No Dia da Mulher, cantoras sertanejas rebatem o machismo

Thais Oliveira - Hoje em Dia
08/03/2016 às 07:04.
Atualizado em 16/11/2021 às 01:43
 (Lucas Prates)

(Lucas Prates)

“Agora chora implora/Você não quis me dar valor/A sua vez já passou”. A letra bem que poderia ser de João Bosco & Vinícius, a dupla do hit “Chora, Me Liga”, conhecida pelos versos “Chora, me liga, implora/Meu beijo de novo/Me pede socorro/Quem sabe eu vou te salvar”. Mas não é. “Agora Chora” é a mais nova música de trabalho da cantora Dani Morais. Ela é uma das artistas que engrossam o coro do feminismo, ao mostrar que a mulher pode, sim, dar a volta por cima e fazer o que quiser. Neste caso, a bandeira se dá por meio da música – especificamente do sertanejo.
 
Marcado pela forte presença masculina no vocal, nesse estilo, por sinal, a mulher ainda galga por espaço igualitário no palco. Não, claro, por falta de esforço. No Dia Internacional da Mulher, o Hoje em Dia apresenta algumas delas que estão se destacando na arte, ao trazer canções de empoderamento feminino.
 
Batalha

Dani Morais participou do programa “Ídolos” (Record) em 2009 e ficou mais conhecida ao chegar à semifinal do “The Voice Brasil” (Globo), em 2012. A estrada, porém, não tem sido fácil. Ela ouviu bastante palavras de desânimo, às quais nunca deu importância. “Para menosprezar o nosso esforço, sempre encontramos gente demais. Quando saí de casa, muitos não acreditavam que eu fosse conseguir algo na vida”, afirma.
 
Buscando por espaço, Dani não ficou esperando a oportunidade surgir e foi atrás do sonho. Nascida em Pedra Azul, no Nordeste de Minas, ela saiu de casa sozinha, aos 17 anos de idade, para cursar Arte em Montes Claros e graduou-se em Canto Lírico.
 
“A todos (os programas de TV) que fui, consegui ir sem indicação. Fui com a cara e com a coragem. E, graças a Deus, muitas portas foram abertas depois disso”.
 
‘Falta coragem’

Dani conta que, ao menos no sertanejo, não sentiu preconceito por ser mulher. Isso porque, para a mineira, o gênero está, casa vez mais, se abrindo ao universo feminino, a exemplo dos trabalhos de cantoras como Paula Fernandes e Marília Mendonça.
 
O caminho a percorrer, porém, é longo. “Não chegamos ao nível de igualdade de poder falar o que pensamos sempre. Falta coragem. A mulher que bota a cara e defende as suas ideias ainda é minoria”.
 
“Ouvimos que os homens vão para a balada... As mulheres têm o direito de resposta. A gente quer amar, mas não ser submissa”, diz Dani Morais.

Badalar e lutar contra a violência são bandeiras das sertanejas

Ficar em casa, chorando as “pitangas” por causa do amor perdido, é coisa do passado. Pelo menos na música, a “sofrência” das sertanejas é regrada a doses de bebidas dentro do bar. A vida também é celebrada na balada. Com participações de Gusttavo Lima e Fernando & Sorocaba em “Fica Louca” e “O Que Acontece Na Balada”, respectivamente, Thaeme, que forma dupla com Thiago, é uma das vozes que se levantaram para apoiar a “rua” como lugar de diversão para ambos os sexos.


  Thaeme, que faz dupla com Thiago

Na esteira de Thaeme, as gêmeas Maiara e Maraísa, de Mato Grosso, lançaram o hit “10%”. “A gente fala da mulher que vai para o bar, sofre e bebe para esquecer e, além disso, é independente. Nossas músicas falam do sentimento e de como damos a volta por cima nas dores”, comenta Maraísa.
 
