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Estreante como romancista, Lílian Fleury Dória faz em “Encarcerado” um passeio por épocas, culturas, memórias e gostos, trabalhando a literatura do russo Fiódor Dotoiévski – autor dos clássicos “Crime e Castigo” e “O Idiota” – como personagem e inspiração do livro, que será lançado nesta sexta, às 19h, na livraria Leitura Pátio Savassi.
“Comecei a trabalhar nessa história quando fiz meu mestrado na Unicamp, em cinema e literatura. Podia criar uma obra autoral, desde que ela dialogasse com algum escritor já conhecido. Escolhi Dostoiévski. Mais do que uma inspiração, foi um diálogo mesmo, trazendo suas ideias e personagens para o Brasil”, registra Lílian.
Mineira de Belo Horizonte, mas residindo em Curitiba desde 1983, onde se enveredou pelo teatro, participando de produções como atriz e produtora e lecionando Artes Cênicas na Unespar, a autora de “Encarcerado” gosta de fazer conexões com períodos históricos e elegeu 1978 como um dos panos de fundo.
A razão de escolher justamente esse ano para exibir a história de um homem em busca da própria identidade tem a ver com as memórias da autora. “Foi um ano muito intenso para mim. Ainda morava em Belo Horizonte. Estava começando no teatro e já me deparava com a questão da censura e de pessoas sumindo”, lembra.
O romance não tem na ditadura o tema principal, sendo apenas um ponto de partida para mergulhar nas dúvidas do protagonista, que foi preso aparentemente sem provas durante o regime e, solto 22 anos depois, ele já não se lembra nem do próprio nome. O encarcerado do título vem da ideia de um aprisionamento psicológico também.
Execrado pela crítica
O espelho para a criação desse personagem saiu do livro “A Senhoria”, uma das primeiras obras do russo. “É um personagem que também está debatendo com a busca de sua identidade. É uma obra menor de Dostoiévski, que tem seus defeitos, com o autor sendo execrado pela crítica da época”, destaca.
Apesar dos problemas, Lílian enxergou nele elementos interessantes para estrear no romance, como a história de um jovem sem destino e a narrativa delirante. Também se apropriou de “Memórias do Subsolo”, especialmente a ideia do discurso do homem do subsolo.
Essas referências não são feitas de forma hermética, avisa Lílian, que, em 2012, viajou à Rússia para aprofundar a pesquisa. “Busquei uma linguagem que fosse simples, com suspense, para quem gosta de ler romance”, assinala a autora, que já está às voltas com outro livro. “Trabalhei com teatro esse tempo todo, mas desde criança sempre quis escrever”.
Serviço: Lançamento de “Encarcerado” – Às 19h, na Leitura do Pátio Savassi (Avenida do Contorno, 6061). Entrada franca