Paulo Betti apresenta 'Autobiografia Autorizada' em BH

Thais Oliveira
taoliveira@hojeemdia.com.br
23/09/2016 às 17:08.
Atualizado em 15/11/2021 às 20:57
 (Mauro Kury/Divulgação)

(Mauro Kury/Divulgação)

O pai era esquizofrênico. A mãe, uma empregada doméstica analfabeta. Ao todo, 15 filhos. História real, a vida dessa família não foi das mais fáceis. No entanto, o sofrimento causado pelos percalços não ganhou lentes de aumento. Paulo Betti, de 64 anos, o temporão entre os irmãos, conseguiu extrair humor e poesia da trama contada no espetáculo “Autobiografia Autorizada”, em cartaz hoje e amanhã, no Teatro Sesiminas. Autor e ator do monólogo, ele fez da peça um mergulho em seu passado. A direção é de Rafael Ponzi e a obra recebeu indicação para o Prêmio Shell de melhor texto. 

Com 40 anos de carreira, o artista garante que não se trata de uma retrospectiva sobre o seu trabalho. “Falo da minha infância, da adolescência e de até um pouco antes de entrar para a Escola de Arte Dramática (da USP)”, diz. Para tanto, vasculhou textos que fez na juventude, colagens de fatos da época e artigos semanais que fez por quase 30 anos para o Jornal Cruzeiro do Sul, de Sorocaba (SP), onde cresceu. 

“Parece que eu estava me preparando para escrever essa peça há muito tempo. Foi muito simples construí-la, porque estava tudo num caderno. Já havia, também, por exemplo, a faca que minha avó usava para matar porco (com a minha ajuda) e até foto da patroa da minha mãe. No espetáculo, há projeções mostrando esses documentos e objetos”, conta.

Superação

O ator confessa que revirar o passado foi custoso. “Mexeu muito comigo; tive muitos pudores de fazê-la. Pensei: ‘por que fazer uma autobiografia?’ Daí, percebi que havia uma circunstância extraordinária na minha trajetória, que é social, para ser compartilhada”. 

“Fui criado num quilombo, onde 95% eram negros. Meu avô era imigrante italiano e trabalhava para um fazendeiro negro. Há uma inversão de perspectiva nisso. Eu ia para a roça do meu avô e via a casa grande do ponto de vista da senzala”, justifica. 

Segundo Paulo, apesar dos pesares, metade da obra é uma comédia. “Vejo tudo isso de forma engraçada. Falo da morte dos meus avós, do meu pai e da minha mãe, mas com humor porque já tem um tempo que essas coisas aconteceram. Já superei de certa maneira; não tudo, mas a gente sabe que os filhos ‘substituem’ os pais. Então, enquanto um avô morre, tem um filho seu nascendo”. 

As outras partes do espetáculo são divididas entre poesia e drama. “Acho que dá para rir e chorar”. 

Serviço: “Autobiografia Autorizada” , com Paulo Betti. Hoje, às 21h, e amanhã, às 18h, no Teatro Sesiminas (rua Padre Marinho, 60, Santa Efigênia). Ingresso: R$ 80 e R$ 40 (meia).

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