Poderio da Netflix abala cada vez mais formatos e cofres do cinema e da TV

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
26/05/2017 às 19:47.
Atualizado em 15/11/2021 às 14:44

NETFLIX/DIVULGAÇÃO / N/A

"The Meyerowitz Stories", com Ben Stiller e Adam Sandler, que não será exibido em tela grande, aponta para um futuro próximo em que o cinema deixará de ser a principal vitrine Até parece frase de propaganda, mas a verdade é que a Netflix está mesmo mudando a forma de ver filmes. E tanto a indústria cinematográfica como a televisiva estão sem saber como reagir, temerosas quanto a um futuro em que a sala escura deixará de ser a principal plataforma de lançamento e a TV (aberta e por assinatura) terá que se render aos canais de streaming. No Festival de Cannes, encerrado ontem, as fofocas de artistas e as poses no tapete vermelho ganharam menos evidência do que a polêmica que a Netflix criou, apresentando dois concorrentes (“Okja” e “The Meyerowitz”) que ganharão as telonas simultaneamente à disponibilidade no canal, o que levou vários cineastas importantes a assinarem um manifesto. “É óbvio que a internet afetará toda e qualquer indústria. É assim desde sempre. Já está afetando os programas da TV a cabo e a próxima etapa pode ser a diminuição das janelas de lançamento dos filmes”, observa Ana Paula Lobo, editora do portal “Conversão Digital”. Com um quadro irreversível, a grande pergunta, segundo ela, é se queremos a Netflix como dona do mercado de streaming. 

Com 100 milhões de assinantes no mundo, Netflix investe cada vez mais em produção própria

  Ana Paula destaca que a Netflix hoje é monopolista, sem grandes concorrentes. “Qual será o espaço para outros Netflixes? Porque esse é um jogo de um jogador só. E por se tratar de um jogo bilionário, pode criar problemas”, registra, salientando que essa não é só uma questão brasileira, mas mundial também. “É preciso criar um ecossistema que favoreça a concorrência”. PreçosPara Bruno Carvalho, editor do site Ligado em Série, a Netflix alcançou um patamar que dificilmente será alcançado. “Precisaria de uma outra empresa revolucionária (como a própria Netflix, que surgiu como locadora de DVDs e depois lançou o serviço Instant e causou a extinção das locadoras físicas e praticamente do mercado de home video, por exemplo), para que algo ameace sua atual hegemonia”. O segredo para se conquistar território tão grande está no cardápio de filmes e no preço. “O Brasil tem até hoje uma enorme carência de serviços de qualidade com preços justos. Televisão a cabo/satélite é cara, especialmente os pacotes premium. A Netflix supre essa carência, trazendo conteúdo premium a um preço acessível, além de transmitir séries de outras emissoras que demorariam meses pra chegar”, destaca Bruno. Ana Paula concorda. “A TV paga é elitista, não conseguindo criar um modelo que beneficiasse as classes C, D e E. Com a boa qualidade da internet, as pessoas passaram a assinar a Netflix, pagando 20 e poucos reais, enquanto na TV a cabo o pacote mais barato não sai por menos de R$ 100”, compara. Para a especialista em tecnologia de informação, não fosse pela expansão da cobertura de conexão, Netflix não existiria no Brasil”.  N/A / N/A

Concorrente no Festival de Cannes, "Okja" provocou a irritação dos defensores do cinema, após a Netflix anunciar que ele não será exibido nas salas francesas Mercado de video on demand deve crescer ainda 25% Se olharmos apenas para o número de bilheteria no mundo, a indústria do cinema não tem do que reclamar. Nunca se ganhou tanto como agora. Mas também nunca se gastou tantos dólares para os filmes alcançarem o público, escoando pelo ralo do marketing massivo. E o público não acompanha esse crescimento, já que os números apontam para uma alta do valor dos ingressos, especialmente com o 3D. Em 2016, o público doméstico (EUA e Canadá) ficou em torno de 1,5 bilhão, o mesmo patamar atingido em 2004. O Brasil passou a se tornar motivo de preocupação para as gigantes, após se tornar o terceiro maior mercado da Netflix, atrás de EUA e Reino Unido. Mesmo em momento de crise econômica, o canal de streaming exibe crescimento vertiginoso. O governo está de olho no mercado de VOD (video on demand), que ainda não tem uma legislação específica, ao contrário de outras plataformas. A Agência Nacional de Cinema (Ancine) divulgou relatório com recomendações para regulação.  A boa notícia para o cinema brasileiro é que esses provedores terão que, segundo as recomendações, disponibilizar um mínimo de 20% de produções audiovisuais nacionais em seus catálogos, além de investir em produções. Antes mesmo de virar lei, a Netflix já deu seus primeiros passos nesse sentido, lançando em novembro passado a série “3%”. Em breve será a vez da comédia “Samantha”. E José Padilha (diretor de “Tropa de Elite”) começará a rodar série sobre a Lava-Jato. Brasil como baseA consultoria britânica IHS projeta um crescimento de 25% dos provedores de VOD. Só no Brasil já são 7 milhões de usuários da Netflix, segundo a Ancine. A agência também revela que o faturamento supera o valor apurado por emissoras de TV aberta. CEO da Netflix, Reed Hastings avisou no início do ano que o Brasil é a “base para crescer”. Mas esse crescimento dependerá da continuidade do investimento em telecomunicações. “É possível criar modelos para fomentar mais a banda larga, buscando novas frentes além das classes A e B”, avalia Ana Paula Lobo, editora do portal Conversão Digital.

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