Prato cheio para a ficção, possibilidade de vida em Marte inspira 'sonhos reais'

Paulo Henrique Silva - Hoje em Dia
25/10/2015 às 08:30.
Atualizado em 17/11/2021 às 02:12
 (Marcelo Prates/Hoje em Dia)

(Marcelo Prates/Hoje em Dia)

“Alô, alô Marciano”, aquela ligação imaginária e musical realizada na voz de Elis Regina, num dos clássicos da MPB, parece cada vez mais possível após sondas descobrirem evidências de água no planeta vizinho. A verdade é que o recente anúncio da Nasa trouxe à tona novamente a ideia de que não estamos sozinhos no Sistema Solar, algo já bastante explorado na literatura e no cinema de ficção-científica.

A descoberta deu um providencial empurrão nas bilheterias do filme “Perdido em Marte”, em cartaz nos cinemas, que acompanha um astronauta, vivido por Matt Damon, tendo que se virar no planeta vermelho até a chegada de um resgate que levará anos para alcançar seu destino. Não é de hoje que os filmes exploram esse contato, muito em função do fascínio da humanidade por vida extraterrestre.

“Notadamente vida extraterrestre inteligente”, sublinha Renato Las Casas, professor do Departamento de Física da UFMG, onde também coordena o Grupo de Astronomia. Segundo ele, esse interesse surgiu no século 19, quando o italiano Giovanni Schaparelli observou, através de um telescópio, que havia canais artificiais em Marte, tese endossada pelo americano Percival Lowell.

“Lowell interpretou (os canais) como sendo construídos com o objetivo de levar água dos polos para as regiões equatoriais. Encorajada por essas ‘descobertas’, por muitos anos, grande parte da população do nosso planeta não teve dúvidas: os marcianos em breve chegariam ao nosso planeta, se é que já não nos visitavam na surdina. Hoje sabemos que Marte nunca teve vida complexa”, registra Las Casas.
 
BUSCA EXCITANTE
 
Apesar dessa constatação atrapalhar qualquer plano de invasão à Terra, engendrada por roteiristas que adorariam ver uma Guerra dos Mundo tal e qual descrita por H. G. Wells no livro homônimo, ainda sim é possível, de acordo com o astrônomo da UFMG, que já tenha tido vida microscópica. “A confirmação de água líquida na superfície e subsolo marciano torna essa busca ainda mais excitante”, observa.
 
Uma coisa é certa: a Terra não será mais o limite da humanidade. “Ela certamente se estenderá para outros planetas, sistemas planetários e, quem sabe, galáxias. Quanto mais cedo conseguirmos nos espalhar pelo Universo, maiores as nossas chances de sobrevivência. E o primeiro planeta que colonizaremos será Marte. De todos os planetas do Sistema Solar, ele é o que se mostra mais ‘afeito’ a isso”, afirma Las Casas.

 

Praça 7 em 2003, o Observatório Astronômico da UFMG disponibilizou 4 telescópios para que os pedestres observassem Marte em sua menor distância da Terra em 60 mil anos (FOTO: Arquivo Hoje em Dia - 27/08/2003)

 
Astrônomo diz que homem chega a Marte até 2050

“Jesus Cristo pregava com a palavra. Bernardo Riedel usa o telescópio”. É dessa forma bem-humorada que o professor e astrônomo mineiro explica o seu interesse pela criação de telescópios, num laboratório localizado no bairro Sagrada Família. “Meu objetivo é fazer as pessoas olharem para cima. Observando o céu, elas entenderão a si próprias. Somos uma bola girando no espaço. Isso é um milagre”, registra.

Diante do fascínio que outros planetas exercem, especialmente Marte, Bernardo lamenta o fato de a humanidade dar pouco valor ao seu habitat. “A Terra é um planeta privilegiado. As pessoas não têm consciência disso, de que ela foi feita para a vida. Parece que um ser superior resolveu fazer uma experiência conosco e ela deu certo. Só que o ser humano não deu certo”, pondera.

Mutação Genética
 
A verdade é que, segundo o inventor, por mais que haja semelhanças entre o nosso planeta e Marte, qualquer tentativa de colonização envolverá muita tecnologia e décadas de estudos. O que se vê em “Perdido em Marte”, por exemplo, em que um astronauta passa anos em solo marciano, traria graves consequências ao corpo humano. “Devido à radiação social, haveria uma mutação genética”.

A razão disso está na ausência de um “escudo” chamado magnetosfera, que ajuda a deter a radiação. Como o campo gravitacional de Marte é 1/3 mais leve do que o da Terra, o corpo de um ser humano acabaria se atrofiando. A balança de uma pessoa com 90 quilos apontaria, em Marte, 60 quilos a menos. “Por ter um diâmetro pequeno, Marte perdeu seu campo magnético, com o vento solar soprando a sua atmosfera”.

Semelhanças

Possivelmente, até o primeiro bilhão de anos, Marte se desenvolveu igual à Terra, produzindo condições de vida. “Existem muitas semelhanças entre os dois planetas. O dia lá é um pouco maior que o da Terra, com 24 horas e 37 minutos. Ela tem uma inclinação orbital de 23 graus, com um eixo de rotação muito próximo ao nosso. E o tempo de translação é de dois anos”, destaca Bernardo.

Marte está no limiar da zona habitável, o mais próximo da Terra com as características que precisamos. Pode ser que haja outros, já que há outros sistemas formados por planetas, mas uma viagem espacial a locais mais distantes demoraria décadas.

“Não tenho dúvidas de que vamos chegar em Marte. Até 2050, certamente, uma nave pousará no nosso vizinho”, prevê o astrônomo.

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