher”, compara.

Assim como ele, o servidor público Túlio Castanheira, 32 anos, chama atenção por onde passa. Com seu cabelo platinado, o rapaz conta que pintou a barba pela primeira vez aos 15. “Tinha descoberto a água oxigenada”, brinca.

Túlio manteve os fios da cabeça descoloridos por dois anos. Enquanto muitos sofrem com os fios brancos, ele não. “Vim da escola do punk, então, geralmente já pintava o cabelo. E tem a questão da provocação, pois muitos acham essa atitude ‘coisa de favelado’”, explica.

Ele relata que certa vez, em uma reunião de trabalho, chegou a ouvir um comentário racista. “Uma colega disse que descolorir o cabelo era ‘coisa de preto’. Assim, com essas palavras!”, indigna-se, com justa razão. “Portanto, (adotar esse visual) é também um ato político”.

AXILAS

Mas não foi somente barba e cabelo a ter um encontro feliz com a água oxigenada na vida de Túlio. No fim do ano passado, uma moda tomou conta da internet: mulheres colorindo os pelos das axilas. O ato foi alvo de muitas críticas.

Frente a isso, Túlio, todo cheio de atitude, decidiu aderir. “É muita gente querendo cuidar da vida dos outros. Como sou desprendido de vaidades, vou lá e faço. É mais no sentido de provocação mesmo”.

A moda das axilas coloridas despontou no Instagram e Tumblr com a hastag #dyedpits. Até Lady Gaga publicou foto, com os pelos na cor verde. Mas quem ficou mais conhecida foi a cabeleireira americana Roxie Hunt, que postou um vídeo com o passo-a-passo de como colorir os fios. Foram mais de 32 mil compartilhamentos do post no Facebook.

‘É uma tendência na Europa’, diz o professor Albino

A professora de história Nicole Cóia, 30, não consegue ficar mais do que três meses com a mesma cor de cabelo. Recentemente, optou pelo branco. “Já tinha tido, em 2011. Gosto bastante”, conta. Ela entende que a cor não a deixa com um semblante envelhecido, mas se diverte com as reações na rua. “Tem senhoras que me param para saber como deixo o cabelo dessa cor”, orgulha-se.

Na época em que mantinha o cabelo longo, alguma pessoas a confundiam com uma “senhora”, quando vista de costas. “Já aconteceu de pessoas mais velhas falarem para eu não fazer isso. Mas, em geral, recebo mais elogios do que críticas”. O marido? “Ele me apoia muito. Tanto que, no nosso casamento, disse para eu ir com a cor de cabelo que quisesse. E fui com ele todo colorido”, ri.

ENQUETE NO FACE

Quem tem roubado a cena em BH é o professor universitário Jose Albino, ou simplesmente Albino, 51 anos. Com cabelos e a barba azul, ele recebe muitos olhares, mas diz não ser alvo de nenhuma crítica. “Quem me conhece está acostumado com meu jeito de usar roupas mais coloridas e vivas. Pintar a barba foi só um ‘plus’”, brinca ele, que já posou para catálogo da grife Elvira Matilde.

Há dois meses com a barba colorida, ele lembra que também é consultor de uma indústria de cosméticos – de onde veio a ideia do novo visual. “É uma tendência na Europa nesse semestre. Essa indústria queria lançar a moda no Brasil e topei o desafio. Sempre gostei de experimentação”. Para escolher a cor, ele lançou uma enquete em seu Facebook: “Roxo, azul ou verde?” Azul acabou sendo a cor mais forte.

Mas como manter a cor viva dá muito trabalho e requer cuidados, ele pensa em mudar para uma menos trabalhosa: o roxo.

O estudante de relações públicas Hudson Freire, 20 anos, nutria há muito tempo a vontade de colorir os fios do rosto. O martelo foi batido quando viu um jogador de rugby com a barba rosa. “Achei muito legal”.

AGRESSÃO INJUSTIFICADA

E foi no Carnaval deste ano que concretizou o sonho. “Estava de férias, e com os blocos na rua, vi um bom momento para isso”, conta ele, que inicialmente optou pelo rosa, para o qual retornou após uma passagem pelo azul.

Os amigos aprovaram, mas Hudson também se deparou com muitas críticas. “Muitos não gostam do diferente. Já aconteceu de, usando a faixa de pedestre, alguns motoristas me chamarem de aberração”, lamenta ele, com justa razão. Hoje, Hudson está com o tom natural na barba – ao menos até o fechamento desta edição!

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