Salas secretas e aplicativos garantem discrição a consumidoras de itens eróticos

Vanessa Perroni
vperroni@hojeemdia.com.br
17/12/2016 às 13:24.
Atualizado em 15/11/2021 às 22:07

Dizem que entre quatro paredes vale tudo. Para realizar as fantasias, muitos casais apostam em produtos eróticos – e opção no mercado é o que não falta, inclusive para quem quer discrição na hora de comprá-los. Hoje, clubes de assinatura, aplicativos no celular, salas secretas em lojas e reunião de amigas facilitam a escolha dos “apetrechos”. 

“Ensandecendo no Paraíso” é o nome do evento criado pelo Padecendo no Paraíso, grupo de empoderamento feminino pós-maternidade de Belo Horizonte. Já na sexta edição, esse é um momento para deixar de lado assuntos referentes à maternidade para falar sobre sexo. 

O encontro conta com palestras e venda de produtos para apimentar a relação. “Conversamos sobre como estimular esse lado de uma maneira que não seja vulgar. O caminho está no autoconhecimento”, afirma a consultora de imagem e palestrante Geralda Francisca, que nos eventos fala sobre autoestima e sensualidade. 

Tabu
Dona de uma butique de roupas femininas, a GF Maison, Geralda incrementou o negócio com uma “sala secreta”, onde as clientes encontram “brinquedos”. “Elas preferem o espaço reservado. Mesmo assim, muitas ainda ficam tímidas e preferem marcar hora na loja”, conta.

Geralda garante que as mulheres consomem mais os produtos eróticos que os homens. “Elas estão mais preocupadas em manter a chama acesa. Mas sempre falo que não tem que se preocupar com a quantidade, mas com a qualidade desses momentos, e há muitos produtos nessa área”. 

Separar o erotismo da pornografia é outro ponto importante. “Primeiro é preciso trabalhar a questão da imagem, autoestima e sensualidade, para depois falar dos produtos e sobre como não cair na rotina. Os tabus ainda existem, apesar de já terem melhorado”.

Cliente fiel
Casada há 14 anos, a corretora de imóveis, atriz e maquiadora Fabrícia Rossi, de 39 anos, confessa que achava bobagem essa história de produtos eróticos. Mas ao ouvir as palestras de Geralda mudou a própria visão. “Ao aliar a questão da autoestima com os produtos, ela despertou na gente a vontade de ousar mais. E acabei adquirindo algumas coisas”, relata Fabrícia, que acabou se tornando cliente da Sala Secreta, onde busca gel massageador, óleos e “otras cosítas más”.

70% dos clientes de sex shop no país são mulheres, segundo Luciana

“A relação do casal melhora, principalmente porque melhora a autoestima da mulher. Isso nos ajuda a perceber que podemos ser muitas, e não apenas mães”, garante.

Caixas surpresa e aplicativos são opções na hora de inovar 

Das salas secretas para o clube de assinaturas. Esse é outro meio de ter acesso ao universo erótico mantendo a discrição. Por R$ 89 é possível receber uma caixa com os mais variados tipos de produtos. “Temos clientes em todos os estados do país. E agora incrementamos a caixa com uma revista onde ensinamos a utilizar os produtos, além de matérias com psicólogos sobre relacionamento”, diz a empresária Daiane Malgarin, que ao lado do marido criou o “Adeus Rotina”. 

Dadinhos eróticos, vibradores, óleos, gel de massagem e fantasias são apenas alguns dos produtos que vão nas caixas. “Elas são super discretas. Revestidas com papelão para ninguém saber do que se trata, pois muitas pessoas colocam o endereço do escritório por não ter porteiro no prédio”, comenta.

Uma das clientes, a designer Márcia Toledo, de 37 anos, conta que prefere esse estilo de compra pelos tabus da sociedade. “Além de ser prático e sem intermédio de ninguém, eu fujo dos olhares tortos. As mulheres são vistas como vulgares ou coisas assim quando saem de um sex shop”. 

