No gramado, o jogador se espreme na grande área, se desvencilha do marcador e, com impulso magistral e o peito estufado cheio de confiança, eleva seu corpo para cabecear a bola e marcar o gol. Ao sofrer uma falta, o atleta se atira no campo criando gestos e significados corporais. No palco, o bailarino busca os mesmos movimentos com o objetivo similar de encantar os olhos do espectador. Dentro das quatro linhas ou em um teatro, o corpo traduz a glória, o esforço e beleza de duas expressões artísticas.

Em ação arrojada do Cruzeiro Esporte Clube, o encontro entre futebol e dança marcará a posse da mesa diretora do Conselho Deliberativo, dos membros do Conselho Fiscal e do novo presidente da instituição, Wagner Pires de Sá, que assume o comando do time mineiro pelos próximos três anos. Com o espetáculo “Tirambaço”, a poesia que habita esses dois universos estará presente na solenidade que acontece hoje, às 19h, no Cine Theatro Brasil Vallourec, no Centro de Belo Horizonte.

“Tirambaço” foi idealizado pela coreógrafa e ex-bailarina do Grupo Corpo, Cassi Abranches, que assina a produção de “Suíte Branca”, um dos balés em comemoração aos 40 anos da companhia, e também foi responsável pela direção coreográfica da cerimônia de abertura dos Jogos Paralímpicos Rio 2016. Ela tem em seu currículo trabalhos para o Ballet Jovem do Palácio das Artes, Cia Sesc de Dança, Cia Jovem Bolshoi Brasil e São Paulo Companhia de Dança. O espetáculo conta com a participação de integrantes do Grupo Corpo e do Grupo Jovem Arte & Passo e será apresentado no Brasil pela primeira vez. Em 2012, quando o Brasil foi anfitrião do Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, a peça fez parte da programação do evento. 

Apaixonada por futebol, Cassi Abranches diz que se inspira nos movimentos dos jogadores para criar suas coreografias e não foi diferente com “Tirambaço”. A ginga, tão característica na maneira de jogar do brasileiro, os dribles e até a forma de cair dos atletas influenciam o processo criativo da coreógrafa. “É tudo muito corporal. O jogador tem um movimento que parece uma dança contemporânea. Ao mesmo tempo, o bailarino é um tremendo atleta, porque a dança exige muito fisicamente”, comenta.

A iniciativa do Cruzeiro em trazer um espetáculo de arte para a solenidade de posse da nova diretoria é um marco no país. Pela primeira vez, um clube de futebol fará essa experiência de transitar entre dois mundos aparentemente distantes, mas que guardam muitas coisas em comum. Acostumado a ver o baile grandioso dos atletas no Mineirão, o cruzeirense agora trocará as cadeiras da arquibancada do estádio pelas poltronas de um tradicional teatro da capital mineira. “Acho muito bacana essa iniciativa do Cruzeiro de trazer para a posse um espetáculo de arte. É inovador fazer a posse em um teatro. Será um presente para quem estiver assistindo”, diz Cassi Abranches.

Entusiasmada por poder apresentar sua coreografia em uma ocasião tão importante e que define os rumos da maior instituição esportiva de Minas Gerais, ela comemora a oportunidade de mesclar o amor que o torcedor sente pelo seu clube com a necessidade fundamental da cultura permear nosso cotidiano: “A posse de um novo presidente é sinônimo de paixão, esperança e recomeço, e a arte representa tudo isso”.  

Segundo o novo vice-presidente executivo do Cruzeiro e responsável pela organização da cerimônia, Marco Antônio Lage, o evento foi pensado para enaltecer a grandeza do Clube. “A escolha por esse formato de solenidade de posse é exatamente para valorizar a marca Cruzeiro como grande clube de futebol. Buscamos realizar um evento com relevância e à altura do Clube em um ambiente de arte e entretenimento porque futebol é arte e entretenimento. Essa é a essência do futebol”, afirma o dirigente.

A programação prevê, ainda, homenagens a personalidades cruzeirenses, como o ex-jogador Juan Pablo Sorín, o prefeito de Betim e presidente do Grupo Sada, empresa investidora no vôlei e no futebol americano, Vittorio Medioli, e o governador de Minas Gerais, Fernando Damata Pimentel.

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