Os cinquenta anos das manifestações que repercutiram na sociedade, retratadas em vários filmes

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
04/05/2018 às 17:57.
Atualizado em 03/11/2021 às 02:40

 Há aproximadamente cinco décadas, os estudantes deixaram de ser um personagem secundário no cinema para ganharem o protagonismo, refletindo a necessidade de novos valores. Esta mudança não foi por acaso: se deve à onda de protestos que teve início na França, em maio de 1968, quando estudantes foram às ruas para exigirem uma grande reforma na educação, que resultou numa greve geral e aqueceu a temperatura social em todo o planeta. Fotos de jovens em violentos confrontos com a polícia parisiense correram o mundo. A greve acabou perdendo força após manobras do governo de Charles De Gaulle, mas os ventos do desejo de liberdade mudaram definitivamente a sociedade, que teve seus valores tradicionais questionados e rompidos pela força do impulso juvenil.  “Do feminismo atual às questões dos transgêneros passam pela efervescência e reivindicações dos conturbados anos 1960”, observa Humberto Pereira da Silva, professor de Filosofia da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), em São Paulo, e crítico de cinema. Para ele, o Maio de 68, em especial, sempre estará em pauta para as gerações seguintes. “É um ponto de inflexão a respeito de questões comportamentais. Seja para negar ou afirmar, é um marco quando nos defrontamos com situações nas quais valores sociais polarizam qualquer discussão”, analisa o professor. Acerto de contasSilva assinala que o cinema soube captar as ideias de transgressão cultural e revolução do período, impulsionando diversas cinematografias no mundo, em obras como “Sem Destino” (1969), do norte-americano Dennis Hopper, e “Zabriskie Point” (1970), do italiano Michelangelo Antonioni. O próprio cinema francês se incumbiu de, constantemente, levar esses dilemas para suas tramas. “Simbolicamente, a França foi o epicentro de Maio de 68. Além disso, o cinema francês é dotado de uma característica peculiar: o acerto de contas com a história. Não apenas o levante estudantil de 68, como o colaboracionismo na Segunda Guerra também deu ensejo a obras marcantes. Na França (revisitar) o passado é um meio de cutucar feridas não tão cicatrizadas. Assim, filmes que reverberam o maio de 68 assumem muitas vezes uma postura crítica em relação às expectativas e os anseios daquela geração, e o que veio a seguir”, avalia. IdentidadeA presença do tema nos filmes franceses também se deve à própria característica do cinema no país, que fez dessa arte um veiculo privilegiado de reflexão sobre o mundo e a vida. “E Maio de 68 é um acontecimento marcante na história deles, inclusive como elemento de identidade cultural, o reconhecimento de que ser francês é, de algum modo, trazer impregnado em si o sentido da palavra revolução”, afirma. O professor de Filosofia lembra que o cinema brasileiro não tratou propriamente da rebelião de 1968–com exceção do documentário “No Intenso Agora” (2017), de João Moreira Salles– mas registra que “Terra em Transe”, de Glauber Rocha, realizado antes da ebulição parisiense, foi cultuado pelos estudantes franceses e debatido no calor dos acontecimentos. “E Glauber, em parceria com o fotógrafo Affonso Beato, filmou um documentário intitulado ‘1968’, sobre as manifestações aqui no Brasil que refletem o clima de Maio de 68”, lembra Silva. “Mas é importante destacar, que aqui no Brasil, 1968 terminou com o AI-5 (o dispositivo de censura do governo militar). Isso tornou praticamente impossível a realização de filmes que refletissem explicitamente a rebelião estudantil na França”. EDITORIA DE ARTE / N/A

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