Odair José dispara críticas pra todo lado no show “Gatos e Ratos”, agora em BH

Thais Oliveira
taoliveira@hojeemdia.com.br
20/03/2017 às 18:59.
Atualizado em 15/11/2021 às 13:49

Se fosse na época da ditadura, talvez o mais recente trabalho de Odair José não fosse, por assim dizer, “bem aceito”. Em “Gatos e Ratos”, o cantor, um dos nomes mais perseguidos pelo regime militar, critica a política atual, a impunidade, a cobrança abusiva de impostos, enfim, a “moral imoral” – como diz o título de uma das canções. O músico outrora taxado de brega chega a Belo Horizonte sábado com guitarras afiadíssimas para o show mais roqueiro e com ares de protesto que fará no Teatro Bradesco.

“O show é, sim, para divertir, matar a saudade, mas, acima de tudo, para refletir, para a gente repensar as coisas”, avisa ele, que não pisava num palco belo-horizontino há mais de 15 anos. 

Reconhecido por músicas como “Eu Vou Tirar Você Desse Lugar”, que abordava drama vivido por uma prostituta e “Pare de Tomar a Pílula”, considerada pelos militares uma apologia ao uso de anticoncepcionais e censurada, o artista diz que o novo disco é mais “honesto” do que os feitos entre 1980 e 2000. 

“Parece que o que escrevo, as pessoas só entendem 40 anos depois, como foi com ‘O Filho de José e Maria’. Não quero ser pretensioso, mas minha música é atemporal, serve para muito tempo. Pode ser que as pessoas finjam que não estão entendendo (o disco) ‘Gato e Rato’ hoje”

“Aqueles discos não têm nada a ver comigo, são muito produzidos. Nesse (em ‘Gatos e Ratos’) estou lá dentro. Na verdade, esse é o Odair José que sempre deveria ter sido conhecido”, afirma. “Sempre gostei de guitarra e não usava tanto como hoje. Sempre rodei o país como se fosse uma banda de garagem e, no disco, gravava com violinos e por aí vai. Agora, (o trabalho) está mais sincero”, acrescenta. 

O álbum chega depois de “Dia 16”, lançado em 2014. Segundo Odair, desde aquela época já havia um desejo de fazer um trabalho sobre o “antagonismo” vivido no país. “Me veio a ideia de falar do gato e do rato, dessa coisa de estar todo mundo disputando um pedaço de bolo. E quem teria que vigiar pede para comer junto”, afirma. 

Não à hipocrisia 

A faixa-título já manda logo o recado. A canção fala sobre uma decepção com aqueles que pedem para os outros não errarem, mas fazem tudo errado. Sobra para todo mundo. “Não podemos esquecer que nossos administradores são reflexo da sociedade, o que é mais triste, desagradável”, afirma. 

Já em “Carne Crua”, o artista fala da turma do esgoto, “do luxo da boca do lixo”. “Gosto da coisa do esgoto, porque acho que é a coisa mais limpa que existe. A hipocrisia não está na rua, está nos grandes salões. O rato está na rua e o gato está no salão. Mas, no meu conceito, os dois se misturam, que é o que eu queria que acontecesse”, filosofa. 

O repertório inclui ainda “A Culpa é do Henrique”, que fala que a “ordem é encobrir o malfeito, tentar esconder o trambique”, e “Moral Imoral”, cuja crítica é contra a repressão sexual. 

O repertório do show traz, além das músicas do disco novo, clássicos como “Cadê Você”, “A Noite Mais Linda do Mundo (Felicidade)” e “Nunca Mais”, que faz parte da ópera rock dele “O Filho de José e Maria”, que comemora 40 anos de lançamento em 2017, entre outros. Músicas do álbum anterior, como “Dia 16” e “Fera”, também serão apresentadas. 

Serviço: Show “Gatos e Ratos”, de Odair José. Neste sábado, às 21h, no Teatro Bradesco (rua da Bahia, 2244, Lourdes). Ingressos: R$ 60 e R$ 30 (meia). Outras informações: 3516-1360.

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