O vagabundo iluminado: há 20 anos, 'O Grande Lebowski' deu ao mundo um personagem inesquecível

Lucas Buzatti
lbuzatti@hojeemdia.com.br
23/07/2018 às 19:16.
Atualizado em 10/11/2021 às 01:33

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 Em julho de 1998, os irmãos Ethan e Joel Coen deram cria a um dos personagens mais divertidos da cultura pop. Protagonista do filme “O Grande Lebowski”, Jeff Bridges vive um maconheiro quarentão, ávido por boliche e “white russian”, que se envolve em confusões por conta de um homônimo milionário e de um tapete estragado. Pode parecer besteira – e não deixa de ser – mas “The Dude” (O Cara, em português), como o tal vagabundo gosta de ser chamado, é um anti-herói idiossincrático e à frente de seu tempo. “Apesar de ser um filme típico dos anos 90, ele antecipa questões que atingiram os EUA na década seguinte, como a crise econômica, a violência e a normalização do uso da maconha”, ressalta o jornalista Matias Maxx sobre o longa, que tornou-se um fenômeno cult anos depois. Mas por quê tanto frisson? Listamos dez motivos para te ajudar a entender. 

Drogas O filme é um dos primeiros a apresentar o usuário de drogas de forma humana. “Ele mostra o usuário de maneira caricata, mas não alarmista. Faz humor com o que cerca sua condição de usuário, sem ser pejorativo”, defende Matias Maxx. “A trama não gira em torno da maconha, mas o personagem é um ex-hippie que fuma maconha e não faz mal a ninguém. De certa forma, o filme antecipa o momento que os EUA vivem hoje, com relação à questão da maconha”, completa.

Igreja – “The Dude” influenciou toda uma geração posterior ao filme, que idolatra seu jeito largado e sua filosofia de vida. Quer algumas provas? A principal delas é que o personagem inspirou uma religião, o “Dudeism”, criada em 2005 pelo jornalista Oliver Benjamin. Trata-se de uma espécie de doutrina inspirada no personagem e nos preceitos do Taoismo, cujo nome que oficial é The Church of the Latter-Day e que conta com mais de 200 mil adeptos. Além disso, acontece, desde 2002, o “Lebowski Fest”. O festival começou em Lousville, Kentucky, mas as últimas edições já envolveram mais de 30 cidades norte-americanas. Com milhares de cosplays dos personagens e participações de atores do filme, o evento inclui festividades que vão de exibições do filme a campeonatos de boliche, passando por concursos de “white russian”, o drink favorito de “Dude”. O filme teve, ainda, uma loja própria em Nova York, intitulada “Little Lebowski Shop”. O estabelecimento, criado pelo fã Roy Presto, fechou em 2015.N/A / N/A

 Confraria John Turturro (Quintana), Philip Seymour Hoffman (Brandt), Julianne Moore (Maude) e David Huddleston (Lebowski). Parte do elenco foi formado por amigos já cativos dos irmãos Coen: tanto Buscemi quanto Goodman apareceram em mais cinco outros filmes da dupla; já Turturro, em outros quatro. 

Real – Pouca gente sabe da existência do verdadeiro “Dude”, que inspirou os irmãos Coen a criarem o protagonista de “O Grande Lebowski”. A figura em questão chama-se Jeff Dowd e trabalhou na distribuição do primeiro filme dos cineastas, “Gosto de Sangue” (1984). Assim como o personagem de Jeff Bridges, Dowd – que também se autointitulava “The Dude” – tinha um figurino peculiar, era um maconheiro relaxado e integrante de um grupo pacifista anti-guerra. Fã confesso de “white russian”, o homenageado deu seu aval ao filme e acompanhou as gravações, em 1997. N/A / N/A

 Técnicas – “O Grande Lebowski” traz efeitos e tecnologias inovadoras para a época, como na cena em que “Dude” vive uma intensa “viagem” de ácido. “Aquilo é muito bem feito para os anos 90. É um 3D  ‘maneiro’, com um jogo de câmeras bem pensado”, afirma Matias Maxx. As cenas de boliche também foram um desafio: os Coen contam que foi preciso uma grua em forma de carro, programada para andar na velocidade média de 20 metros por hora para seguir as bolas, que eram reais.

Elegância – Um dos grandes pontos de devoção dos entusiastas do filme são as roupas vestidas por “Dude”. Do casacão andino ao roupão, das bermudas ao chinelo marrom e os óculos escuros, grande parte das peças pertenciam ao armário particular de Jeff Bridges. Outro destaque dos fãs, o vocabulário do personagem guarda curiosidades: a palavra “dude” é dita 161 vezes ao longo do filme, enquanto “fuck” e suas variações são faladas 292 vezes e, “man”, 147 vezes. N/A / N/A

Memético  Como qualquer fenômeno pop, “O Grande Lebowski” traz alguns bordões icônicos. O mais inesquecível deles é “The Dude Abides” (algo como “o cara permanece”). O curioso é que a frase, segundo os Coen, foi inspirada na Bíblia. A sacada veio do versículo “Eclesiastes 1:4”, que diz: “One generation passes away, and another generation comes: but the earth abides forever“ ( em português, “uma geração se passa, outra geração vem, mas a Terra permanece”).

Música Ex-hippie, “The Dude” tem preferências musicais que fazem da trilha sonora um caso à parte – para além de seu bizarro gosto por ouvir gravações de campeonatos de boliche. A trilha traz músicas de nomes como Creedence, Bob Dylan, Elvis Costello, Captain Beefheart e Nina Simone. Há, ainda, uma citação à banda fictícia Autobahn, que na verdade seria uma paródia da banda alemã Kraftwerk. Outra curiosidade musical é a participação especial do baixista Flea, do Red Hot Chili Peppers.N/A / N/A

 Mistérios Fica aquela pergunta incômoda: tudo bem que o “Dude” é um vagabundo relaxado, mas de onde ele tira dinheiro para seu boliche e seus “white russians”? Segundo rascunhos originais do filme, a fonte de rendimentos de Lebowski é bastante curiosa: o protagonista seria herdeiro da fortuna do cubo de Rubik, o famoso cubo mágico. A hipótese, que foi descoberta anos depois, acabou não entrando para as linhas originais do filme. 

Justiça tardia À época do lançamento, “O Grande Lebowski” foi duramente recebido pela crítica, vindo a ser reconhecido como fenômeno cult somente anos depois. Em março deste ano, o site português “Público” convidou críticos que escreveram em 1998 para revisarem seus comentários sobre o longa. “Acho que é o filme exemplar de insiders, que fala de um modo muito astuto àqueles que estão predispostos a gostar dele. Ou estamos dentro, ou não estamos dentro”, disse Daphne Merkin, do “The New Yorker”.N/A / N/A

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