"O Som ao Redor": Após conquistar crítica, é a hora do aval do público

Paulo Henrique Silva - Do Hoje em Dia
10/01/2013 às 10:43.
Atualizado em 21/11/2021 às 20:29
 (Divulgação)

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Feliz, claro. O diretor pernambucano Kleber Mendonça Filho, no entanto, não nega a surpresa com tamanha unanimidade em torno de seu filme "O Som ao Redor", um dos mais importantes longas-metragens brasileiros lançados nos últimos anos e que acaba de figurar no top ten dos melhores de 2012 do jornal "The New York Times".

"Nenhum filme tem a obrigação de agradar tanto. Não tenho essa obrigação com meus filmes nem com meus filhos, pois não irei esperar deles que passem de ano todas as vezes. Foi um ano incrível, especialmente no final de 2012, quando foram publicadas as listas de melhores no Brasil e no exterior. Foi a preparação perfeita!", comemora.

A preparação de que fala o cineasta é do lançamento nos cinemas, já que o aparecimento do título em jornais importantes serviu como publicidade gratuita. "Dinheiro nenhum compra essa publicidade que o filme ganhou. Hoje o mercado é dividido entre os que não têm grana e os que têm muita para bancar publicidade, só que esta é geralmente artificial".

Ápice

"O Som ao Redor" é o ápice de uma safra de produções pernambucanas que discutem os contrastes sociais presentes de forma velada na sociedade brasileira atual. Kleber concorda que há esse diálogo entre o seu longa e obras como "Boa Sorte, Meu Amor" e "Domésticas", mas destaca que não é fruto de um movimento arquitetado.

"Conexões que provam a sintonia entre realizadores tão diferentes. Pernambuco é um estado fértil em discordância e questionamento. Durante muito tempo vivemos o estado de espírito da pobreza e, depois da injeção de dinheiro na última década, o desenvolvimento não foi muito inteligente, com o urbanismo se transformando num caos", reflete o cineasta.

Vidraça

Além de enxergar um problema que capturou a imaginação de uma geração de diretores, os filmes "não são ruins", na avaliação de Kleber. "Poderia ser apenas uma onda de filmes que tentar chegar lá e não chegam. Eles se seguram", ressalta o cineasta, que foi crítico de cinema antes de deixar a posição de "estilingue" para virar "vidraça".

A trama de "O Som ao Redor" acompanha alguns dias de um bairro de classe média de Recife. Há uma tensão crescente a partir de um estado de intolerância que apenas reprisa arquétipos do passado.

Kléber cita o comentário de um blog que associa os diversos personagens ao retrato do país em 1888, com seus "coronéis", capitães-do-mato, escravos recém-alforriados e abolicionistas.

O realizador filtrou tudo isso da janela de seu apartamento no bairro de Setúbal, onde filmou grande parte das sequências. A palavra som não está no título por acaso, ganhando papel central na narrativa.

"Como moramos muito próximos uns dos outros, temos um grande compartilhamento de sons. É algo muito particular das cidades brasileiras. No filme, esses ruídos são usados para potencializar a tensão. Foi uma surpresa perceber a reação visceral dos espectadores ao que ouvem".

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