A dupla, inclusive, é exemplo quando o assunto é dar a “volta por cima”. Segundo Maraísa, hoje não são discriminadas devido ao machismo que, para ela, existe, sim, no sertanejo. A situação, contudo, é diferente de tempos atrás. “Somos recebidas de braços abertos e o público tem lotado os shows com repertório na ponta da língua. (Mas já) sofremos, éramos gordinhas, cantoras e as pessoas torciam o nariz”.
 
Mulheres no poder

Levantando a questão da valorização da mulher, elas gravaram a canção “Se Olha no Espelho. “Muitas se abatem (pelos homens), se sentem inferior e acabam perdendo a vaidade. Nesta música, que dividimos com o saudoso Cristiano Araújo, a gente tenta levantar a autoestima dessas mulheres”, diz Maraísa.

Já em “Mexidinho”, as mulheres surgem dominadoras, mostrando porque os homens não conseguem viver sem elas. “A música fala que a mulher sai com as amigas, mas o marido não larga, mesmo ela bebendo, porque eles se entendem bem entre quatro paredes. Defendemos uma igualdade”, ressalta.

 

DIRETO DE MATO GROSSO – “Defendemos uma igualdade, sim. A mulher é o sexo forte e consegue ser feminina”, diz Maraísa, que forma dupla com a irmã. Foto: Rubens Cerqueira/Divulgação

 
Violência contra a mulher

A dupla Simone & Simaria, de Fortaleza, também reforça essas e outras questões. Somente o clipe “Ele Bate Nela”, lançado em 2014, no YouTube, as moças acumulam mais de 14 milhões de visualizações. A canção se tornou um hino contra os homens que usam de violência para maltratar as mulheres.
 
O hit retrata o cara que prometeu ser um “anjo” na vida da esposa, mas, depois de um tempo, vê a sua “máscara” cair. “Agora ele bate/Bate nela/E ela chora”, diz um trecho. Ao final do clipe, uma mensagem surge na tela pedindo que as vítimas denunciem o abuso por meio do número de telefone 180.
 
Poderosas e, por que não, também românticas?

Apostando no romantismo, a cantora de Goiânia Marília Mendonça, de 20 anos, lançou “Sentimento Louco” para mostrar que a mulherada também pode escolher se entregar ao amor. “Acredito que quem ame não tem de ter medo de se expor e falar o que sente”. Já em “Infiel”, o cara que trai não tem vez e a companheira não hesita e colocá-lo para fora de casa. “Precisamos parar de aceitar o que é ‘cultural’, o tal de ‘na minha época era assim, na minha época era assado’. Na verdade, isso é uma questão de respeito. Apenas estamos lutando pelo o que é certo”, afirma Marília.

 

  Cantora Marília Mendonça

 

Assim como as outras cantoras, Marília diz não sofrer tanto preconceito e tem recebido apoio dos artistas atuais do gênero. A moça, porém, registra que a desigualdade ainda fala alto, não somente na música, mas em todas as esferas sociais. “A gente percebe pelo salário, que ainda há desigualdade, sim, mas isso a cada dia tem diminuído. A gente estuda, dirige ônibus... Tem muita coisa boa acontecendo”.
 
De igual para igual

Expoente do Mato Grosso do Sul, Paula Mattos compartilha da visão de Marília. “Agora temos mais espaço para falar de igual para igual”. Conhecida primeiramente como compositora de hits que fazem sucesso nas vozes de artistas como Gusttavo Lima, Thaeme e Thiago, Munhoz e Mariano e Luan Santana, entre outros, Paula reforça o direito da mulher de fazer o que quiser. “Trago o romantismo e também as baladinhas. Super apoio a mulher ir para balada e se divertir”, finaliza.


Cantora Paula Mattos

Assista aos vídeos:

 

 

"Agora Chora", de Dani Morais

"Ele Bate Nela", de Simone e Simaria
 

"Fica Louca", de Thaeme e Thiago (participação de Gusttavo Lima)

"10%", de Maiara & Maraísa

"Sentimento Louco", de Marília Mendonça

 "O Povo Fala", de Paula Mattos (participação de Munhoz & Mariano)
 

 

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