Ela conta que no início houve um pouco de resistência do marido. “Para ele também é estranho, pois (os homens) muitas vezes pensam que não estão satisfazendo a parceira. Mas logo isso passa”, brinca.Lucas Prates / N/AFabrícia Rossi – “Podemos ser muitas, e não apenas mães”

Aplicativos
A designer também lança mão de aplicativos no celular como “69 Places” e o “Free Sex Coupons” – neste último, a pessoa envia cupons para o parceiro que dão direito desde um café da manhã a propostas sensuais. “Estimula a criatividade e está ao alcance das mãos”, pontua.

Márcia conta que descobriu os aplicativos por meio de amigas. “A melhor forma de descobrir novidades, perder a vergonha e os preconceitos é conversando sobre o assunto”, atesta.

Ela observa que há aplicativos dos mais variados. Dos que contabilizam a periodicidade das relações e te avisam que está na hora de “voltar à ativa” aos que transformam o aparelho celular em um vibrador. 

Pesquisadora encontrou um universo cercado de preconceitos e resistência

O consumo erótico feminino foi mapeado pela doutora e mestre em administração Luciana Walther, que em janeiro lança o livro “Mulheres que Não Ficam Sem Pilha: Como o Consumo Erótico Feminino Está Transformando Vidas, Relacionamentos e a Sociedade” (ed. Mauad X). A publicação já está a venda pela internet. Clique aqui para conferir. 

A pesquisadora carioca, radicada em Minas Gerais, analisou o mercado em ascensão. Para isso, ela foi a campo entrevistar mulheres de universos distintos e lojas voltadas para esse público. “Existem ainda adjetivos muito ruins que recaem sobre as mulheres que consomem produtos eróticos, por isso elas não vão ao sex shop”, comenta Luciana. “Por isso o mercado se reinventa e vai até elas”, acrescenta.

Na obra, ela coloca o depoimento de 35 mulheres sobre vibradores, cosméticos eróticos, orgasmo feminino, machismo, experiências nas lojas, entre outros temas. Helena Leão / Divulgação / N/ALuciana Walthere – “Existem ainda adjetivos muito ruins que recaem sobre as mulheres que consomem produtos eróticos”

Alerta Aos fabricantes
O livro ainda faz um alerta aos fabricantes. “As clientes reclamam que muitos produtos não as atendem nos quesitos higienização, armazenamento e até descarte”, afirma. 

Mais de 15 mil casais se tornaram clientes do clube de assinatura “Adeus Rotina”

 Entre os pontos positivos dessa mudança de comportamento das mulheres, o principal é o autoconhecimento. 

“Uma senhora descobriu aos 70 anos o que são os grandes lábios, em uma conversa com a consultora. Isso mostra que os produtos têm uma função educativa no que se refere ao conhecimento do próprio corpo”.

Além disso

Pesquisa realizada pela Associação Brasileira das Empresas do Mercado Erótico e Sensual (Abeme) aponta que 68% dos consumidores de produtos sensuais nas lojas físicas são mulheres. Já na venda por catálogo e outros meios mais discretos, o percentual sobe para 90%. 

Engana-se quem pensa que as compradoras são mulheres em busca de prazer solitário. A pesquisa indica que 84% são casadas ou namoram, e a grande maioria está no mesmo relacionamento há três anos ou mais. 

Outra pesquisa realizada por uma empresa de monitoramento de mercado e consumo revelou que as mulheres estão cada vez mais receptivas a inovações durante o sexo e falam mais abertamente sobre o assunto. 

A publicitária Ana Luiza Castro, sócia da Hibou, empresa responsável pela pesquisa, comenta que o levantamento se deu em função da estreia do filme “50 Tons de Cinza”.

“Tendo em vista que 87% das mulheres declararam que já consumiram ou consomem produtos eróticos (como livros, filmes, revistas, óleos, brinquedos e fantasias) é, sem dúvida, uma alteração muito grande no comportamento feminino. Isso mostra mudanças em nossa cultura e uma tendência de, cada vez mais, se impor e colocar suas opiniões e desejos na linha de frente”, pontua.

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