No meio do Ártico: sistema 'do futuro' permite preservar filmes por até 10 mil anos

Paulo Henrique Silva / Enviado Especial (*)
phenrique@hojeemdia.com.br
19/06/2018 às 06:00.
Atualizado em 10/11/2021 às 00:48
 (PIQL/DIVULGAÇÃO)

(PIQL/DIVULGAÇÃO)

OURO PRETO – Uma Terceira Guerra Mundial tem início, destruindo praticamente tudo no planeta. Você é o único sobrevivente. Se estiver próximo ao Polo Ártico e conseguir se locomover até o arquipélago de Svalbard, poderá acessar uma caverna onde filmes e documentos importantes estarão totalmente preservados.

O cenário apocalíptico pode soar exagerado, mas foi pensando nele que a norueguesa Piql criou um sistema de preservação que poderá ser a solução para a maior dor de cabeça dos cineastas hoje em dia: com a mudança constante de suporte, qual seria a melhor maneira de conservar um filme sem que ele sofra deterioração?

Apresentado nessa segunda (18) durante a 13ª Mostra de Cinema de Ouro Preto (CineOP), na véspera do dia do Cinema Brasileiro – celebrado nesta terça-feira (19) –, o sistema é um presente para uma cinematografia que perdeu parte de sua produção feita na metade do século passado e que vê a Cinemateca Brasileira – principal depósito de filmes no país – ser sucateada.

“Basta olhar para a obra de Aleijadinho nas igrejas e o que aquele suporte representa. Ele fez algo há mais de 200 anos e consegue falar com a gente até hoje. A gente sabe exatamente o que ele queria dizer naquela época, sem saber o que seria a tecnologia no futuro”, destaca Roberto Carminati, diretor-técnico da Piql no Brasil. 

No Ártico, você não verá nenhuma tecnologia inédita para preservar os filmes, mas sim a velha e boa película de poliéster, recorrente no cinema até o digital promover uma transformação na indústria. “Qualquer arte que persistiu no tempo foi por causa do suporte. Mas os únicos que existem desde a sua invenção são o papel e a película”, salienta o executivo. 

Na verdade, o sistema da Piql é um híbrido, em que um material em poliéster mais evoluído serve de suporte para material gravado em bytes, transformando a fotografia tradicional em códigos binários. Ele não depende de uma máquina própria para ser visto, bastando uma câmera de celular e um scanner. PIQL/DIVULGAÇÃO / N/A

Custo é sete vezes menor do que uma cópia em película

Mina de carvão

No pior dos cenários, você pode pensar onde conseguir um pequeno computador, mas na própria película há instruções (em várias línguas) sobre como fabricar um. “Criamos o Piql já pensando que você poderá ser o único sobrevivente na Terra e que poderá acessar os rolos mesmo que não entenda nada de computação”.

E não estamos falando de um futuro próximo, já que o frio do Ártico permite que tudo esteja bem conservado daqui a dez mil anos. O material é guardado em contêineres alojados numa antiga mina de carvão de três mil quilômetros de extensão. Com cerca de três mil habitantes, Svalbard abriga o último aeroporto mais ao Norte com operação comercial.

Além de longe, o fato de fazer parte de um tratado assinado em 1920 por todos os países, para uso com fins pacíficos, reforça a questão segurança, pensado para evitar hackers e danos por mudanças geológicas. “Se houver um derretimento de todo o gelo no planeta, o mar subirá 30 metros. A mina está a 180 metros, uma folga boa para qualquer erro de cálculo”, ressalta.

E um asteroide? “Ele gira ao redor do Sol, assim como o planeta. Se cair, é provável que seja próximo à linha do Equador, como foi aquele que dizimou os dinossauros há milhões de anos, na região do México”, explica. O repórter provoca: e se um míssil atingir o local? “A dois quilômetros do bunker está o banco mundial de sementes. Se destroem a possibilidade de alimentação e sobrevivência, ninguém estará mais preocupado com filme”.

(*) Repórter viajou a convite da organização da CineOP

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