Pecados capitais norteiam exposições na capital mineira e inspiram livros

Vanessa Perroni - Hoje em Dia
02/12/2015 às 07:27.
Atualizado em 17/11/2021 às 03:10
 (Eugênio Moraes)

(Eugênio Moraes)

Em meados desse ano, a Editora LeYa lançou uma coleção de mote no mínimo curioso: os sete pecados. Não que se constitua propriamente em uma novidade – a Editora Objetiva, para citar um exemplo, já havia lançado, tempos atrás, uma iniciativa afim, embora com viés distinto. Na verdade, os tais pecados sempre inspiraram não só livros, como as artes plásticas, a música, o cinema e muitas outras plataformas.

O motivo é dos mais simples: quem nunca cometeu um pecado? Ou mesmo sofreu com as ações do pecado alheio? Na verdade, a própria coleção da LeYa lembra que já na Bíblia, Jesus desafiava a atirar a primeira pedra quem nunca tivesse pecado.

“O pecado está sempre na moda. Quem não tem um para contar?”, indaga o artista plástico mineiro Glauco Moraes, que realiza, nesta quarta (2), o evento “O 8° Pecado”, em parceria com o empresário Jackson Caetano. Sim, oitavo, um além dos sete já conhecidos: gula, luxúria, avareza, ira, soberba, preguiça e inveja.

Mas não, Glauco não quis antecipar o tal oitavo pecado: a revelação será feita nesta quarta (2), no evento, que acontece na Maison Escola e Galeria de Arte. E como ele chegou até esse “novo” pecado? Bem, a história é no mínimo curiosa.

Para início de conversa, Glauco decidiu fazer uma pesquisa de campo. Sim, ele foi às ruas e disparou a seguinte pergunta, a várias pessoas de diferentes classes sociais: “Que pecado capital você elegeria como o oitavo?”.

As respostas foram das mais diversas, segundo ele – e muitas até engraçadas. “Falaram: desamor, mentira, ódio... e outras que não dá nem para comentar”, diverte-se. Mas, bem, 150 respostas convergiram no que será revelado como o oitavo pecado. “Elegemos o mais coerente, de acordo com as características dos pecados capitais”, frisa.

Em cartaz desde meados de novembro, na Galeria Isac Lourdes, a exposição “A Vaidade”, do artista plástico mineiro (de Timóteo) Marcos Anthony, retrata como este pecado, em particular, faz parte da natureza humana. “Este é um tema polêmico e também ‘pano de fundo do nosso cotidiano’”, acredita Anthony.

Para o artista, o mundo é movido pela vaidade. “Ela está sempre ao nosso redor. Na mídia, nos perfis das redes sociais, no trabalho, nos blogs, nas relações familiares e amorosas, etc. Creio que, quanto mais ‘moderno’ o mundo se torna, mais vaidosos somos”.

Mesmo ‘devoto’ da palavra equilíbrio, Anthony revela que “infelizmente, ou não” também faz parte do rol dos vaidosos. “Tenho os meus cuidados com a beleza, mas sem excessos”, garante.

“Este 8º pecado será uma grande surpresa; todos poderão comprovar que está mais perto de nós do que imaginamos. Ronda todas as pessoas, todos os segmentos empresariais, as rodas de conversa”.

‘Em um momento de ira, você pode estragar a vida de alguém’

Para Anthony, “o ser vaidoso acaba perdendo o discernimento e a humildade de aceitar os seus próprios erros”, considera o artista plástico, que espera emocionar o público com as cores e imagens das pinturas da mostra “Vaidade”.

Apesar de ter retratado a vaidade, Anthony elege a ira e a avareza como os “piores” dos sete pecados. “A ira não nos levará a lugar algum. Como dizem os trechos dos sábios religiosos, é um veneno que tomamos diariamente. A avareza também é ruim, porque estamos todos de passagem nesse plano terreno. Tudo que temos não é nosso, é emprestado”, filosofa ele, que desde os sete anos, já se arriscava nas pinceladas (óleo sobre tela) e, aos nove, fez a primeira exposição.

Vale lembrar que, com um ano e 10 meses de idade, Marcos Anthony recebeu um diagnóstico de deficiência auditiva, mas nunca se sentiu diferente ou menos capaz por sua limitação – o que fez com que se tornasse o primeiro arquiteto surdo a se formar em Minas Gerais.

O evento “8º Pecado” – que, vale dizer, é exclusivo para convidados (fechado ao público em geral, pois) – conta com oito artistas plásticos, e também oito estilistas. “Cada artista fez um quadro representando um pecado, e os estilistas, de diferentes áreas de atuação, criaram uma vestimenta para cada pecado”, conta Glauco. O grupo terá o apoio de maquiadores.

Para Moraes, todas as pessoas possuem um pouco de cada um dos pecados. “Eu cometo mais a luxúria”, confessa ele, todo sincero. Mas Glauco entende que o mais “prejudicial” seja a ira. “O pecado é aquilo que, além de ser ruim para você, também prejudica o outro. E em um momento de ira, você pode estragar a vida de alguém. Ninguém pode garantir que por um minuto de ódio não faria uma bobagem”, pondera.

 

INVEJA - A atriz Anne Baxter foi quem mais personificou o pecado (em “A Malvada”), ao lado, capinhas dos livros da LeYa (Foto: Divulgação)

 

‘Dá para ter uma coleção em casa só de filmes sobre a inveja’

A série da LeYa teve start com os lançamentos de “Luxúria” e “Inveja”, organizados por Alexandre Versignassi. O primeiro título, do jornalista Maurício Horta, faz referências a nomes que já ficaram marcados no imaginário da humanidade, como Marques de Sade ou Bocaccio. Esse último, lembra Horta, rompeu com a moral medieval em sua obra-prima, “Decameron”, repleta de histórias mundanas, entre elas, contos eróticos. A “farra dos Bórgias” também recebe atenção do autor, que vai viajando no tempo até chegar, por exemplo, à Belle Époque. Os últimos capítulos são reservados ao sexo nos tempos de cólera e do Tinder.

Já em “Inveja”, o também jornalista Alexandre Carvalho tenta mostrar como esse pecado desgraçou, baniu ou matou, sem limites geográficos, heróis, artistas, cientistas, povos inteiros. E, ao mesmo tempo, ajudou a desenvolver a sociedade.

Como ressalta no material de divulgação enviado à imprensa, “dá para ter uma coleção em casa só de filmes pautados pela inveja: ‘... E o Vento Levou’, ‘Branca de Neve’, ‘A Malvada’, ‘Se7en’. Mas tanto ressentimento e olho-gordo não ficam só nos roteiros: por trás das câmeras, a vida imita a arte”.

No cômputo geral, a ideia de ambos é mostrar (por vias históricas, números e pesquisas) que os pecados capitais “são verdadeiros espelhos do que temos de mais profundo”. Analisando o comportamento interpessoal, a forma com que nos vestimos e até escolhemos comer, os autores mostram como eles, pecados, teriam arquitetado nossa civilização.

Serviço:

- Exposição “A Vaidade” – Em cartaz na Galeria Isac Lourdes (av. Olegário Maciel, 1.727, Lourdes, Loja 1). De segunda a sábado, de 9h às 21h. Gratuito
- Evento “O 8° Pecado” - Maison Escola e Galeria de Arte (av. Bento Simão, 255, São Bento). Nesta quarta (2), às 20h. Só para convidados.

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