Radicada em BH, irmã de Tom Jobim terá a vida contada no cinema

Elemara Duarte - Hoje em Dia
29/12/2013 às 07:53.
Atualizado em 20/11/2021 às 15:03
 (Portraits Factory Filmes - Divulgação)

(Portraits Factory Filmes - Divulgação)

A escritora e compositora Helena Jobim sempre ouvia o irmão, o maestro Tom, dizer: “Se eu tivesse os seus olhos, estaria em Hollywood”. Sem perder a réplica ao bem-humorado elogio, ela costumava responder: “Ah, é? Só que você já está em Hollywood e eu não”. Atualmente com 82 anos, vivendo em Belo Horizonte, a autora de 12 livros – e um 13º em produção – se vê na mira da sétima arte – ainda que não estejamos falando da meca do cinema norte-americano. Ela terá sua vida contada no documentário “Helena”, do cineasta Ernane Alves, com produção da jornalista Ana Paula Valois.    No elenco do filme, que o cineasta chama de “docuficção”, haverá, ao lado dos relatos da autora, cenas com os atores Débora Secco e Bruno Gagliasso e participação da cantora Sandy, lendo poemas de Helena. Previsto para 2014, o longa – já aprovado nas leis Estadual de Incentivo à Cultura e Federal do Audiovisual – está em processo final de captação de recursos.   Helena optou pela capital mineira em 1999, quando veio para ficar junto da filha e dos netos. Tom Jobim morreu há 19 anos, em Nova York, onde passou a viver e onde se consagrou mundialmente com sua música. Parece que, de certa forma, ele profetizava o destino da única irmã, quatro anos mais jovem, quando elogiava seus translúcidos olhos azuis.   “Meu irmão era só carinho, só amor, só doação. Éramos tão amigos… Nunca tivemos uma discussão, uma briga. Estávamos sempre juntos. Lembro de uma coisa linda que ele escreveu, numa dedicatória: ‘Para a única irmã possível para mim…’”, recorda a escritora, ao Hoje em Dia.   Depois do luto pela perda do irmão, foi em Belo Horizonte que Helena recobrou forças para revisar a biografia sobre ele, lembra a jornalista e membro do Grupo de Pesquisa Letras de Minas, Maria de Fátima Peres. “Antonio Carlos Jobim, Um Homem Iluminado” e demais livros da escritora são alvo de ensaio da jornalista na antologia “Escritoras de Ontem e de Hoje” (2012).   A biografia de Tom Jobim foi lançada em 1996, pela Nova Fronteira. Posteriormente, o livro teve versões em inglês e em japonês. Todas esgotadas, assim como estão esgotados os 12 títulos, entre romance e poesia, de Helena.   ‘Hoje, não sinto mais medo’   Convencer Helena a expor a vida em um filme deu-se por meio de um processo natural, embasado em confiança e numa amizade espontânea com o cineasta Ernane e a produtora Ana Paula, que são casados   “Aprendi com eles a ter coragem de me expor. Quem escreve também se expõe. Lancei vários livros, mas, hoje, não sinto mais medo. Faço com naturalidade. Tanto o Ernane como a Ana Paula são muito corajosos. Eu os conheço há relativamente pouco tempo, mas parece que já é da vida toda”, declara-se Helena.   Ernane, por sua vez, devolve: “Helena é um equilíbrio inteligente entre simplicidade e sofisticação”. As mais de 30 horas de filmagens começaram em 2011. A primeira ideia era fazer um curta-metragem. Com o bom conteúdo, veio a justificativa perfeita para ampliá-lo.   Entre as passagens mais emocionantes, há um réveillon em Copacabana. A ideia era levar a hoje octogenária Helena à mais famosa virada de ano do Brasil, devido à sua ligação com a festa, que vem da infância. O icônico hotel Copacabana Palace foi o cenário. Ali, junto aos fogos de artifício, muitas lembranças. E lágrimas. “Foi inesquecível”, resume a simpática Helena.  

DOCUFICÇÃO - Sandy e Ernane Alves durante passagem de texto para o documentário. Crédito: Portraits Factory Filmes/Divulgação   Mesmo com a ligação visceral de Helena com o irmão notório, Ernane faz questão de frisar que o filme não é sobre o “maestro soberano”. A produção é focada na escritora Helena Jobim. Uma mulher que se interessou pela literatura ainda na infância, incentivada pela família, proprietária de uma escola no Rio de Janeiro.   O avô, Azor Brasileiro de Almeida, era professor e tinha uma grandiosa biblioteca em casa. Dele, Helena ganhou um dicionário e a primeira máquina de escrever. Já professora, Helena voltou seus estudos para as Letras em ambiente acadêmico por décadas.   Seu primeiro livro foi o romance “A Chave do Poço do Abismo” (Record, 1968). Em 1974, pela mesma casa, veio o feminino e feminista “Clareza 5”. Em 1985, na primeira aventura poética, publica “Os Lábios Brancos do Medo” (Mitavaí). Em 1996 sai a biografia de Tom, prêmio hors concours da União Brasileira de Escritores.   Em 2000, Helena lança as memórias “Pressinto os Anjos Que Me Perseguem” (Record), reflexo maduro de aprendizados conquistados após grave acidente que sofreu, cujo processo de recuperação a colocou entre a vida e morte por meses.   ‘Eu não perdi a jovialidade, graças a Deus’, diz ela   Em um trecho do citado livro “Pressinto os Anjos Que Me Perseguem”, Helena Jobim registra: “…acenei de novo para meu marido e lá estava ele, lá está, lá estará para sempre no alto da pequena ladeira, acenando também, despreocupado, levo gravado na retina seu vulto, o jasmineiro florido por detrás, minha sentença gravada, minha sina pronta, meu corpo desarmado, oferecido à tragédia, a morte, a minha morte, com suas asas de espanto e susto…”   Mas, nos dias atuais, o que ela quer mesmo é vida. Mais vida. “É o meu temperamento. Eu não perdi a jovialidade, graças a Deus!”, avisa, justificando o bom humor exibido durante toda entrevista, que aconteceu num sábado do recém-chegado verão, na cidade sem mar em que ela e a família escolheram viver.   A situação geográfica, porém, não é problema algum para ela. “Eu gosto dos bares de Belo Horizonte. Porque aqui não tem praia. A gente senta na mesa e o Ernane (Alves) e a Ana Paula (Valois) tomam conta de mim. Parece até que eu tenho mania de beber (risos). Gosto de cafezinho, mas eu prefiro mesmo um chope”, confessa.

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